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quarta-feira, 1 de maio de 2019

Toponímia de Estremoz - Omissões que ofendem


Sá Lemos trocando impressões com Ana das Peles numa sala de aulas da Escola
Industrial António Augusto Gonçalves. Fotografia de Rogério de Carvalho
(1915-1988), publicada no semanário estremocense Brados do Alentejo”
nº 250, de 10 de Novembro de 1935. Arquivo fotográfico do autor.

Em reunião da Câmara realizada no passado dia 3 de Abril, foi aprovada uma proposta da Comissão de Toponímia do Concelho de Estremoz, no sentido de serem atribuídos novos topónimos, assim distribuídos: Estremoz (17), Glória (13), Évora Monte (10), Santa Vitória do Ameixial (3), São Bento do Ameixial (1). Entre os 13 novos topónimos aprovados para Estremoz, figura o nome da barrista Sabina da Conceição (1921-2005), que assim viu a sua memória perpetuada através da atribuição do seu nome a uma rua da cidade, situada no Monte Pistola, junto à antiga passagem de nível.
Até agora a toponímia estremocense já perpetuou o nome dos seguintes barristas: Mariano da Conceição (1903-1959), Sabina da Conceição (1921-2005), Liberdade da Conceição (1913-1990), Maria Luísa da Conceição (1934-2015) e Quirina Marmelo (1922-2009). Todavia, para além deles há outros barristas falecidos que até agora foram esquecidos. São eles:
- Ana das Peles (1869-1945), que em 1935 foi o instrumento primordial da recuperação dos “Bonecos de Estremoz”, efectuada pelo escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971), director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, uma vez que desde 1921 estava extinta a tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz. Em 1935 os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa realizada em Lisboa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris e em 1940 na Exposição do Mundo Português. Nestas exposições, os Bonecos de Estremoz de Ana das Peles, foram o ex-líbris de excelência da nossa cidade e os embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa identidade cultural local e regional. Os Bonecos de Estremoz, até então relativamente pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio, grande notoriedade pública.
- António Lino de Sousa (1918-1982), oleiro da Olaria Alfacinha e discípulo de Mestre Mariano da Conceição, com quem aprendeu a manufacturar Bonecos de Estremoz, a cuja confecção se dedicou em exclusivo entre 1976 e a data do seu falecimento.
- José Moreira (1926-1991), discípulo de Ana das Peles e que foi o barrista que mais contribuiu para a divulgação dos Bonecos de Estremoz. Percorreu o país de lés a lés e não houve feira ou exposição de artesanato a que ele não fosse.
- Aclénia Pereira (1927-2012), que nos anos 40 do séc. XX foi discípula de Mestre Mariano da Conceição na Escola Industrial António Gonçalves e que foi barrista até ao fim da vida, mesmo depois de se ter transferido para Santarém, em cujo distrito foi uma grande embaixadora dos Bonecos de Estremoz.
- Isabel Carona (1949-2006), que foi uma das primeiras discípulas de Mestra Sabina da Conceição e que depois de trabalhar com ela durante dez anos, se fixou em Sarilhos Grandes, Montijo, onde continuou a arte bonequeira.
- Mário Lagartinho (1935-2016), o último oleiro de Estremoz, que como barrista confeccionou Bonecos de Estremoz nos anos 70-90 do século passado e que pela sua acção continuou a cadeia de transmissão de saberes.
- Arlindo Ginja (1938-2018), discípulo de Mário Lagartinho, que conjuntamente com seu irmão Afonso exerceu o mester durante 32 anos, até se aposentar em 2011.
A atribuição de um nome a uma rua, corresponde ao reconhecimento do mérito daqueles que com o seu exemplo e esforço, contribuíram para a edificação do presente. Desde 7 de Dezembro de 2017 que a manufactura de Bonecos de Estremoz está inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tal inscrição só foi possível porque a tradição foi recuperada com Ana das Peles e continuada por aqueles que lhe sucederam no tempo. Daí que todos os barristas falecidos devam ser contemplados com a atribuição do seu nome a uma rua da cidade. Não é aceitável é que se atribuam nomes de ruas da cidade só a alguns, omitindo os restantes. São omissões que ofendem a sua memória, já que cada um deles à sua maneira, contribuiu para que a manufactura de Bonecos de Estremoz esteja actualmente inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. É caso para dizer, que não podem uns ser filhos e os outros enteados.

Estremoz, 25 de Abril de 2019
(Jornal E nº 222 – 02-05-2019)


Senhora de pézinhos.
Ana das Peles (1869-1945).
Arquivo fotográfico do autor.
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