Páginas

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Rossio Marquês de Pombal - Símbolo de Soberania Popular


Foto de C.J. Walowski (1891).

Um dos maiores espaços comunitários do país, que ao longo dos anos tem assumido particular importância na vida da urbe. Palco de actividades religiosas e de paradas militares, onde se concentravam e donde partiam tropas e onde foi descoberto um cemitério medieval.

Passeio Público
Pavimentado em toda a sua orla por calçada à portuguesa, por onde os estremocenses passeiam, visando manter a forma física e pôr as conversas em dia, “lavando a roupa suja” e “cortar na casaca”, jeitos locais de fazer crítica social e política.
Palco de concertos de bandas filarmónicas, desde a inauguração do Coreto em 13 de Setembro de 1888, quando este passou a animar o Passeio Público, após o encerramento do Convento dos Congregados.

Mercados e Feiras
Diariamente se realiza ali o Mercado que aos sábados atinge o auge. Ali convergem vendedores de concelhos limítrofes e do concelho, alguns dos quais são camponeses da região.
No espaço central junto ao Coreto funcionou o Mercado Abastecedor antes de se vir a fixar no pavilhão actual.
Frente à Câmara sempre decorreu a venda da loiça de barro vermelho, assim como de cestos, alcofas, esteiras, pincéis, vasculhos e escadas de madeira para as fainas agrícolas.
Palco de feiras, como a “Feira de Santiago”, a “Feira de Santo André” (desde 1754), a “Feira de Maio” (desde 1925), a “Feira de Artesanato” (desde 1983) e a “FIAPE” (desde 1986) até ser transferida para o Parque de Feiras.
Palco ainda da “Feira de Gado”, no tempo dos “motores de combustão a palha”, quando a carroça e o trem eram imprescindíveis nas fainas agrícolas e no transporte de pessoas e mercadorias. Ali, negociantes, ciganos, tosquiadores e alveitares eram reis e senhores. Onde hoje é o BES havia um ferrador e mesmo ali ao lado, a “Estalagem do Peúgas”, antiga estação de muda da Mala-Posta do Alentejo, onde se comia, se recolhia gado e se pernoitava com ele.
A Feira das Velharias só ali se instalou depois da urbanização do chamado Campo da Feira.
Frente ao Hospital, vendiam-se queijos e cal branca. Aí, em churriões-taberna, improvisavam poetas populares como o Hermínio Babau e o Jaime da Manta Branca.
Frente aos cafés sempre foi a zona de cavaqueira, onde se encetavam ou rematavam negócios que transitavam pelas mesas e balcões dos cafés limítrofes, entre goles de vinho e garfadas dum petisco de ocasião.
Aos sábados, a animação sonora era feita por Carmo Pequito da Agência APAL, “a palavra mágica da propaganda” e por ali paravam os vendedores da banha da cobra ou vendedores ambulantes como o Painho, fala-barato bastante popular.

Animação variada
Local das Festas à Exaltação da Santa Cruz, de chegada de excursões, de concentrações militares e da Reforma Agrária, bem como de comemoração do 1º de Maio.
Local de aprendizagem de condução de bicicleta e de automóvel, de gincanas e de lançamento de pára-quedistas, de aterragem de helicópteros, de amaragem de balões, de actuação de ranchos folclóricos, bandas filarmónicas, circos e companhias de teatro ambulante.

Memórias de Tempos Idos
A todos, o Rossio e o casario que o emoldura, despertam memórias de tempos idos, nas quais o Rossio, hoje maioritariamente um incaracterístico parque de estacionamento, sempre serviu de sala de visitas e de espaço cívico de festejo e de convívio.
Apesar das vicissitudes e atentados que tem sofrido, o Rossio e com ele o Mercado de Sábado, símbolos de identidade cultural estremocense, permanecem unos e indivisíveis, como símbolos perenes da soberania popular que derrotou nas urnas, aqueles que os queriam retalhar.

Publicado anteriormente em 21 de Maio de 2010
(Publicado também no jornal ECOS, nº 85, de 21 de Maio de 2010)

Foto de C.J. Walowski (1891).
Feira-Exposição de Maio de 1925.
Mercado de sábado (c. de 1940). Foto de Rogério Carvalho.
 
Mercado de sábado (c. de 1940). Foto de Rogério Carvalho.
Mercado de sábado (meados do séc. XX). Foto de Rogério de Carvalho.

Mercado de sábado (c. 1960). Foto de Rogério de Carvalho.

15 comentários:

  1. Parabéns pelo texto.
    Obra a sério, para mim, seria fazer um parque subterrâneo de vários pisos por baixo do Rossio, para que a este fosse dado melhor fim, nomeadamente uma zona de lazer para os estremocenses.
    É uma sugestão assim tão disparatada?
    Abraços

    ResponderEliminar
  2. CARO AMIGO:

    Concordo consigo. Temos que tirar dali os carros, tal como Évora acabou com o estacionamento na Praça do Geraldo. Mas não será com esta Câmara, que tem prioridades noutras direcções, algumas delas respeitáveis. Todavia, não está para aí virada, tal como a anterior, que já lá está. Paz à sua Alma, por isso.
    Daí que a gente tenha que ver quem nos pode valer nesse e noutros sentidos.
    Pela Defesa do Património, contra a degradação e destruição da paisagem urbana, temos que estar vigilantes e meter na ordem, o cimento, os poluidores, os prevaricadores e os seus cúmplices!

