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terça-feira, 10 de março de 2015

Fé precisa-se!

O oleiro Mariano da Conceição (1903-1959) a trabalhar na roda,
em Março de 1931.

Os Bonecos de Estremoz
Estremoz é terra de bonequeiras, cuja arte remonta ao século XVII. Apesar de chegar a ter sido dada como extinta, a manufactura de bonecos de Estremoz não se perdeu, fruto da acção de Sá Lemos, director nos anos 30 do século passado, da Escola Industrial António Augusto Gonçalves. Para tal contou com a colaboração de ti Ana das Peles e do oleiro Mariano Augusto da Conceição.
Em boa hora, o Município candidatou a Património Cultural da Humanidade, a “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”. Esta está em fase de consulta pública desde o passado dia 25 de Fevereiro e terá a duração de 30 dias. A iniciativa é da Direcção Geral do Património Cultural e visa a sua ulterior inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Trata-se de um marco importante e indispensável à Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade,a qual todos  desejamos seja coroada de êxito.

A Olaria
À semelhança do figurado é igualmente rica e diversificada a produção oleira de Estremoz. Assim o atestam os acervos do Museu Municipal e do Museu Rural de Estremoz: peças com diferentes funcionalidades, geometrias, técnicas de fabrico e de decoração. Algumas delas pela sua nobreza, viram parentes suas ser dignas de figurar à mesa de reis.
A referência mais antiga aos barros de Estremoz remonta ao foral de D. Afonso III, seguindo-se-lhe o foral de D. Manuel I. Daqui para diante as referências histórico - literárias são múltiplas: António Caetano de Sousa, Giovanni Battista Venturini, Francisco de Morais, Inventário de D. Joana (irmã de Filipe II), correspondência de Filipe II, Padre Carvalho, Francisco da Fonseca Henriques, João Baptista de Castro, Duarte Nunes de Leão, D. Francisco Manuel de Melo, Alexandre Brongniart e Carolina Michaëlis de Vasconcelos, entre outros.
Os barros de Estremoz têm sido cantados pelos nossos poetas eruditos: Camões, Gil Vicente, António de Vilas Boas e Sampaio, António Sardinha, Celestino David, Maria de Santa Isabel, Guilhermina Avelar e António Simões. Mas não só os poetas eruditos têm tomado a olaria como tema de composições, o mesmo se passando com os nossos poetas populares.
No decurso do tempo, a olaria de Estremoz tem sido igualmente objecto de estudos etnológicos e etnográficos, dos quais salientamos, os de Leite de Vasconcelos, Virgílio Correia, D. Sebastião Pessanha, Luís Chaves, Azinhal Abelho, Solange Parvaux e Joaquim Vermelho.
Tudo isto não aconteceu por acaso, uma vez que Estremoz já foi um importante centro oleiro do Alto Alentejo. Hoje resta uma única olaria que já não labora, limitando-se a escoar alguma produção que ainda tem em stock.
Correndo o risco de ser acusado de perfilhar o mito sebastianista, direi que Estremoz está à espera que surja um novo Sá Lemos, que faça renascer a olaria local, qual Fénix renascida das cinzas. Até lá, Fé precisa-se.


O oleiro Mariano da Conceição (1903-1959) a desenfornar,
em Março de 1931.

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