Não creio nesse Deus
António Aleixo (1899-1949)
I
Não
sei se és parvo se és inteligente
—
Ao disfrutares vida de nababo
Louvando
um Deus, do qual te dizes crente,
Que
te livre das garras do diabo
E
te faça feliz eternamente.
II
Não
vês que o teu bem-estar faz d'outra gente
A
dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E
tu não queres p'ra ti o céu e a terra..
—
Não te achas egoísta ou exigente?
III
Não
creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta,
dos beatos, confissões;
Não
posso crer num Deus que se maneja,
Em
troca de promessas e orações,
P'ra
o homem conseguir o que deseja.
IV
Se
Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem
cumpre esse dever por que receia
As
iras do divino padre eterno?...
P'ra
esses é o céu; porque o inferno
É
p'ra quem vive a vida à custa alheia!
António Aleixo (1899-1949)
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