Poema
de Amor
Fernando
Namora (1919-1989)
Se
te pedirem, amor, se te pedirem
que
contes a velha história
da
nau que partiu
e
se perdeu,
não
contes, amor, não contes
que
o mar és tu
e
a nau sou eu.
E
se pedirem, amor, e se pedirem
que
contes a velha fábula
do
lobo que matou o cordeiro
e
lhe roeu as entranhas,
não
contes, amor, não contes
que
o lobo é a minha carne
e
o cordeiro a minha estrela
que
sempre tu conheceste
e
te guiou — mal ou bem.
Depois,
sabes, estou enjoado
desta
farsa.
Histórias,
fábulas, amores
tudo
me corre os ouvidos
a
fugir.
Sou
o guerreiro sem forças
para
erguer a sua espada,
sou
o piloto do barco
que
a tempestade afundou.
Não
contes, amor, não contes
que
eu tenho a alma sem luz.
...Quero-me
só, a sofrer e arrastar
a
minha cruz.
Fernando
Namora (1919-1989)
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