António Sardinha (1887-1925)
Político, historiador e poeta, natural de Monforte
– OBRA POÉTICA: - Quando as
Nascentes Despertam (1821); - Tronco
Reverdecido (1910); - Epopeia da Planície
(1915); - Na Corte da Saudade (1922)
- Chuva da Tarde (1923); - Era uma Vez um
Menino (1926); - O Roubo da
Europa (1931); - Pequena Casa Lusitana (1937).
O elogio do púcaro
Tu és a minha companha,
eu tenho-te á cabeceira
ó pucarinho de barro,
enfeite da cantareira.
Amigo certo e sabido,
matas a sede e o calor.
Tu vales mais do que pesas,
não se te paga o valor!
Meu bocadinho de barro,
chiando como um cortiço,
tu dás-te com toda a gente,
não te deshonras por isso!
Prantas a agua fresquinha,
sem ti não passa ninguem.
Mimo de reis e de bispos,
não custas mais que um vintem!
Assim, singelo e sem pompa,
ganhaste fama a Estremoz.
Ah, desgraçado daquele
que nunca a bôca te pôs!
És a cubiça das velhas,
contigo se enche um mercado.
Então a vista que metes,
quando tu és empedrado?!
Quero casar-me. Já tenho
dois pucarinhos pequenos.
Pois, p'ra principio de arranjo,
outros começam com menos!
- Amor, se fôres á feira
traz-me uma prenda galante.
Não tragas nada do ourives,
- um pucarinho é bastante!
Vae alta a febre, vae alta,
- p'ra que é que os médicos são?
Ó pucarinho de barro,
acode a esse febrão!
Eu nunca vi neste mundo,
que é gastador e que é louco,
coisa que tanto valesse,
mas que custasse tão pouco!
Assim, singelo e sem pompa,
tu déste fama a Estremoz !
- Ah, desgraçado daquele
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