Estremoz (1928).
Paulino Montês (1897-1988).
Pintura a pastel sobre papel
(32,2 x 24,8 cm ).
Museu de José Malhoa,
Caldas da Rainha.
Este é o título de uma peça de teatro de cordel que está a constituir um autêntico êxito popular na nossa urbe transtagana. O enredo desenrola-se há dois séculos atrás, no largo fronteiro à Casa das Leis. Aí se encontram os 4 personagens do auto, assim caracterizados:
- Vasco: Seco de
carnes, enérgico, voluntarioso, permanentemente mobilizado para a intervenção
cívica. Ávido de justiça social, procura despertar consciências. É o arauto dos
novos tempos.
- lérias: Balofo,
avesso à mudança, senhor das suas conveniências, procura não levantar cabelo,
para levar a água ao seu moinho e poder chegar a brasa à sua sardinha.
- Mofina: Avantajada,
sem papas na língua. Quando fala até a terra treme. Predisposta a praguejar
contra a injustiça social. É aquilo a que se chama uma mulher de armas.
- FERNÃo: Não pára
em ramo verde e está quase sempre em movimento de um lado para o outro. Gosta
de ouvir o povo, que vê nele o mensageiro da comunidade e o cronista de
serviço.
Vejamos um resumo da cena única do auto. Fernão junta-se
a Vasco, Lérias e Mofina, que se encontram em animada conversa, frente à Casa
das Leis. Ao chegar, toma conhecimento que Vasco organizou uma Petição a entregar
ao Regedor, visando a regularização da calçada da Rua da Paróquia, que
apresenta covas acentuadas e se encontra parcialmente descalcetada há mais de
um ano. A Petição tem o assentimento de Mofina e o desacordo de Lérias, que não
ligam tal como o azeite com o vinagre.
Graças ao esforço de Vasco, a Petição já foi
subscrita por muitos moradores e frequentadores da Rua da Paróquia. Deles
destacamos: Júlia florista, Jorge estalajadeiro, Milenas que empresta dinheiro
a juros, Tiras carniceiro, Faladeira das roupas, todo o pessoal da Tapanisca,
Baltazar do Crédito Agrário, Pipeta boticário e Tagarela Ourives, bem como pelo
Zé Tretas e pelo sargento Patacão e ainda, reparem bem, pelo cónego Ribeiro.
Entusiasmado
pela defesa da causa nobre em que se empenhou, Vasco proclama:
- A luta continua, até o Regedor
arranjar a rua!
Mofina, fora de si, porque já torceu o pé numa
cova paroquial, grita amotinada:
- O Regedor não pode continuar a
fazer ouvidos de mercador! Basta! Basta! Pim!
Fernão,
consciente dos seus deveres como cronista independente, promete dar eco
daqueles brados, no jornal onde cronista é.
O
auto termina sem se antever o desfecho do enredo.
EPÍLOGO
Qualquer
semelhança com a realidade local é mera coincidência, visto que o auto reflecte
uma realidade de há duzentos anos atrás.
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