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domingo, 30 de janeiro de 2022

Redondo, terra de oleiros e de vinho

 

Prato covo, de médias dimensões, com superfície interna de cor creme, de aba
ligeiramente inclinada para o lado de dentro. Decoração esgrafitada e pintada com
base em tricromia verde-amarelo-castanho. Fundo ilustrado com um cacho de uvas
acastanhadas, acompanhadas de duas parras e duas gavinhas em verde. Aba decorada
com sucessivos arcos pintados de verde e cuja concavidade virada para o bordo do
prato, se encontra preenchida a amarelo. Acima da zona em que os arcos verdes se
encontram, situam-se bolas acastanhadas. Mestre Álvaro Chalana (1916-1983).
Colecção particular.

Redondo, terra de vinhos
Tanto quanto sei, são em número de nove, as adegas produtoras de vinho de Redondo: Adega Cooperativa de Redondo, Agrovinaz, Casa Agrícola Santana Ramalho, Casa Relvas, Herdade da Maroteira – Adega, Herdade do Freixo, Sociedade Agrícola Mouchão da Póvoa, Ségur Estates Redondo Winery e Herdade da Candeeira.
Os vinhos da região têm sido distinguidos com alguns dos maiores galardões nacionais e internacionais, fruto da produção vitivinícola utilizar castas de uvas diversificadas, mas com grande capacidade de adaptação aos solos e ao clima da região, o que tem reflexos altamente positivos na produção dos vinhos criados pelos enólogas das diferentes adegas.

Redondo, terra de oleiros
De acordo com o historiador redondense José Calado [4] “A profissão de oleiro é demasiada antiga e existirá naquilo que hoje consideramos concelho de Redondo desde pelo menos 3.000 A.C. Diremos convictamente que desde 1250, altura em quer D. Afonso III lhe terá concedido formação administrativa, que a vila de Redondo tem oleiros a laborar ininterruptamente.”.
A vila de Redondo é famosa pela sua loiça de barro vermelho vidrado, muitas vezes decorada com motivos, que entre muitos outros, são o vinho, a vinha e as uvas, como é o caso do prato da figura.
As uvas, que constituem o motivo central da decoração do prato redondense, integram a nossa literatura de tradição oral como passo a exemplificar.

Adagiário
A língua portuguesa incorpora adágios referentes às uvas, nos quais são salientados alguns aspectos que passo a referir:
- EXCELÊNCIA DAS UVAS DO SUL: Uva do sul, figo do norte.
- SITUAÇÃO A EVITAR NA VINHA: Muita parra e pouca uva.
- RIQUEZA ALIMENTAR: Uvas, figo e melão, é sustento de nutrição.
- SABOR: Uvas, pão e queijo, sabem a beijo.
- AS UVAS SÃO PARA SE COMER: Olhar para a uva não mata a sede.
- CONSELHO: Em passando o São Miguel apanhas uvas e figos por onde houver, mas acautela as costas se o dono lá estiver.
- AVISO - NEM TODAS AS UVAS SÃO BOAS: Uvas verdes, nem os cães as comem.

Gíria popular
A palavra “uva” faz parte de algumas frases idiomáticas que integram a gíria popular. Eis algumas delas:
- Uva passa = A que foi seca ao sol, em forno ou em evaporador.
- Uva passa = Pessoa magra e seca
- Uvas de enforcado - As que pendem das árvores
- Ser uma uva = Ser um amor
- Pôr as uvas em pisa a alguém = Dar-lhe grande sova
- Chão que já deus uvas = Pessoa ou coisa que já perdeu o valor

Epílogo
A cerâmica redondense é património imaterial da vila de Redondo, como são, de resto, a viticultura local e as “falas” que andam na boca do povo. É uma trindade grata às gentes de Redondo.

BIBLIOGRAFIA
[1] - CALADO, José. Redondo Terra de Oleiros. Santa Casa da Misericórdia de Redondo. Redondo, 2013.
[2] - MARQUES DA COSTA, José Ricardo. O livro dos provérbios portugueses (1.ª ed). Editorial Presença. Lisboa, 1999.
[3] - NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias. Lisboa, 1998.
[4] - REDONDO, Município de. Adegas. [Em linha]. Disponível em https://www.cm-redondo.pt/visitante/saborear/adegas/ [Consultado em 29 de Janeiro de 2002].
[5] - SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.

Hernâni Matos

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