Um
copo de vinho.
Alessandro
Sani (1856-1927).
Óleo
sobre tela (38 x 45.7 cm).
Colecção
particular.
Os problemas sociais modernos merecem a atenção da
Igreja Católica, que através de encíclicas e pronunciamentos papais, procura
dar um conjunto de ensinamentos que integram a Doutrina Social da Igreja. Esta
aborda múltiplos temas capitais como: “ - a pessoa humana, sua dignidade, seus
direitos e suas liberdades; - a família, sua vocação e seus direitos; - inserção
e participação responsável de cada homem na vida social; - o bem comum e sua
promoção, no respeito dos princípios da solidariedade e subsidiaridade; - o
destino universal dos bens da natureza e cuidado com a sua preservação e defesa
do ambiente; - o desenvolvimento integral de cada pessoa e dos povos; - o
primado da justiça e da caridade. Tais ensinamentos sobre os problemas sociais
modernos, encontram na encíclica “Rerum Novarum”
(1891) de Leão XIII (1810-1903) a sua carta magna.
Apesar da sua postura actual, a Igreja Católica nem
sempre foi assim. Durante a Idade Média (476-1453) conquistou e manteve
grande poder económico, político, jurídico e social, não permitindo opiniões
contrárias aos seus dogmas. Aqueles que se atreviam a fazê-lo eram perseguidos
e punidos pela Inquisição, que prendeu, torturou e queimou na fogueira milhares
de pessoas. Na Idade Moderna
(1453-1789) e mesmo na Idade
Contemporânea (de 1789 em diante), a Igreja Católica caminhou lado a lado com o
Estado, com um interregno em Portugal durante a I República (1910-1926), mas retomando
o caminho anterior no decurso do Estado Novo (1926-1974).
Ao longo dos séculos, o
espírito crítico da arraia-miúda nunca viu com bons olhos, a postura de certos
membros da hierarquia da Igreja Católica. Essa desconfiança ficou registada na
memória colectiva sob a forma de provérbios, que podemos sistematizar em 3
grandes grupos:
- FRADES: Basta um frade ruim para dar que falar a
um convento. Contratos com frades, nem por boca nem por escrito. Daquilo que
bem lhe sabe, não reparte o frade. Em traseira de mula e dianteira de frade,
ninguém se fie. Frade e mulher, duas garras do diabo. Frade Nabiça tudo que vê,
cobiça. Frade onde canta, aí janta. Frade que pede para Deus, pede para dois.
Guarda-te do frade e do cão que não sai da grade. Hábito de frade e saia de
mulher, chega onde quer. Ladrão que anda com frade, ou o frade será ladrão, ou
o ladrão frade. Mais depressa se torna o frade ladrão do que o ladrão frade.
Não dá o frade o que bem lhe sabe, nem a freira o que bem lhe cheira. Nem a
chocarreiro nem a frade fora do mosteiro, dês do teu dinheiro. O frade por onde
anda, não lhe falta pão na manga. Qual é o frade que não tem dois capotes?
Treze é a dúzia do frade.
- FREIRAS: Biscoito de freira, fanga de trigo.
Casar ou meter a freira. Em caso de necessidade, casa a freira com o frade.
Frade, freira e mulher rezadeira, são três pessoas distintas e nenhuma
verdadeira. Freiras e frieiras é coçá-las e deixá-las. Não dá o frade o que bem
lhe sabe, nem a freira o que bem lhe cheira. Quando a abadessa é careca, as
freiras são pouco encabeladas.
- PADRES: Dos três pp livre-me Deus: padre, pombo e
parente. Feliz que nem filho de padre. O padre ganha-o a cantar. Ódio de padre
não respeita comadre. Padre de versos, padre de netos. Padre e cão olham para a
mão. Padre mouco não confessa. Padre muito rezador, mulher muito beata, homem
muito cortês, é livrar de todos três. Padre novo e bonito, aqui d'el-rei que eu
grito. Padres e patos, nunca estão satisfeitos. Padres, músicos e foliões são
caros pelo que apanham pelo dente. Um padre a pecar conta a dobrar.
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