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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Nova tipologia de olaria enfeitada

 

Fig. 1 - Prato relevado enfeitado. Olaria Alfacinha. Anos 30 do séc. XX.

Adquiri há já algum tempo um prato (Fig. 1 e Fig. 2), cujo estudo revelou ser da maior importância para a barrística de Estremoz.Trata-se de um prato de barro vermelho, circular, de grandes dimensões (38,5 cm x 29, 5 cm x 4 cm), com covo pouco acentuado, de aba levantada e relevada com motivo decorativo em forma de U com a abertura dirigida para o centro do prato, o qual se repete ao longo de toda a extensão da aba. Filete relevado junto ao bordo e à caldeira. Fundo de cor castanha. Decoração do fundo com motivos frutícolas, configurando um ramo de pessegueiro [1] , ao longo do qual se distribuem nove folhas verdes e do qual pendem quatro pêssegos com coloração amarelo esverdeado e avermelhada. Cromaticamente estamos em presença de uma quadricromia castanho – verde – amarelo esverdeado – avermelhado. No tardoz encontra-se gravada a marca de fabrico Tipo 2 - Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“, inscrita numa coroa circular de 2,5 cm e 1,7 cm de diâmetro, com a palavra “PORTUGAL”, ao centro.[2] Esta marca foi já por mim inventariada no texto ”Medalhas de barro de Estremoz”, datado de 12 de Novembro de 2012.[3] É conhecida em medalha com o brasão de armas de Estremoz, datada de 1933. Esta é a data de aposição mais antiga desta marca que conheço, o que me leva a admitir que o prato foi produzido, pelo menos, nos anos 30 do séc. XX. No tardoz observam-se ainda dois orifícios para permitirem a passagem de um fio ou um arame, que permita a suspensão mural do prato.A observação atenta do prato na parte respeitante à aba, permite concluir que a perfeição do relevado é reveladora de que o prato não foi modelado na roda, mas produzido através de molde. A observação cuidada da decoração frutícola do fundo, permite inferir que os seus componentes, frutos e folhas, após serem moldados terão sido fixados com barbutina. O exemplar analisado é uma peça de olaria obtida por moldagem, tal como o candelabro, o castiçal e a palmatória e enfeitada com elementos obtidos por moldagem (frutos e folhas), tal como a cantarinha, o pucarinho, o candelabro e a terrina são enfeitados com elementos obtidos por moldagem (flores e bugalhos).A perfeição da moldagem, tanto na aba do prato como nos componentes frutícolas, leva-me a concluir estar em presença de uma peça erudita com decoração de cunho naturalista. Creio ser legítimo concluir que estamos em presença de mais uma tipologia de olaria enfeitada, apesar de no seu cromatismo não predominarem as habituais cores, zarcão, azul, verde e vermelho, predominantes nas outras tipologias de olaria enfeitada, todas elas de cunho popular. Tal facto não é de estranhar, dada a natureza erudita e naturalista da manufactura.
Termino com estes versos em redondilha maior:

Nota: a olaria enfeitada,
Merece definição,
Já que é bem variada
A sua composição.

[1] Conheço ainda um outro exemplar da mesma tipologia, pertencente a colecção particular, com fundo e aba de cores diferentes daquele que aqui apresentei e em que a decoração frutícola é um ramo de limoeiro.
[2] Existe ainda a marca de fabrico Tipo 1 - Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“, inscrita numa coroa circular de 2,3 cm e 1,4 cm de diâmetro, com a palavra “PORTUGAL”, ao centro.
[3] MATOS, Hernâni. Medalhas de barro de Estremoz. Estremoz, 2012. [Em linha]. Disponível em https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/2012/11/medalhas-de-barro-de-estremoz.html [Consultado em 03 de Fevereiro de 2022].

Hernâni Matos

Fig. 2 - Marca de fabrico Tipo 2 - Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“,
inscrita numa coroa circular de 2,5 cm e 1,7 cm de diâmetro, com a palavra
“PORTUGAL”, ao centro.

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