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segunda-feira, 9 de março de 2020

Bodas de Caná da Língua Portuguesa


CUIDADO COM AS PINGAS!
Fig. 1 - RUA DE PARIS EM DIA CHUVOSO (1877). Gustave Caillebotte (1848-1894).
Óleo sobre tela (212,2 x 276,2 cm). Art Institute of Chicago, Chicago, USA.

As letras são sementes donde germinam palavras, que são tijolos com que se arquitectam frases com as quais se constroem textos mensageiros.
Contra o abastardamento preconizado pelo famigerado (des)acordo ortográfico, a Língua Portuguesa luta e resiste com pujança, argúcia e beleza.
A recomendação “Cuidado com as pingas!” é um aviso de que a chuva molha (Fig. 1). Em contrapartida, a expressão “Cuidado com a pinga!” é uma advertência de que o vinho embriaga (Fig. 2). Bastou substituir o plural pelo singular, para que a água se transformasse em vinho. O “s” desempenhou aqui o papel de Cristo nas Bodas de Caná (*). Tal a riqueza da Língua Portuguesa.    

(*) As Bodas de Caná são um episódio bíblico relatado no Evangelho de São João (João 2:1-11), no decurso do qual Jesus transformou a água em vinho, o que é considerado como o primeiro dos seus milagres.

CUIDADO COM A PINGA!
Fig. 2 - OS BÊBADOS ou FESTEJANDO O S. MARTINHO (1907). José Malhoa (1855-1933).
Óleo sobre tela (150x200 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.

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