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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O galo na cerâmica de Redondo

 

Galo. Álvaro Chalana

OS GALLOS

Sam o relogio do pobre
os gallos madrugadôres,
que ainda a noite nos cobre
já andam eles de amôres.
……………………………………….
Por isso os homens, rendidos
á vigilância dos gallos,
nos campanários erguidos
costumam sempre arvora-los-

António de Monforte in
Tronco reverdecido

Prólogo
O galo é um tema decorativo recorrente na cerâmica de Redondo, tal como o é na Barrística de Estremoz, na cerâmica de Barcelos ou das Caldas da Rainha, bem como na faiança portuguesa antiga. Creio que o peso que aquela ave tem na cultura popular, ajuda a perceber aquela recorrência.

Gastronomia
São conhecidos pratos como: Arroz de galo. Estufado de grão com galo caseiro. Galo à bordalesa. Galo ao vinho. Galo assado à moda da chanfana. Galo assado à moda de Barcelos. Galo assado no forno. Galo capão recheado no forno. Galo caseiro à minhota. Galo de cabidela. Galo estufado. Galo guisado. Galo no forno com laranja.

Adagiário
Dentre o adagiário alectório, respiguei os seguintes espécimenes: Aos afortunados até os galos lhe põem ovos. Galo branco não dá manhã certa. Galo capão é que sai cantando de galinha. Galo loiro dá agoiro. Galo pedrês, não o vendas nem o dês. Galo, quer-se novo. Gavião pega pinto, mas respeita galo. Moço e galo, um só ano. O bom galo não engorda. O galo canta só onde tem morada. O galo, no seu poleiro, é rei. Onde estão galos de fama, não têm pintos que fazer. Onde o galo canta, aí janta. Para doze galinhas basta um galo. Sem galos novos não nascem pintos. Tarde piaste para galo. Todo o galo tem o seu poleiro.

Gíria popular
Destaco as seguintes frases idiomáticas de cunho popular: - Cantar de galo = Assumir atitudes arrogantes por ocupar posição privilegiada; - Ficar para galo de S. Roque = Referência a mulher que não se casa; - Galo = Elevação na testa ou na cabeça produzida por pancada; - Galo = Gomo de laranja (Beira); - Galo = Indivíduo que não dá gorjeta ao barbeiro e ao engraxador; - Galo = Termo que exprime indiferentemente azar ou sorte; - Galo = Variedade de ameixa alentejana; - Galo de rinha = Galo de combate = Pessoa conflituosa = Pessoa brigona; - Galo doido = Homem volúvel = Tresloucado = Cabeça no ar; - Memória de galo = Fraca memória; - Missa do galo = Primeira missa do Natal, celebrada à meia-noite de 24 de Dezembro; - Outro galo cantaria = Expressão usada para sublinhar que, tendo-se verificado determinado facto, os resultados teriam sido muito diferentes; - Salgar o galo = Matar o bicho = Tomar bebida alcoólica pela primeira vez no dia;

Alcunhas alentejanas
No Alentejo, com base em particularidades dos indivíduos, são conhecidos epítetos como: - GALO - Alcunha outorgada a: - indivíduo muito vaidoso (Avis e Borba); - sujeito que anda metido com muitas mulheres (Odemira); - homem que se zangava com facilidade e gostava de se armar em galo (Évora); - alguém considerado muito aéreo (Aljustrel); - indivíduo que se levantava bastante cedo e sempre a cantar (Moura); - alguém que a herdou do avô (Moura); - sujeito que quando estava bêbado, tinha o hábito de gritar: "Olha o galo!" (Redondo); - sujeito que gosta muito de cantar (Estremoz); - indivíduo que está sempre a olhar para as mulheres (Grândola). - GALO BÊBADO - Epíteto atribuído a um indivíduo muito bêbado (Beja); - GALO BRANCO - Denominação aplicada a um sujeito que tem o cabelo branco (Cuba); - GALO CEGO - O visado vê mal (Moura); - GALO MALHADO - O pai do visado, quando este era pequeno, na sequência de um problema de saúde, ficou com manchas, passando a ser designado por "galo malhado", alcunha assumida pelo filho (Mértola). - GALO MARICAS - Alcunha atribuída a um indivíduo efeminado (Moura). - GALO PRETO - O visado, aparvalhado, um dia pôs um galo preto em cima da cabeça (Redondo).

Mitologia popular
Fazem parte do conjunto das crenças e superstições populares a seguintes: - O galo quando canta diz: “Jesus é Cristo.”; - Ao fim de sete anos de estar numa casa, o galo põe um ovo donde sai uma serpente. Se esta olha, primeiro o dono da casa, este morre. Se acontecer o contrário, é a serpente que morre; - Em chegando a velhos, os galos põem um ovo, do qual nasce um sardão, que mata o dono da casa; - Galo que canta como galinha, é mau agouro; - Se os galos e as galinhas cantam muito, é sinal de chuva; - Se um galo canta ao sol-posto, é sinal de morte; - Se os galos cantarem de noite, todas as coisas más se espalham; - É mau agouro um galo cantar antes da meia-noite. Lá diz o provérbio: “Galo que fora de horas canta / Cutelo na garganta.”; - Se os galos cantarem antes da meia-noite, é anúncio de mudança de tempo; - Se um galo canta antes da meia-noite, é sinal de navio à barra, ou que alguma filha foge de casa; - Se um galo canta quatro vezes antes da meia-noite, é sinal de morte; - O canto do galo à meia-noite faz dispersar a assembleia do Diabo e das Bruxas; - Uma pessoa que coma atrás duma porta, cristas de galo assadas, perde o medo; - O galo preto espanta as coisas ruins; - À meia-noite da noite de Natal, na igreja diz-se a missa do galo; - Nos telhados e mas torres das igrejas é hábito pôr um galo de ferro a fazer de catavento;

Epílogo
Creio que a recorrência do galo nos mais diversos domínios da cultura popular, ajuda a perceber o facto der ser igualmente um tema decorativo recorrente na cerâmica de Redondo.

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Galo. Ti Rita.

Galo. Olaria Cabeça.

Escola de Olaria de Redondo.

Galo. Xico Tarefa.

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