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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Vera Magalhães no Reino de Liliput

 
 
Ganchos de meia: Senhora de pézinhos (2,5 cm) e Peralta (2 cm).
Vera Magalhães (1966-  ).

Minorcas
Uma das questões e porventura das mais simples que se põem ao investigador de barrística de Estremoz é o conhecimento das dimensões dos exemplares estudados, o qual é variável e depende de múltiplos factores. Efectuado o levantamento dessas dimensões nos diversos tipos de Bonecos, põe-se seguidamente a questão de as balizar, o que corresponde a identificar o maior e o menor Boneco conhecidos.
No que respeita ao maior, temos que nos reportar a um Presépio de grandes dimensões, manufacturado por Sabina Santos e que esteve patente ao público, na quadra natalícia, à entrada da Igreja dos Congregados nos anos 60-70 do séc. XX. Este presépio integra o acervo do Museu Municipal de Estremoz e por ordem decrescente de altura, as dimensões das figuras em cm são as seguintes: S. José (58,5), Nossa Senhora (52,2) Reis Magos a cavalo (47), Reis Magos de pé (40), Pastor ofertante de pé (38,5), Berço do Menino Jesus (28), Pastor ajoelhado (24,5), Pastor ofertante ajoelhado (23), Vaca (17), Burro (16,5). Face a estes números somos levados a conclui que o maior Boneco de Estremoz até hoje conhecido é a figura de S. José (58,5 cm), pertencente ao referido Presépio.
No que concerne ao menor, há que começar por dizer que os Bonecos de Estremoz mais pequenos conhecidos até hoje, são os ganchos de meia, correntemente modelados com tamanhos que variam entre os 4 e os 5 cm. Isto era assim até há bem pouco tempo. Todavia, recentemente, Vera Magalhães modelou dois ganchos de meia com dimensões extraordinariamente pequenas: Uma Senhora de pezinhos com 2,5 cm e um peralta com 2 cm. Trata-se de ganchos de meia de uma outra dimensão: a dimensão de Liliput.

Liliputianos porquê?
Lilliput é uma ilha imaginária supostamente situada no Oceano Índico onde terá dado à costa e recuperado os sentidos, Lemuel Gulliver, cirurgião de um navio naufragado, personagem principal do romance “As viagens de Gulliver” de Jonathan Swift (1667-1745).
Gulliver fica surpreendido com a estatura da população local, a qual não ultrapassa os 15 cm. Por sua vez, os liliputianos, consideram-no um gigante.
Tomando como referência a altura média do homem português que é de 1,75 m, os liliputianos eram cerca de 6 vezes mais pequenos que Gulliver.
O termo "liliputiano" foi assimilado pelos dicionaristas a nível planetário e integra o léxico português actual como adjectivo aplicável a algo “Que tem dimensões muito reduzidas”.

Caganifâncias graciosas
Sem sombra de dúvida que os ganchos de meia de Vera Magalhães são verdadeiramente liliputianos, fruto da excelente coordenação motora fina da barrista, que lhe permite modelar com precisão e delicadeza.
Lá diz o adágio “Tudo o que é pequeno tem graça” e “Em terra pequena tudo se sabe”. Daí eu me ter assumido como arauto da excelência destas caganifâncias, parcas em minudências, mas graciosas, tanto na modelação como na cromática.
A partir de agora os ganchos de meia de Vera Magalhães, adquiriram o estatuto de vedetas e entraram por direito próprio no Livro de Registos da Memória Colectiva. O mérito, esse é da barrista.
Parabéns, Vera Magalhães!
 

Agradecimento - Quero agradecer a Isabel Água dos Serviços Educativos do Museu Municipal de Estremoz, ter-me facultado os dados dimensionais, relativos ao Presépio referido no texto. Bem haja!

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