Como
Queiras, Amor...
Jorge
de Sena (1919-1978)
Como
queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue
a ti, a tudo me abandono,
seguro
e certo, num terror tranquilo.
A
tudo quanto espero e quanto temo,
entregue
a ti, Amor, eu me dedico.
Nada
há que eu não conheça, que eu não saiba,
e
nada, não, ainda há por que eu não espere
como
de quem ser vida é ter destino.
As
pequeninas coisas da maldade, a fria
tão
tenebrosa divisão do medo
em
que os homens se mordem com rosnidos
de
malcontente crueldade imunda,
eu
sei quanto me aguarda, me deseja,
e
sei até quanto ela a mim me atrai.
Como
queiras, Amor, como tu queiras.
De
frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua
nobreza, essa ternura tépida
quais
olhos marejados, carne entreaberta,
será
só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em
lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não
poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas
como queiras ficaremos vivos.
Será
mais duro que morrer, talvez.
Entregue
a ti, porém, eu me dedico
àquele
amor por qual fui homem, posse
e
uma tão extrema sujeição de tudo.
Como
tu queiras, meu Amor, como tu queiras.
Jorge
de Sena (1919-1978)
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