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sábado, 14 de novembro de 2015

Poesia Portuguesa - 049



Alentejo
Manuel Alegre (1936-  )

Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo
Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul
Outro é o tempo
Outra a medida

Tão grande a página
Tão curta a escrita

Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo

Tanto país
E tão pouco
Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum

À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia

Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia

Manuel Alegre (1936-  )

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