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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Hernâni Matos

 

Maria Odete Gato Ramalho. Economista, Professora.
Ex-Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.
 

Antes de aparecer o corpanzil alto, magro e ligeiramente curvado, ouve-se o vozeirão como um rochedo no início de uma derrocada que tudo arrasta. Olhamos uns para os outros com pontos de exclamação no olhar: não há a mínima dúvida de quem se aproxima, é o Hernâni! E é assim, arrastando obstáculos, que põe toda a gente a mexer, seja para uma exposição de selos ou de bonecos de Estremoz, seja para um almoço com poetas populares…

- Preciso que vás dizer uma poesia no evento X. Já falei também com a Fátima Crujo e a Francisca Matos.
Num instante despeja o que tem a dizer. E aquela voz de trovão, mesmo quando sussurrada, apoiada pela expressão séria atrás do bigodinho, que vai mexendo (talvez seja mesmo a coisa menos convincente que possui) não dá margem para dizer que não, mesmo que, por dentro, lhe chame chato. Impõe respeito. Não sei bem como, ou o que provoca tudo isto. Agora que penso nisso, acho que este homem se pode traduzir, antes de mais, talvez antes ainda de ser o filho do bom alfaiate Matos, ou do professor de Físico-Química da minha/nossa querida Escola Secundária, ou do homem que é pai da Catarina e marido da Fátima, o que ali vive, o que domina é uma vontade férrea que o empurra para a frente com força e que lhe dá uma capacidade de trabalho impressionante, que se propaga a tudo o que o rodeia.
Por falar em alfaiate, lembro-me do Hernâni sempre impecavelmente enfarpelado, nos seus fatos completos, de boas fazendas, com gravata e lenço na lapela. Outros tempos. Hoje é a aparência mais descontraída. Mas por dentro continua o mesmo. A escrever, a pesquisar, a dar a conhecer o mais que pode a cultura alentejana e, em particular de Estremoz. enquanto outros apenas choram por tradições perdidas.
Uma cultura ou uma civilização, como um ser vivo, nasce, cresce, vive e morre. Não adianta brigarmos a favor ou contra o progresso. Clamar pela continuação de costumes ou tradições. A mudança é inevitável. E não esqueçamos as desvantagens, a dureza e as injustiças de muitos aspetos da vida antiga, quando recordamos, romântica e nostalgicamente, os trabalhos no campo, as searas a perder de vista, a ardósia para escrever, a bola de trapos de jogar nas ruas, ou as “guerras” à pedrada de partir cabeças, entre os rapazes de antigamente. Que fazer no dilema entre a nossa memória seletiva da parte boa dos “tempos da outra senhora” e o avanço tecnológico? A resposta é clara: antes de mais há que registar para manter a memória, seja ela boa ou má! É com registos que se escreve a História e é ela que julgará o melhor e o pior dos tempos. E é isso que faz este nosso amigo.
Obrigada, Hernâni, por essa teimosia, por esse trabalho incansável que regista e dá a conhecer a nossa cultura alentejana e, em particular, a de Estremoz.
Confinada no espaço, mas com o coração expandido com esperança num mundo melhor, em 4 de fevereiro de 2021,
                                                                      
Maria Odete Gato Ramalho
Lisboa, 4 de Fevereiro de 2021

2 comentários:

  1. Também recordo com saudades o meu vizinho amigi de infância e seus pais abraço deus o abençoe para sempre amen

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