A cunha está na ordem do dia. Porque se trata dum
termo susceptível de interpretação bivalente, merece ser analisado à lupa.
A cunha em si própria
A cunha é uma máquina simples que consiste numa
peça de aço ou madeira rija, terminada em ângulo diedro muito agudo e que se
introduz à força pela aresta correspondente ao ângulo diedro mais agudo, entre
as partes dum mesmo corpo que se querem separar. As cunhas permitem fender ou
dividir corpos sólidos como madeiras ou rochas, aproveitando sempre que
possível quaisquer sulcos, fendas ou veios que aquelas apresentem. Na prática,
uma cunha é um duplo plano inclinado transportável, cujo funcionamento obedece
ao mesmo princípio do plano inclinado. Ao mover-se no sentido da sua
extremidade afilada, a cunha
gera forças intensas na direcção perpendicular ao sentido do movimento. A cunha
é a base de todas as ferramentas de corte usadas no trabalho de materiais, como
o formão, o escopro, o machado, o ferro da plaina, os pregos, as lâminas das
facas e das tesouras.
Enquanto máquinas simples, as cunhas estão
registadas no adagiário português: “Com cunhas se racham pedras” e “Se não
fossem as cunhas, não se rachavam paus”. Na gíria popular, “ À cunha” significa
“Completamente cheio”. Em termos de toponímia, “Cunha” é topónimo aplicável a
lugares de freguesias e freguesias, havendo ainda que distinguir entre “Cunha
Alta”, “Cunha Baixa” e “Cunhas”. O anexim “Cunha” aparece também no contexto
das alcunhas alentejanas. A nível de antroponímia, “Cunha” é um sobrenome
português e galego de origem toponímica, documentado desde o século XIII e
aplicável a inúmeras pessoas notáveis. No que respeita a heráldica, “Cunha” é
uma figura heráldica em forma de cunha, o conhecido utensílio dos rachadores
de lenha, o qual só figura nas armas das famílias com este nome e é
representável por um trapézio isósceles com a base virada para cima. Da
heráldica dos “Cunha”, muito haveria a dizer, mas que se omite, não por
preconceito republicano, mas por real falta de espaço.
A cunha em sentido figurado
Na gíria popular, a palavra “cunha” é usada como
sinónimo de “tráfico de influências”. Meter uma cunha” significa “Pedir o favor
de uma pessoa influente” e “Ter uma cunha” é “Contar com a protecção de uma
pessoa influente”. Daí, que com tal sentido, esteja registada no adagiário
português: “Para lá da Gardunha só te safas com uma cunha”. É caso para
perguntar:
- E na nossa
terra?
A resposta é óbvia:
- Estamos
para lá da Gardunha. Existe uma instituição chamada “cunha”!
Diz-nos o adagiário português que, embora haja quem
pense que “Um favor qualquer um faz”, isso não exclui a presunção de que
“Favores alegados, pagos estão”, bem como “De grandes senhores, grandes
favores”, os quais não os farão indiscriminadamente, já que “Favor ao comum,
favor a nenhum”.
Há quem diga que isto está a mudar. Eu tenho
bastantes dúvidas, já que “A dúvida é a sala de espera do conhecimento” e “Quem
duvida não se engana”.
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