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terça-feira, 23 de abril de 2024

Poesia portuguesa - 124


 

Vestidos de pedra
Luís Veiga Leitão (1912-1987)

Saber que estão vestidos de pedra
botões de ferro casas de sombra
áspero forro do silêncio

Não basta saber que estão encerrados
num punho de pedra esmagando o sol

Não basta saber É preciso ver
aquém dos olhos adentro da voz
e retratá-lo no sangue
– entre a manhã e a janela
              o pão e a boca
              a parede e a rua
              a mão e a ferramenta

Retratá-los no sangue
é despir-lhes a roupa de pedra
é desabotoá-los da sombra

e livres e verdadeiros
respirá-los no ar nos rios
e tê-los por companheiros

(Não basta saber que estão encerrados
num punho de pedra esmagando o sol)

Luís Veiga Leitão (1912-1987)

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