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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Porta Nova era, Porta Nova ficou

 

ESTREMOZ – Largo do General Graça, cerca de 1900. Bilhete-postal ilustrado, edição de
Faustino António Martins, Lisboa. Chapa fotográfica nº 1206. O local foi designado por
Largo da Porta Nova até 1891, ano a partir do qual passou a ser identificado como Largo
General Graça, topónimo que se manteve até 1911, ano em que foi renomeado como
Largo da República.

Mudam os nomes, mas o local continua
Em Estremoz, o actual Largo da República já se chamou Largo General Graça e antes disso Largo da Porta Nova. Quando e porquê ocorreram tais mudanças de nomes? É uma pergunta a que procurarei dar resposta na presente crónica.

Primórdios da Porta Nova
1492 – No fundo da Santa Casa da Misericórdia de Estremoz, depositado no Arquivo Municipal da cidade, existe entre outros, o Livro de Tombo nº 9, contendo as cópias dos termos originais do livro pequeno de pergaminho com o nº 8 e dele transcrito em 30 de Outubro de 1687. Na folha 9, desse livro pequeno de pergaminho, com data de 12 de Novembro de 1492, constava a carta de aforamento que a Confraria da Misericórdia fez a João Bailhão, carpinteiro, de uns lagares que estavam nos arrabaldes das covas (local que viria a ser designado por Terreiro das Covas), à Porta Nova.
Aquela que parece ser a ocorrência mais antiga do topónimo Porta Nova, corresponde ao ano de 1492, no decurso do reinado de D. João II (1481-1495), que tomou a iniciativa de criar novas muralhas que protegessem as localidades fronteiriças das incursões dos espanhóis. O mesmo se havia já passado no reinado de D. Fernando I (1367-1383). Presume-se que a designação Porta Nova, tenha tido origem numa porta aberta nas muralhas então construídas num daqueles reinados, a qual seria a porta mais recente no conjunto de todas as muralhas existentes naquela época. A expansão da vila terá exigido o derrube dessas muralhas mais recentes, mantendo-se, todavia, o topónimo Porta Nova.
1610 – A Irmandade da Misericórdia, instalada na Igreja de São Miguel (ou do Anjo da Guarda) desde 1534, de acordo com alvará de Filipe II, datado de 6 de Fevereiro de 1610, transfere-se para um edifício existente no Terreiro da Porta Nova, actualmente ocupado pela Sociedade Recreativa Popular Estremocense e pela Sociedade Filarmónica Artística Estremocense.
1648 - Devido á falta de pão que havia na vila, foi eleito Manuel Martins Prioste morador da mesma, para ir à cidade de Lisboa comprar 600 mil reis de trigo, que se obrigava a trazer á Porta Nova para ser vendido á ordem do juiz de fora e dos vereadores (Acta da Sessão da Câmara - 23 de Março de 1648).
1689 - Referência à existência de açougues na Porta Nova (Acta da Sessão da Câmara - 29 de Janeiro de 1689).
1766 - É mandada arrematar a venda da pólvora a Francisco Ferreira, tendeiro, morador á Porta Nova (Acta da Sessão da Câmara – 26 de Fevereiro de 1766).
1885 – A Porta Nova está referenciada na planta da vila, executada em 1855 por Frederico Perry Vidal.
1859 - A Rua da Porta Nova consta da Relação dos bairros, ruas, calçadas, terreiros, travessas e largos da vila de Estremoz que compõem a freguesia de Santo André.

Porta Nova com dragonas de General
1891 - É aprovada por unanimidade a proposta do vereador Domingos Joaquim da Silva para que ao Largo da Porta Nova se dê o nome de Largo General Graça, como forma de reconhecimento e homenagem pelos serviços prestados ao concelho pelo General Manuel Vicente Graça, enquanto Director das Obras Públicas do Distrito de Évora (Acta da Sessão da Câmara – 4 de Março de 1891).

E viva a República!
1911 - Foi deliberado que o Largo General Graça passe a ser denominado Largo da República e que o Largo de D. José I, passe a denominar-se Largo de General Graça (Acta da Sessão da Câmara – 13 de Setembro de 1911).
Com a queda da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, tornava-se necessária a afirmação do novo regime. Daí que a nível local tenham ocorrido alterações toponímicas. Entre elas, a aqui referida e que só ocorre após a aprovação da nova Constituição pela Assembleia Constituinte, em 21 de Agosto desse ano.

O peso da tradição oral
A Sociedade Recreativa Popular Estremocense, situada no Largo da República e fundada em 1887, anteriormente à aprovação da designação Largo General Graça (1891), continua a ser popularmente designada como Sociedade da Porta Nova ou simplesmente Porta Nova, o que é revelador do peso da tradição oral. O povo continua a reconhecer-se no topónimo primitivo e inicial, de índole topográfica. Nem um general monárquico nem a República, o fazem esquecer. De resto, a mesma tradição oral regista os provérbios: "O povo é quem mais ordena" e "A voz do povo, é a voz de Deus".

Agradecimentos
Esta crónica não teria sido possível sem o apoio documental do Arquivo Municipal de Estremoz, a quem compete a salvaguarda, valorização e divulgação do espólio documental concelhio, o qual retrata a vida e a história da comunidade e está ao seu serviço.
O Arquivo Municipal de Estremoz conta com uma valiosa equipa de “formiguinhas” que dedicadamente trabalham na sombra, afastadas das luzes da ribalta, assegurando que ele possa cumprir a missão que lhe está atribuída. BEM HAJAM, FORMIGUINHAS!

Publicado no nº 300 do jornal E, de 24 de Novembro de 2011

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