Mulher a passar a ferro (2013).
Jorge da Conceição (1963- ).
Colecção particular.
Literatura portuguesa
(Continuação)
Outras referências literárias antigas, remontam a 1878, são
devidas a Eça de Queirós e figuram no romance “O Primo Basílio”: - ENGOMADEIRA:
“Jorge ria: — Coitada, é uma pobre de Cristo! — E depois que engomadeira
admirável! No ministério examinavam com espanto os seus peitilhos! — O Julião
diz bem: eu não ando engomado, ando esmaltado! Não é simpática, não, mas é
asseada, é apropositada...”; - GOMA: “Os coletes não estavam prontos, disse com
uma voz muito lisboeta; não tivera tempo de os meter em goma.”; - ENGOMAR: “— A
senhora sempre quer que engome os coletes todos?”; - FERRO DE ENGOMAR: “Tinha
agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se lhe
embrulhava o estômago.”; - ENGOMADA: “E a alta figura de Acácio adiantou-se,
com as bandas do casaco de alpaca deitadas para trás, a calça branca muito
engomada caindo sobre os sapatos de entrada baixa, de laço.”; - QUARTO DOS
ENGOMADOS: “Subiu pé ante pé para o sótão, pôs o fato de casa e as chinelas, e
desceu para o quarto dos engomados, onde Joana sentada num tapete costurava, à
luz do petróleo.”.
Posteriormente, em 1888, na obra “Os Maias”, Eça de Queirós
volta a abordar a operação de “passar a ferro”, através de termos com ela
relacionados: - ENGOMADO: “Quando Craft d'alli a pouco desceu, de casaca,
fresco, alvo, engommado, correcto - achou Carlos, ainda com toda a poeira da
estrada, de chapéo na cabeça, passeando o quarto, n'esta agitação radiante.; -
ENGOMADEIRA: “Foi um encanto para Carlos quando Maria o associou ás suas
caridades, pedindo-lhe para ir ver a irmã da sua engommadeira que tinha
rheumatismo, e o filho da snr.ª Augusta, a velha do patamar, que estava
tisico.”.
Já no séc. XX, em 1919, em “Terras do Demo” de Aquilino
Ribeiro, é dito que: “Na véspera, as raparigas tinham-se vestido de madamas com
as melhores saias de folhos, brunidas ao ferro”. Posteriormente, em 1927, em “A
Planície Heróica” de Manuel Ribeiro, é referido que: “…a menina Conceição,
muito alegre e viva, entregue à sua lida de passar a roupa a ferro.”
A nível de poesia, em 1887, em “O livro de Cesário Verde”, o
poeta utiliza igualmente termos relacionados com o acto de passar a ferro: -
ENGOMAR: “Sentei-me á secretaria. Alli defronte mora / Uma infeliz, sem, peito,
os dois pulmões doentes; / Soffre de falta d'ar, morreram-lhe os parentes / E
engomma para fóra.”; - ENGOMADEIRA: “E estou melhor; passou-me a colera. E a
visinha? / A pobre engommadeira ir-se-ha deitar sem ceia? / Vejo-lhe luz no
quarto. Inda trabalha. É feia... / Que mundo! Coitadinha!”.
Também
Fernando Pessoa, em “Álvaro de Campos - Livro de Versos “(1933) nos fala
do acto de engomar: “Ah o som
de abanar o ferro da engomadeira / À janela ao lado da minha infância
debruçada! / O som de estarem lavando a roupa no tanque! / (…)”. No âmbito do
cancioneiro popular é bem conhecida a quadra: “Já passei a roupa a ferro / Já
passei o meu vestido / Amanhã vou-me casar / O Manel é meu marido.”
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