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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial


Mosaico: ULISSES. Datação: Época Romana.

Todas as imagens aqui apresentadas se referem a espólio recolhido na
Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial e que se encontra
depositado no Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.


Na sua reunião de 17 de Junho passado, a Câmara Municipal de Estremoz deliberou por unanimidade, aprovar a celebração de um Contrato Interadministrativo de Delegação de Competências entre o Município e aPresidência do Conselho de Ministros, que tem por objecto a delegação de competências da Secretaria de Estado da Cultura no Município para a transferência da titularidade do património, relativo à Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial (Sítio Arqueológico de Santa Vitória do Ameixial –ruínas romanas) e ao Castelo de Evoramonte – fortificações, com excepção da Torre do Paço do Castelo, que se mantém património dependente da Direcção Regional de Cultura do Alentejo. A deliberação da Câmara foi ratificada por unanimidade na reunião da Assembleia Municipal de Estremoz, realizada no passado dia 26 de Junho.
Congratulo-me com esta unanimidade, a qual era esperada, dado a importância do assunto e o facto de o mesmo não ser fracturante. De salientar que a transferência de competências é acompanhada da transferência de recursos.

A Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial
A descoberta da Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial ocorreu na sequência de trabalhos de exploração de uma pedreira na aldeia de Santa Vitória. O proprietário dos terrenos comunicou o facto ao director do Museu Etnológico Português, José Leite de Vasconcelos (1858-1941), que enviou o conservador do Museu, Luis Chaves (1888-1975), para proceder a escavações, o que ocorreu em 1915 e 1916. A publicação dos resultados só viria a ocorrer bastante mais tarde, no volume 30 da 1ª série de “O Arqueólogo Português”, de 1938. Tratava-se de uma Villa lusitano-romana, de grande proprietário, senhor das terras que a circundavam e que terá sido construída entre finais do século I e inícios do IV, no contexto da Romanização da Península Ibérica, estando inserida na província da Lusitânia, cuja capital se situava em Mérida (Emerita Augusta).
Luis Chaves escavou parte dessa Villa, que se encontrava já muito destruída, pelo saque a que vinha sendo sujeita pela população local, para a recuperação e reaproveitamento dos materiais de construção, nomeadamente a pedra. Luís Chaves pôs então a descoberto o peristilo da residência senhorial e as termas, ambas com notáveis pavimentos de mosaico, num total de 13. Para além dos mosaicos, o espólio recolhido no local e transportado para Lisboa, onde se encontra depositado no Museu Nacional de Arqueologia, integra ainda importantes vestígios de escultura de vulto e escultura arquitectónica, materiais de construção, utensílios variados, loiças domésticas, vidros variados, vasos de bronze, adornos femininos de ouro e osso, jogos, anéis de metal ou de vidro e o rico tesouro de 3000 moedas.
A Villa terá tido uma primeira ocupação no séc. I, como é documentado pelo aparecimento de uma moeda de Nero e cerâmica datada deste período. No entanto, a ocupação mais significativa, em termos de vestígios materiais, é já do Baixo-império (finais do séc. III - inícios do séc. IV).
As escavações foram posteriormente retomadas entre 1970 e 1980.
Nas condições do contrato agora celebrado entre a Câmara Municipal de Estremoz e a Secretaria de Estado da Cultura, está prevista a conservação, segurança e reabilitação de estruturas. Não se sabe é se as escavações vão ou não prosseguir.

Centro Interpretativo da Villa
A meu ver torna-se necessário a construção no local de um “Centro Interpretativo da Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial”, à semelhança do que se passa em Miróbriga, visando permitir o desenvolvimento de uma oferta turística de base cultural, com envolvimento da comunidade local. Santa Vitória precisa de turismo, como um pobre de pão para a boca.

Retorno ao local do espólio recolhido
Actualmente, a legislação sobre património proíbe a deslocalização do mesmo, o que não acontecia na época das primeiras escavações. Todavia, se houver sensibilidade da parte da Secretaria de Estado da Cultura, visando ampliar e aprofundar o protocolo actual, há que promover o retorno ao local do espólio então recolhido. De contrário, parafraseando Jerónimo de Sousa, é caso para dizer:
- DÃO-NOS OS OSSOS E FICAM COM OS BIFES DE LOMBO!   

