Aguadeiro (Anos 30 do séc.
XX).
Ana das Peles [Ana
Rita da Silva (1870-1945)].
Museu Nacional de Etnologia.
Museu Nacional de Etnologia.
Figurado de Estremoz - 1
No núcleo base do figurado de Estremoz existe um
exemplar conhecido por “Aguadeiro”, criado na Escola Industrial António Augusto
Gonçalves, nos anos 30 do séc. XX, executado por Ana das Peles e Mariano da
Conceição e a partir daí, manufacturado pelos barristas que se lhesseguiram.
Trata-se de um conjunto constituído por uma figura antropomórfica masculina (o
aguadeiro) e uma figura zoomórfica (o burro).
Merece especial descrição, o espécimen de Ana das
Peles, pertencente à colecção do Museu Nacional de Etnologia. Representa um
aguadeiro trajando à maneira de meados do séc. XX, com a mão esquerda apoiada
no burro e a mão direita empunhando uma vara de condução do animal. Na cabeça,
dois pontos negros representam os olhos, encimados por dois traços castanhos
que figuram as pestanas e as sobrancelhas. O nariz em relevo, tem a forma de
prisma triangular e a boca é interpretada por uma linha vermelha. Em cada uma
das faces é visível uma roseta alaranjada. O cabelo é castanho-escuro e encobre
as orelhas. Na cabeça, um chapéu negro com copa semi-esférica e aba circular,
larga e revirada lateralmente. A figura enverga calças e samarra de cor
castanha, com gola azul em relevo e guarnecida com orla da mesma cor, nos
punhos e na abertura da frente, a qual ostenta de cada lado, um par de botões
semi-esféricos, cor de latão. A samarra apresenta ainda nos punhos, dois botões
pintados a azul. Os botins são castanhos.
À frente do homem, um burro cinzento-escuro e com
manchas negras, que estando a marchar para o lado direito do observador,
apresenta a cauda, comprida e com linhas incisas, viradas para o lado
contrário. O pescoço apresenta em cada um dos lados, uma série de incisões
pintadas a negro que representam a crina. Na cabeça, são visíveis duas orelhas
cónicas, dois olhos pintados, uma linha incisa de cor vermelha que figura a
boca e dois pontos incisos que lhe são paralelos, representando as narinas. Na
cabeça aparece linhas de cor negra que representam a cabeçada que cinge a cabeça
e o focinho da cavalgadura, bem como as rédeas para a condução da mesma. No
lombo do asinino está assente uma manta rectangular castanha, na qual se apoia
uma albarda, igualmente castanha, pintalgada de azul. Sobre a albarda está
disposta uma cangalha de tonalidade amarela, figurando madeira. Nesta armação
estão alojados de cada lado do jumento, dois cântaros com tampa, de cor
prateada configurando folha metálica e com uma asa constituída por um porção
arqueada de arame.
O binómio homem-animal assenta numa base
trapezoidal de cor verde, pintalgada de branco, amarelo e zarcão e pintada
lateralmente desta mesma cor.
Hernâni Matos
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