Mulher a passar a ferro (Anos 30 do séc. XX).
Ana das Peles [Ana Rita da Silva (1870-1945)].
Colecção particular.
Uma tarefa doméstica
Fruto da sua utilização ou de lavagem, os tecidos de peças
de roupa de vestuário, cama, cozinha, banho ou decoração, ficam enxovalhados e
criam rugas, vincos ou pregas, o que é inestético. Daí que haja necessidade de
os pôr macios e de os alisar. É a chamada operação de “passar a ferro”, a qual
utiliza um utensílio chamado “ferro”, também conhecido por “ferro de passar” ou
“ferro de engomar”. Na Europa, é no séc. XIV que surge a passagem a quente com
ferros maciços, forjados artesanalmente por ferreiros. No séc. XV
popularizam-se os ferros maciços fundidos, que são aquecidos em estufas a
carvão ou nas placas de aquecimento de fogões a lenha. No séc. XVIII são
correntes os ferros ocos a carvão e os ferros ocos com cunha de aquecimento
interno, cujo uso se prolonga até ao séc. XX ou seja até à vulgarização dos
chamados “ferros eléctricos”.
A passagem a ferro é feita sobre uma superfície horizontal
dura e adequada que pode ser dum suporte não especializado como uma mesa ou uma
camilha, ou um suporte especializado como a chamada “tábua de passar a ferro”.
Em meados do séc. XX existia ainda o hábito de determinadas
peças de roupa, tais como punhos, colarinhos e peitilhos de camisas, após lavagem
serem metidos em água com goma e depois de secarem, serem alisados por passagem
a ferro. O termo “engomar” passou então a designar a operação que consistia em
meter em goma, peças de roupa, que posteriormente eram alisadas com um ferro
quente. A mulher que engomava a roupa era conhecida por “engomadeira” e à acção
de engomar chamava-se “engomadura”. Aquilo que se engomava dizia-se “engomado”.
Por extensão de linguagem, passou a designar-se por “engomado”, qualquer tecido
ou peça de roupa que tenha sido passada a ferro.
Nas casas mais ricas havia uma divisão própria para engomar,
a qual era conhecida por “quarto dos engomados”.
Literatura portuguesa
A nível de prosa, a referência literária mais antiga que
conheço relativa a “passar a ferro” e termos relacionados, é de 1862 e aparece
no romance “Coisas Espantosas”, de Camilo Castelo Branco: - ENGOMMAR: Francico
Valdez dirigindo-se ao duque, diz: “Minha filha Mathilde é a providencia da
casa. Como foi educada no collegio inglez, aprendeu a cozinhar, e tomou a si o
encargo da magra panella; as outras meninas cuidam do mais serviço, que pouco
é; umas lavam em alguidares, e outras engommam. Graças ao céo, nenhuma se
queixa.”; - ENGOMMADEIRA: No livro, relativamente à personagem Carolina, é
referido que: “(…) outras, menos generosas em promettimentos, deram-lhe que
fazer trabalhos de costura grossa, e obra de engommadeira. Carolina
aprimorou-se n'este trabalho, e conseguiu alcançar fama de excellente
engommadeira.”.
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