Texto publicado inicialmente em 9 de Julho de 2015

BIBLIOGRAFIA
- CHAVES, Luís - "Latifúndios de Romanos no Alentejo. Uma “villa” romana". Separata do Boletim da Associação Central da Agricultura Portuguesa, nº4. Lisboa, Abril de 1922.


Mosaico: AS ESTAÇÔES DO ANO. Datação: Época Romana.
 Mosaico: O VENTO EURUS.
Mosaico: JÚPITER TOCADO POR UMA SETA DO CUPIDO.
Mosaico: COROAÇÃO DO ATLETA VENCEDOR NO DITIRAMBO EM JOGOS
DIONISÍACOS.
Carranca fontanária em mármore. Séc. II – Época Romana. Dimensões (cm):
altura: 27,2; largura: 21,3; espessura: 13,5.
Estátua de Inverno. Escultura em mármore. Séc. II - Época Romana.
Dimensões (cm): altura: 48; largura: 62; espessura: 28.
Guarnição parietal em mármore. Época Romana. Dimensões (cm):
altura: 26,5; largura: 41; espessura: 5.
Jarro de cerâmica comum. Época Romana. Dimensões (cm): altura: 17,9;
diâmetro: 13,5.
Pote de cerâmica comum. Datação: Época Romana. Dimensões (cm):
altura: 10,8; diâmetro: 14,5.
Pote de cerâmica comum. Dimensões (cm): altura: 16,5; espessura: 0,6;
diâmetro: 14,7. Datação: Época Romana.
Peso de tear em barro. Dimensões (cm): altura: 11; largura: 7,3.
Datação: Época Romana.
Lucerna de 1 bico, em barro. Fabrico por molde. Dimensões (cm):
largura: 4,7; comprimento: 7,1. Datação: III d.C. - IV d.C. - Época Romana.
Lucerna de dois bicos, em barro. Fabrico por molde, Dimensões (cm):
altura: 5,1; diâmetro: 7,9; comprimento: 11.Datação: Época Romana.
Lucerna em ferro. Dimensões (cm): altura: 2,2; largura: 6,7; comprimento:
10,6. Datação: Época Romana.
Ralo de canalização. Séc. II - Época Romana. Fundição em chumbo.
Dimensões (cm): altura: 27,5; largura: 15; espessura: 9,8.
Manilha em chumbo. Séc. II – Época Romana. Dimensões (cm): altura: 9,5;
largura: 10;  comprimento: 47.
Torneira de distribuição. Séc II -  Época Romana. Fundição em bronze.
Sega. Ferro fundido. Época Romana. Dimensões (cm): comprimento: 22,5.
Machado de ferro. Dimensões (cm): largura: 5,6; comprimento: 19,8. Datação:
Época Romana.
Martelo em ferro. Dimensões (cm): comprimento: 12,3. Datação: Época Romana.
Enxó em ferro. Dimensões (cm): diâmetro: 8,8; comprimento: 13,2. Datação:
Época Romana.
Alvião em ferro. Dimensões (cm): comprimento: 19,9. Datação: Época Romana.
Armela de asa de sítula. Bronze fundido em molde. Época Romana.
Dimensões (cm): altura: 7,2; largura: 7; espessura: 0,5.
Argola de bronze, de secção circular e aro circular fechado. Dimensões (cm):
espessura: 0,8; diâmetro: 4,2. Datação: Época Romana.
Tripé de bronze composto por argola circular achatada e três pés de apoio.
Dimensões (cm): diâmetro: 7,1. Datação: Época Romana.
Fíbula de bronze. Dimensões (cm): altura: 3,1; comprimento: 8,6. Datação:
Época Romana.
Elemento decorativo de um carro, em bronze. Datação: Época Romana.
Dimensões: 10,8 x 6,7 cm.
Anel de bronze. Dimensões (cm): diâmetro: 1,7. Datação: Época Romana.
Alfinete de cabelo, em osso. Dimensões (cm): espessura: 0,3; comprimento: 5,7.
Datação: Época Romana.
Bracelete em ouro martelado. Datação: Século I d.C. Dimensões (mm):
Diâmetro: 68; Espessura: 2 mm. Peso (g): 10,6 g.
Boneca de osso. Época Romana. Técnica: Talhe, polimento e incisão.
Dimensões (cm): altura: 11,3; largura: 1,5; espessura: 0,7.
Instrumento cirúrgico – Sonda em bronze. Dimensões (cm): espessura: 0,75;
comprimento: 11.77. Datação: Época Romana.
Moeda de Arcádio. Centro de Fabrico: Nicomedia. Datação: 393 d.C. - 395 d.C.
- Época Romana. Cunhada em bronze. Dimensões (cm): espessura: 0,2; diâmetro: 2.
Moeda de Honorius. Datação: 393 d.C. - 395 d.C. - Época Romana.
Cunhada em bronze. Dimensões (cm): espessura: 0,1; diâmetro: 2,2.
Moeda de Adriano. Datação: 117 d.C. - 135 d.C. - Época Romana.
Cunhada em Bronze. Dimensões (cm): espessura: 0,3; diâmetro: 3,3;
Moeda de Trajano Decius. Datação: Época Romana. Cunhada em bronze.
Dimensões (cm): espessura: 0,3; diâmetro: 2,7.
Moeda de Magno Máximo. Centro de Fabrico: Lugdunum (Lyons, França).
Datação: 383 d.C. - 388 d.C. - Época Romana. Cunhada em bronze.
Dimensões (cm): espessura: 0,1; diâmetro: 2,4.
Moeda de Theodosius. Centro de Fabrico: Nicomedia. Datação:
392 d.C. - 395 d.C. - Época Romana. Cunhada em bronze.
Dimensões (cm): espessura: 0,1; diâmetro: 2,1.
Moeda de Maximinus. Centro de fabrico. Roma. Datação: 235 d.C. - 236 d.C.
- Época Romana. Cunhada em bronze. Dimensões (cm): espessura: 0,3;
diâmetro: 2,5.


