Figurado de Estremoz – 4
Simbologia do berço dos anjinhos
À semelhança do berço das pombinhas, também o berço
dos anjinhos é revelador da modificação introduzida pelos nossos barristas ao
contexto do nascimento de Jesus. Igualmente decorado com recurso ao azul do
Ultramar e ao ocre amarelo.
O simbolismo
do galo é análogo ao do berço das pombinhas. O galo está ladeado de dois anjinhos,
mensageiros de Deus junto dos homens. Ostentam asas numa alusão clara à
sua capacidade de ascensão aos céus. São em número de dois, já que Jesus Cristo
manifesta dois aspectos: o divino e o humano. Tocam trombeta, instrumento
musical usado para anunciar os grandes acontecimentos históricos e cósmicos. As
trombetas associam aqui o céu e a terra numa celebração única: o nascimento de
Jesus Cristo.
O espaldar do berço está enfeitado com um laço
dourado. Na antiga Grécia existia o costume de atar as imagens dos Deuses com
um laço, para que não abandonassem o local e o povo. No antigo Egipto, o laço
simbolizava a eternidade, pela união entre os deuses e os homens, o céu e a
terra. Por outras palavras, o laço pode ser encarado como um supremo privilégio
de domínio dos deuses. No cristianismo, os laços das vestimentas representam os
três votos: a obediência, a pobreza e a castidade. Modernamente, o laço dourado
é símbolo de promoção do valor da amamentação para a sociedade. A cor dourada
simboliza a amamentação como padrão ouro para a alimentação infantil. Uma
parte do laço representa a mãe e a restante representa a criança. O laço é
simétrico, o que significa que a mãe e a criança são ambos vitais para o
sucesso da amamentação. Sem o nó não haveria laço, pelo que o nó representa o pai,
a família e a sociedade, sem os quais a amamentação não teria êxito. O laço
encontra-se ladeado de folhas de sobreiro com bolotas, numa alegoria ao
Alentejo.
Sobre os arcos, ramos de palma, verdes. Os ramos de
palma simbolizam o martírio de Jesus, uma vez que a palma é considerada um
atributo dos mártires, que na arte cristã ocidental são representados
empunhando um ramo de palma. Esta, desde a época pré-cristã que é considerada
como um símbolo de vitória e de ascensão, pelo que os heróis eram saudados com
ramos de palma ao retornarem vitoriosos das batalhas. Os romanos usaram os
ramos de palma como símbolo de vitória contra os judeus. Estes viriam a reagir,
pelo que de acordo com os quatro evangelhos canónicos, Jesus foi recebido
festivamente com ramos de palma na sua entrada triunfal em Jerusalém. Por isso
a palma veio a ser adoptada pelos primeiros cristãos como símbolo da vitória
dos fiéis sobre os inimigos da alma e é ainda encarada pelos cristãos como
símbolo da vitória na guerra travada pelo espírito contra a carne. Daí que no
Domingo de Ramos, os fiéis transportem ramos de palma abençoados pelo sacerdote
no início da Procissão de Ramos, até à Igreja Matriz. Pelo facto de se manter
sempre verde, a palma encerra em si igualmente um simbolismo associado à
Ressurreição e Imortalidade de Cristo, após o drama do Calvário.
Entre os arcos ogivais, 4 corolas de gerbera que
simbolizam a pureza e a inocência das crianças e aqui do Menino Jesus. Da
esquerda para a direita e em sequência espectral, as cores e o respectivo
simbolismo são sucessivamente: violeta (espiritualidade, mistério e misticismo),
azul (nobreza, harmonia e serenidade), laranja (alegria e vitalidade) e vermelho
(paixão e amor). As corolas são em número de 4, já que para Pitágoras o número
4 era perfeito, pelo que foi o número utilizado para fazer referência ao nome
de Deus. Aquele número está também ligado ao simbolismo da cruz e ao
número de evangelistas que descreveram a vida de Jesus.
A figura do Menino Jesus está deitada de costas em
cima das palhinhas e com o braço esquerdo apoiado no peito, o que tem
interpretação análoga à do presépio das pombinhas. O braço direito encontra-se esticado
ao longo do corpo, com a palma da mão aberta, o que significa que não tem nada
a esconder. Trata-se da mão direita, a mão que abençoa. A palma está virada
para o Céu, simbolizando pacificação e dissipação de todo o medo.
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