    Um abraço do amigo:

    HERNÂNI MATOS

    ResponderEliminar
  3. ainda há pouco tempo escrevi sobre Mercado actual de Sábado, que continua a ser uma prciosidade etnográfica, mais do que económica,
    a nível do país

    abraço

    ResponderEliminar
  4. Tudo me traz muita saudade. A maior parte da minha infância foi vivida ali na vizinha Rua dos Telheiros (1945 a 1956). Muitos cavalos o aludido ferrador capou (assisti) e o resultado disso fôram gostosos petiscos na taberna do Júlio Zé Gato (acompanhando meu pai). A caminho da Escola do Caldeiro, aos Sábados olhava aquelas caixas de maçãs dos feirantes e lá ía eu com água na boca... Acreditem: tinha escola aos Sábados...
    Depois da última e conturbada reforma, não tive oportunidade de olhar o novo visual do Rossio, mas estarei lá no final deste ano para rever a minha querida cidade e os familiares e amigos.
    Daqui dos Trópicos, um caloroso abraço.

    ResponderEliminar
  5. Hernani Matos

    Interessante e saborosa crónica!
    A nostalgia (lições) de outros tempos que as fotos retratam, acentuando. Evidentemente, a modernidade atirou para o esquecimento algo que devia ser preservado, embora adaptado ao tempo pelas entidade competentes. Estou a recordar a Praça Marquês de Pombal que uma foto mostra.
    Daniel

    ResponderEliminar
  6. Um caloroso abraço também para ti, companheiro Cláudio.

    ResponderEliminar
  7. Pronunciei-me sobre esse assunto do estacionamento no Rossio neste artigo: http://advaloremportugal.blogspot.com/2010/01/comentario-no-blogue-nossa-terrinha.html
    Relativamente à Feira de Maio de 1925 fiz referência a ela numa destas últimas reuniões de câmara (em breve disponibilizo a acta em advalorem.antonioramalho.net).

    ResponderEliminar
  8. É verdade o que diz, amigo Platero. Daí a importância do Rossio não ter sido retalhado e a actualidade do meu post.
    Um grande abraço.

    Hernâni

    ResponderEliminar
  9. Amigo Daniel:
    É importante a gente rebuscar o passado, para apontar aos mais novos as raízes da nossa identidade cultural. Porém, há quem não goste que a gente tenha memória. O azar deles é que há tipos como eu que têm memória de elefante.
    Um grande abraço para si.

    Hernâni

    ResponderEliminar
  10. Amigo António Ramalho:
    Os teus comentários são sempre pertinentes e oportunos, não só no teu blog http://advaloremportugal.blogspot.com
    como no blog colectivo
    http://estremoznet.blogspot.com
    que temos ajudado a edificar com a ajuda doutros amigos que intervêem civicamente na blogosfera.
    Confirmo o teu post sobre o estacionamento, do qual me lembro e das propostas que oportunamente fizeste e lancaste a debate.
    A Feira de Maio de 1925 foi paradigmática. E referi-la textual ou imageticamente, é fatal como o destino.
    Um abraço para ti, companheiro:

    Hernâni Matos

    ResponderEliminar
  11. Mais um excelente texto que nos apraz registar e divulgar.

    ResponderEliminar
  12. Sempre na defesa de Estremoz. Continue amigo Hernani Matos!

    ResponderEliminar
  13. Isto é que é um Rossio, dizia-me um amigo pela primeira vez em Estremoz.
    Comigo foi ao contrario...quando conheci outras amostras de Rossio.
    Pra mim, sempre será aquele pequeno deserto no meio de Estremoz, e se alguem quizer fazer mudanças aquela pequena imensidão, nunca terá o meu apoio.Dá-me sempre prazer atravessa-lo seja no sol de verão ou á chuva e frio do inverno de Estremoz

    Rui Alves

    ResponderEliminar
  14. Gostei do seu artigo e concordo con todos os que gostariam de ver o "nosso" grande Rossio limpo de carros, fazendo para isso um parque subterrâneo. Será assim tão difícil e despendioso?.Acho que Estremoz merece um cartão de visita limpo de tanta "lata"

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O meu texto já tem 12 anos, mas as memórias que suscita sobre o Rossio continuam pertinentes.
      Infelizmente temos sido governados a nível municipal por quem nunca teve a visão estratégica de reservar bolsas de terreno, que pudessem funcionar no seu conjunto como alternativas ao estacionamento no Rossio. Torna-se assim cada vez mais difícil prescindir do Rossio como parque de estacionamento.

      Eliminar