8 comentários:

  1. Obrigada, amigo. Pelo trabalho, pela erudição, e pela partilha ... Permito-me brincar um pouco : se os políticos europeus soubessem um pouco mais de História, nunca teriam escolhido aquele nome para a moeda única ! Claro que " Eurus" seria um enorme vendaval...
    Um abraço!
    mf/.

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    1. Fernanda:
      Obrigado mais uma vez, pelo seu estimulante comentário.
      Um grande abraço para si também, amiga.

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  2. Profundo agradecimento por partilhar cultura. .

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  3. Seria bom que todo o material arqueológico encontrado em Santa Vitoria estivesse exposto no Museu Municipal, pois é aqui que ele pertence.
    Quanto a entrega, do que resta, do campo arqueológica à Câmara, fico preocupado, pois se esta não tem sequer capacidade para manter uma cidade limpa e livre de ervas como vai ter para gerir as ruinas?

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  4. No texto escrito há 8 anos, eu defendo:
    CENTRO INTERPRETATIVO DA VILLA
    A meu ver, torna-se necessário a construção no local de um “Centro Interpretativo da Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial”, à semelhança do que se passa em Miróbriga, visando permitir o desenvolvimento de uma oferta turística de base cultural, com envolvimento da comunidade local. Santa Vitória precisa de turismo, como um pobre de pão para a boca.
    Deveria ser esse Centro Interpretativo a alojar o material arqueológico devolvido á procedência. Será que o Centralismo Museológico alguma vez vai deixar regressar esses objectos à origem?
    Acho que o Museu Municipal de Estremoz não seria a melhor solução, por ser um museu generalista. Penso que seria preferível o Centro Interpretativo (a construir de raíz) em Santa Vitória do Ameixial, o qual deveria funcionar sob supervisão técnica e cientifica do Museu Municipal de Estremoz.

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