Senhora a servir o chá.
José Moreira (1926-1991).
Colecção particular.
José Moreira - Marca Tipo
6. Carimbo:
FABRICANTE DE BONECOS
JOSÉ MOREIRA
RUA DO NINE, 12
ESTREMOZ
PORTUGAL
A presente crónica corresponde a uma
história que passo imediatamente a contar e que poderia ter tido um desfecho
diferente. Numa das minhas incursões pela internet à procura de bonecos de
Estremoz antigos e disponíveis para venda, fui parar aos leilões eBay, onde um
vendedor americano tinha à venda dois exemplares do figurado de Estremoz:
“Senhora a servir o chá” (cuja imagem reproduzo) e “Pastor das migas”, com o
preço de partida conjunto, de 9,99 dólares, o que corresponde a cerca de 8,95
euros. Dado que não estou inscrito no eBay, contactei por email um amigo
português que me costuma desenrascar nestas andanças. Como se encontrava na
Roménia em viagem de trabalho, fez a licitação de lá. Porém, o automatismo do
eBay ao reconhecer o endereço IP do computador como português, bloqueou o
acesso do meu amigo, considerando tratar-se de uma intrusão local no seu email.
O meu amigo ainda hoje não tem acesso ao eBay e eu fiquei sem aquelas figuras,
as quais foram arrematadas pelo preço de partida (portes excluídos). As peças
eram ambas da autoria de José Moreira (1926-1991). A “Senhora a servir o chá”,
tal como alguns dos exemplares de Mariano da Conceição (1903-1959), ostenta na
cabeça uma canoa, antigo pente de ornato para senhoras. Todavia ao contrário do
que era corrente em Mariano, a mesa de pé de galo não tem dois pés virados para
a frente, mas apenas um, tal como era usual em
Ti Ana das
Peles [Ana Rita da Silva (1870-1945)], com quem José Moreira se iniciou
na arte bonequeira. Para além disso e ao contrário das figuras de Mariano, o
açucareiro está do lado esquerdo da senhora e as chávenas, que se encontram
alinhadas à frente, encontram-se invertidas sobre os pires. Na base do
figurado, uma marca de autor de José Moreira, até agora não catalogada e que
não figura no rol das inventariadas na minha crónica “28 – O meu amigo José Moreira”. Passarei a designar essa marca por Tipo 6 -
Carimbo FABRICANTE DE BONECOS/JOSÉ MOREIRA/RUA DO NINE,
12/ESTREMOZ/PORTUGAL, com a marca distribuída por 5 linhas, ocupando uma
superfície que não consigo determinar a partir da imagem recolhida na internet.
O chá regista presença na nossa
literatura de tradição oral. A nível de ADAGIÁRIO saliento: “Café de cima,
vinho do meio e chá do fundo”, “Café do primeiro e chá do derradeiro”, “O chá
de benefício é a véspera da ingratidão”. Na GÍRIA POPULAR, são conhecidas
expressões como: Chá à inglesa (Chá servido com leite), Chá dançante (Baile que
começa à tardinha e dura até alta noite, sem traje de cerimónia), Chá de bico
(Clister), Chá de cadeira (Diz-se que o bebe a mulher que espera que a venham
convidar para dançar), Chá de parreira (Vinho), Chá de Tolentino (Tema tão
discutido que se torna enfadonho), Dar chá (Gracejar), Dar um chá (Repreender),
Dar uma colher de chá (Apoiar), Falta de chá (Falta de educação), Não ter
tomado chá em criança (Não ser bem-educado), Tomar chá de sumiço (Diz-se de
coisa ou pessoa que se afasta do seu local usual). A nível de ADIVINHAS, apenas
conheço esta: “O que é, o que é, / Diz-me já:/ Faz-se no bule, / Chama-se chá”.
Quanto a ALCUNHAS ALENTEJANAS, assinalo: CHÁ - Alcunha outorgada a pessoas que
apreciam muito beber chá (Castro Verde, Moura e Santiago de Cacém); CHÁ PRETO –
O visado adquiriu este epíteto devido a ter a pele muito escura (Campo Maior e
Moura).
Na LITERATURA PORTUGUESA, o consumo de
chá foi abordado por autores dos quais sobressaem: Almeida Garrett (Viagens na Minha
Terra - 1846), Camilo Castelo
Branco (Romance dum Homem Rico - 1861) e Eça de Queiroz (O Primo Basílio – 1878
e Os Maias -1888).
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