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domingo, 2 de agosto de 2020

Ana das Peles e Sá Lemos


Sá Lemos trocando impressões com Ana das Peles numa sala de aulas da Escola
Industrial António Augusto Gonçalves, em Estremoz. Carlos Alves (1958- ).
Colecção do autor.





A mais recente criação do barrista Carlos Alves intitula-se “Ana das Peles e Sá Lemos”. A obra agora divulgada visa perpetuar no barro a Memória do escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971) que nos anos 30 do séc. XX, atribuiu a si próprio a missão de recuperação da extinta tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz. Visa igualmente perpetuar a Memória de Ana das Peles (1869-1945), velha bonequeira que foi o instrumento primordial dessa recuperação.
Em 1935 os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa ocorrida em Lisboa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris e em 1940 na Exposição do Mundo Português, promovida em Lisboa.
Os Bonecos de Ana das Peles, foram nestas exposições, um ex-líbris de excelência da cidade de Estremoz. Eles foram os melhores embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa identidade cultural local e regional. Eles foram, simultaneamente, a primeira declaração e a primeira prova insofismável de que na nossa terra existiam criadores populares de grande qualidade. Os Bonecos de Estremoz, até então relativamente pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio e muito justamente grande notoriedade pública.
A 19 de Fevereiro de 2020 completaram-se 75 anos sobre a morte de Ana das Peles. A velha barrista partiu, mas os seus bonecos ficaram como imagem de marca da nossa identidade cultural local e transtagana, testemunho e herança de uma época. Os seus gestos de modeladora de sonhos, continuam a ser repetidos, ainda que recriados pelos barristas de hoje. Por isso Ana das Peles é imortal e os Bonecos de Estremoz serão eternos.
Ana das Peles é uma figura que pela sua acção desempenhou um papel de relevo na construção da Memória de Estremoz, pelo que não pode ser olvidada nas páginas da História local.  Daí que o barrista Carlos Alves tenha modelado o conjunto em epígrafe, inspirando-se numa bem conhecida fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988), datada de 1935 e que representa ”Sá Lemos trocando impressões com Ana das Peles numa sala de aulas da Escola Industrial António Augusto Gonçalves”.
Parabéns Carlos por mais este trabalho, que além de homenagear Sá Lemos e Ana das Peles, vem enriquecer e de que maneira, a já vasta Galeria dos Bonecos da Inovação.

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