Igreja de
Santo André com as suas duas torres sineiras (Foto de C. J. Walowski - 1891).
Situada
na Rua 5 de Outubro, em Estremoz, no local onde hoje está o Palácio da Justiça.
Muito rica e imponente no seu estilo
barroco, foi sede de Paróquia. A sua construção
iniciada em 1705, levou 20
anos, tendo sido inaugurada em 26 de Novembro de 1725.
Foi demolida em 1960,
por ordem do regime de Salazar, o que foi sem sombra de dúvida,
o maior crime alguma
vez perpetrado contra o património construído em Estremoz.
Velhos
Tempos
O som dos sinos é um dos sons mais
antigos que povoam as memórias da minha infância. Quando frequentava a Escola
Primária, tanto o início das aulas como da missa dominical eram anunciadas por
toques de sinos.
Ao longo dos séculos os sinos têm sido
utilizados como alfaias religiosas que assinalam os actos litúrgicos, dão as
horas e funcionam como meio de comunicação, tocando a rebate a fogo e
anunciando desastres como naufrágios, bem como reuniões de conselhos de anciãos
ou de câmaras, assim como reunindo o povo para trabalhos agrícolas ou batidas a
lobos.
Os sinos distinguem-se uns dos outros
pelo modo como se exprimem: variando a altura, a intensidade e o timbre, assim
como a duração, o ritmo e o compasso do som.
As técnicas de percussão sineira
incluem: picar, repicar, badalar, bater, rebater, tanger, destanger, bambolear,
bandear e dobrar. Através delas podem ser gerados códigos acústicos entendíveis
pela comunidade: canto em ocasiões de festa e choro em momentos de dor.
Literatura Oral
O sino encontra-se abundantemente
registado na nossa literatura de tradição oral. Assim, a nível de
ADAGIÁRIO, diz-se: “Menino e sino só com pancada”, “O sino chama para a missa
mas não vai a ela”, “Os sinos tangem-se pelos mortos e não pelos vivos”, “Quem
toca o sino não acompanha a procissão”, “Sino forte, vento húmido”, “Sino
pequeno berra muito”. No campo da GÍRIA POPULAR são conhecidas expressões como:
Andar num sino (Andar contente), Sino
(Copo de vinho), Sino
da Sé (Copo de litro para vinho, usado nas tabernas do Porto), Sino de correr (Toque que marcava a hora de fechar as tabernas e
recolherem a casa, judeus e mouros), Sino grande (Pena máxima aplicada ao
réu). No âmbito das LENGALENGAS são conhecidas diversas, entre as quais esta: “Amanhã
é Domingo / Toca o sino / O sino é de ouro / Mata-se o touro / O touro é bravo
/ Ataca o fidalgo / O fidalgo é valente / Defende a gente / A gente é fraquinha
/ Mata a galinha / Para a nossa barriguinha”. Quanto a ADIVINHAS, existem várias
cuja solução óbvia é o sino. Eis uma: "Alto está, / alto mora, / todos o veem,
/ ninguém o adora./ O que é? ".
Literatura Portuguesa
Em prosa, a referência literária mais
antiga relativa a sinos remonta a Portugaliae Monumenta Historica (870). Posteriormente
surge em António Tenreiro – Itinerário (1560), Frei Pantaleão de Aveiro –
Itinerário da Terra Santa (1593), Frei Gaspar de São Bernardino – Itinerário da
Índia por Terra (1611), Fernão Mendes Pinto – Peregrinação (1614) e mais tarde
ainda em Eça de Queirós - O Primo Basílio (1878), Camilo Castelo Branco - A
Maria da Fonte (1885) e Ramalho Ortigão – As Farpas – I (1887). Na poesia,
entre os inúmeros poetas que falam de sinos, destacamos: Luís de Camões - Os
Lusíadas (1572), António Nobre – Os sinos (1892), António Correia de Oliveira –
O sino (1899), Fernando Pessoa - Ó sino da minha aldeia (1913), Florbela
Espanca - Noite trágica (1923) e António Lopes Ribeiro – Procissão (1956).
Tempo Novo
A Constituição da República Portuguesa
consigna como direitos fundamentais, o direito à diferença e a igualdade de
género. Daí que sob o ponto de vista social, não faça qualquer sentido
existirem dois toques distintos, conforme o finado é homem ou mulher. Trata-se
de uma questão que a Igreja deve rever, já que ela própria nos leva a crer que
aos olhos de Deus todos são iguais. Quanto ao comum dos mortais não interessa
saber se morreu homem ou mulher, mas apenas quem foi que partiu e isso os sinos
não dizem.
Gostei deste trabalho!
ResponderEliminarMaria:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Os meus cumprimentos.