São conhecidos diversos tipos de camas
de ferro com a coroa real portuguesa, dos quais os exemplares da Fig. 2 e da fig. 3 são apenas dois.
Com a implantação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910, há uma mudança
de paradigma em múltiplos aspectos da vida social da época. Não admira, pois,
que algum fabricante de camas de ferro, com sentido de oportunidade para o
negócio, tivesse decidido adaptar a sua produção aos novos tempos.
A imagem da Fig. 1 mostra-nos em pormenor
o topo das costas de uma cama de ferro. Em moldura elíptica de orla rendilhada,
está patente uma alegoria republicana. Em primeiro plano, o barrete frígio, símbolo
republicano da liberdade. Em segundo plano, um facho que emite luz, virado para
a esquerda do observador, o qual integra a simbologia maçónica.
Aqueles dois símbolos
conjuntamente quererão significar que “por detrás da República está a Maçonaria”
ou “a República é de inspiração maçónica” ou ainda “por detrás da República
está a ânsia da liberdade”.
O barrete frígio e o facho de luz
estão implantados num campo de flores, que a serem mimosas, simbolizam a
inocência e a pureza, virtudes que na alegoria estarão associadas à República e
à Maçonaria.
Há entre nós, respigadores natos,
farejadores de fino olfacto, guardadores de memórias compulsivos, os quais
deambulam por aqui e por ali, em casas de adelo e mercados de velharias, “em busca do tempo perdido", como diria Marcel Proust. São heróis na maioria
anónimos, muitas vezes com limitados ou mesmo parcos recursos, que a expensas
suas, tomam a iniciativa e a liberdade de trazer à luz do dia, testemunhos e
por vezes despojos do passado, que são importantes memórias materiais indispensáveis
à construção e à explicitação da nossa memória histórica enquanto Povo e da nossa
identidade cultural enquanto Nação.
MUITO OBRIGADO, MANUELA MENDES!
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