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domingo, 5 de maio de 2024

Poesia Portuguesa - 185




Libertação
Papiniano Carlos (1918-2012)

A liberdade ficava para lá
do arame farpado
e do meu corpo fétido, podre,
roído de chagas, cheio de pus,
com olhos cegos de tanta escuridão!

A sentinelas cinzentas espiavam.

Mas que me importavam as sentinelas?

Mal me cabia na boca roxa
a língua cortada, grossa, sarrosa,
quando por ela anunciei
que era LIVRE,
e o meu grito espantoso
pôs um arrepio na nuca
de todos os tiranos.

Pasmaram as sentinelas
e o meu cadáver tombou na terra.

Papiniano Carlos (1918-2012)

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