O
Leão e o Porco
Bocage
(1765-1805)
O
rei dos animais, o rugidor leão,
Com
o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis
empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A
quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe
alta dignidade, e rendas competentes,
Poder
de despachar os brutos pretendentes,
De
reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E
assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas
em vão, porque o porco é bom só para assar,
E
a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe
a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam
contra ele injúria sobre injúria
Os
outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora
o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E
ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava
muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos
filhos para o génio olhai com madureza;
Não
há poder algum que mude a natureza:
Um
porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O
faça cortesão pelos seus vãos caprichos.
Bocage
(1765-1805)
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