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quarta-feira, 11 de maio de 2022

Fiape 2022 - Fénix renascida das cinzas



Memórias do passado
Assisti em 1983 ao nascimento da I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, bem como ao nascimento da Feira da Agricultura, assim como à fusão de ambas naquilo que se viria a designar por FIAPE e que a dada altura se passou a localizar onde actualmente decorre. No presente ano de 2022, após a interrupção de 2 anos pandémicos, teve lugar a 34.ª edição da FIAPE, o que me levou a retroceder no tempo e a reflectir no que aconteceu de há 39 anos a esta parte. Começarei pela Arte Popular e pelo Artesanato. Falarei depois dos restantes componentes da Feira.

Uma viagem ao passado do Artesanato
A nível local e de 1983 para cá, muitos artesãos do concelho deixaram de estar entre nós. Lembro-me de alguns: - BARRISTAS: Sabina da Conceição, Liberdade da Conceição, Maria Luísa da Conceição, José Moreira, António Lino de Sousa, Quirina Marmelo, Aclénia Pereira, Isabel Carona, Arlindo Ginga, Mário Lagartinho; - OLARIA: A Olaria Alfacinha encerrou definitivamente a sua actividade em 1995. A Olaria Regional de Mário Lagartinho deixou de existir com a morte deste, em 2016; - ARTESÃOS DA MADEIRA, DO CHIFRE E DA CORTIÇA: António Joaquim Amaral, Jacinto Lagarto Oliveira, Joaquim Manuel Velhinho, José Carrilho (Troncho), José Francisco Chagas, Manuel do Carmo Casaca, Roberto Carreiras, Teresa Serol Gomes; – ARTE CONVENTUAL: Guilhermina Maldonado; - PAPEL RECORTADO: Joana e Joaquina Simões; PINTURA SOBRE VIDRO: Natália Alves; TRAPOLOGIA: Adelaide Gomes. A nível local houve ainda quem tivesse cessado a sua actividade, devido ao avanço da idade (Joaquim Carriço (Rolo)) , bem como outros que reconverteram a sua actividade (Miguel Gomes).
De 1983 para cá, que o Município de Estremoz procurou a participação de outras regiões do país, não só para dar conta do que aí se faz em termos de artesanato, como para preencher as lacunas deixadas por artesãos locais que, entretanto, faleceram. Durante estes anos todos, nem sempre o Município tratou da melhor maneira os artesãos que nos visitavam, dos quais muitos deixaram de o fazer, por falta de incentivos locais, acrescidos por vezes, de baixo volume de vendas. Para “aguentar o barco”, o Município foi aceitando participações de índole diversa, algumas de artesanato ou suposto artesanato doutras nacionalidades e outras muito dificilmente enquadráveis naquilo que se convencionou designar por artesanato urbano. Com tudo isto, a Feira de Artesanato perdeu qualidade e a FIAPE desprestigiou-se.

E o resto?
O resto foi indo pouco mais ou menos, mais para menos que para mais, mas lá se foi aguentando.

Os sonhos
"Eu tenho um sonho" (“I have a dream”) confessou o pastor norte americano Martin Luther King, ao defender em 1963, a coexistência pacífica entre negros e brancos. À semelhança do que se passou com aquele líder do Movimento Americano pelos Direitos Civis, também eu tive há muito um sonho. O de que um dia seria possível reverter o caminho para o aniquilamento previsível da Feira de Artesanato. Para isso e a meu ver, bastaria que houvesse vontade política para o fazer, o que exigia a existência de um Executivo Municipal com ganas, estratégia, capacidade e meios para o fazer. Ora isso aconteceu com o actual Executivo Municipal, o qual transporta na lapela, o lema: “VIVE – Viver, Investir, Visitar Estremoz”. Também ele ousou sonhar com determinação de vencer e venceu, uma vez “… / Que o sonho comanda a vida / E que sempre que o homem sonha / O mundo pula e avança… ”, como proclama o poema “Pedra Filosofal” de António Gedeão, imortalizado pela voz e pela guitarra inconfundíveis de Manuel Freire.

Sonhos que se tornam realidade
A Feira de Artesanato retomou este ano a sua primitiva dignidade, facto a que não são estranhas as condições concedidas pelo Município aos artesãos visitantes e à maior participação de barristas de Estremoz.
Por ouro lado, no pavilhão B, destacava-se a presença do stand do Município dedicado às artes do barro. Aí era dada ênfase à vitória da candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade, que muito honrou o Município e dignificou e valorizou o trabalho dos barristas.
No mesmo local, era igualmente divulgada a realização dum Curso de Olaria, orientado por Xico Tarefa, Mestre Oleiro de Redondo, com um estrito respeito pela tipologia, morfologia e tipos de decoração característicos das peças oláricas de Estremoz. Trata-se de um primeiro, mas importante passo do Município no sentido de recuperar a olaria de Estremoz, considerada extinta com a morte de Mestre Mário Lagartinho em 2016.

A FIAPE 2022 no seu todo
A FIAPE deste ano apresentou um atractivo especial que consistiu em as entradas serem livres, só se pagando as entradas nos concertos, o que fomentou o fluxo de visitantes. A Feira conheceu um novo e mais interessante traçado, expandindo-se em área. A componente agro-pecuária da Feira revelou-se forte como nunca, não só em termos de concursos de gado como exposição-venda de maquinaria agrícola. Houve excelentes representações institucionais e de actividades económicas, assim como de restaurantes e tasquinhas. Ao longo dos 5 dias de Feira, houve animação musical no recinto e espectáculos diversificados e de qualidade, no palco de espectáculos, no palco da Feira e no palco do pavilhão B.
A meu ver. a FIAPE 2022 foi uma aposta ganha pelo Município. Com ela ocorreu uma mudança de paradigma. Para além de ser revertida a regressão que vinha grassando, a Feira viu-se catapultada a um patamar situado num nível mais elevado, que aqui apraz registar. Tudo leva a crer que a Feira venha ainda a crescer, reforçando a sua qualidade e importância, de modo a posicionar-se como uma das maiores do país entre as congéneres. MÃOS À OBRA, JÁ!

Publicado no jornal E n.º 289, de 12 de Maio de 2022

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