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terça-feira, 5 de abril de 2016

46 - Mulher a passar a ferro - 2


Mulher a passar a ferro (2013).
Jorge da Conceição (1963- ).
Colecção particular.

Literatura portuguesa (Continuação)
Outras referências literárias antigas, remontam a 1878, são devidas a Eça de Queirós e figuram no romance “O Primo Basílio”: - ENGOMADEIRA: “Jorge ria: — Coitada, é uma pobre de Cristo! — E depois que engomadeira admirável! No ministério examinavam com espanto os seus peitilhos! — O Julião diz bem: eu não ando engomado, ando esmaltado! Não é simpática, não, mas é asseada, é apropositada...”; - GOMA: “Os coletes não estavam prontos, disse com uma voz muito lisboeta; não tivera tempo de os meter em goma.”; - ENGOMAR: “— A senhora sempre quer que engome os coletes todos?”; - FERRO DE ENGOMAR: “Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estômago.”; - ENGOMADA: “E a alta figura de Acácio adiantou-se, com as bandas do casaco de alpaca deitadas para trás, a calça branca muito engomada caindo sobre os sapatos de entrada baixa, de laço.”; - QUARTO DOS ENGOMADOS: “Subiu pé ante pé para o sótão, pôs o fato de casa e as chinelas, e desceu para o quarto dos engomados, onde Joana sentada num tapete costurava, à luz do petróleo.”.
Posteriormente, em 1888, na obra “Os Maias”, Eça de Queirós volta a abordar a operação de “passar a ferro”, através de termos com ela relacionados: - ENGOMADO: “Quando Craft d'alli a pouco desceu, de casaca, fresco, alvo, engommado, correcto - achou Carlos, ainda com toda a poeira da estrada, de chapéo na cabeça, passeando o quarto, n'esta agitação radiante.; - ENGOMADEIRA: “Foi um encanto para Carlos quando Maria o associou ás suas caridades, pedindo-lhe para ir ver a irmã da sua engommadeira que tinha rheumatismo, e o filho da snr.ª Augusta, a velha do patamar, que estava tisico.”.
Já no séc. XX, em 1919, em “Terras do Demo” de Aquilino Ribeiro, é dito que: “Na véspera, as raparigas tinham-se vestido de madamas com as melhores saias de folhos, brunidas ao ferro”. Posteriormente, em 1927, em “A Planície Heróica” de Manuel Ribeiro, é referido que: “…a menina Conceição, muito alegre e viva, entregue à sua lida de passar a roupa a ferro.”  
A nível de poesia, em 1887, em “O livro de Cesário Verde”, o poeta utiliza igualmente termos relacionados com o acto de passar a ferro: - ENGOMAR: “Sentei-me á secretaria. Alli defronte mora / Uma infeliz, sem, peito, os dois pulmões doentes; / Soffre de falta d'ar, morreram-lhe os parentes / E engomma para fóra.”; - ENGOMADEIRA: “E estou melhor; passou-me a colera. E a visinha? / A pobre engommadeira ir-se-ha deitar sem ceia? / Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia... / Que mundo! Coitadinha!”.
Também Fernando Pessoa, em “Álvaro de Campos - Livro de Versos “(1933) nos fala do acto de engomar: “Ah o som de abanar o ferro da engomadeira / À janela ao lado da minha infância debruçada! / O som de estarem lavando a roupa no tanque! / (…)”. No âmbito do cancioneiro popular é bem conhecida a quadra: “Já passei a roupa a ferro / Já passei o meu vestido / Amanhã vou-me casar / O Manel é meu marido.”

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