CEIFA NOS
CAMPOS DE ESTREMOZ (Anos 30 do séc. XX).
Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988).
Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988).
Ceifeiros
Francisco
Bugalho (1905-1949)
Estes
ceifeiros não são
Os
ceifeiros do Fialho.
Têm
braços, mãos, almas duras,
Têm
fogo no coração,
Têm
amor ao seu trabalho,
Por
ser trabalhar no pão.
Estes
ceifeiros não são
Grilhetas,
são orgulhosos
De
darem, ao mundo, pão;
Porque
são eles que o dão
A
pobres ou poderosos.
Está
hoje vento suão.
Está
quente, - oh, gentes! Está quente!
Vamos
lá, outro empurrão!
Não
vá desgranar-se o grão...
-
E a fila marcha prá frente.
Range
o restolho cortado,
Pela
serrilha da foice,
E
aquele mar ondulado,
Que
foi lindo mar doirado,
Não
tem espiga que baloice.
Quando
a gente está afeito,
Quase
não sente o calor.
Cortar
o pão quer-se feito
Co'a
ternura, gosto e jeito
Com
que se fala de amor.
A
espiga está grada e bela.
O
Inverno ainda vem longe.
E,
nesta vida singela,
Ter
pão é estar à janela
E
poder olhar pra longe.
Estes
ceifeiros não sabem
Mais
que a vida natural.
Mas
têm a intuição que cabem,
Às
mãos que esta faina acabem,
Dons
do sobrenatural.
Francisco
Bugalho (1905-1949)
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