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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Um benfiquista através do seu cabelo

 

Espelho de bolso, com ilustração alegórica ao Sport Lisboa e Benfica.
Cortesia de PATINE ESTREMOZ 

No princípio da minha juventude, aí pelos anos 60 do século passado, o rock an roll andava no ar e eu usava brilhantina ou brylcreem para modelar o cabelo à Elvis. Nas calças, dentro da carteira, trazia sempre um pentinho e um espelho, para poder compor o cabelo, para o que desse e viesse. O espelho era do Benfica. Pois claro!
Aí pelo Maio de 68, com 20 anos feitos, eu sonhava com as barricadas de Paris e punha-me ao lado de tudo aquilo que elas representavam. O cabelo dava-me então pelos ombros. Não havia pente que entrasse com ele. Passei a usar escova em casa. O pentinho e o espelho passaram à reforma, mas não a alma que continuou a ser benfiquista.
Já depois do 25 de Abril, passei a usar o cabelo mais curto, estilo senhor todo direitinho com os impostos e confissões em dia. É que não quis ser confundido com rapaziada que andava metida nos químicos para fugir ao real e usava o cabelo à Amália Rodrigues. Vermelho por dentro e por fora, continuei a ter o Benfica no coração.
Chegado à terceira idade, menos direitinho que dantes, mas com os impostos em dia e as confissões atrasadas, sou considerado um kota pela rapaziada de agora. A crina branca, sem fartura e a vastidão de outrora, só quer a escova e mais nada. Quanto ao resto: BENFICA, ATÉ DEBAIXO DE ÁGUA!

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