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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Palácio Tocha - Quem lhe acode? - 3

CENA DE CAÇA (Escadaria). Fotografia recolhida no Sistema de Referência e
Indexação do Azulejo.

 (Continuação dos nº 838 e 839 de Brados do Alentejo)

O que pensa a Câmara?
De acordo com a edição de 11 de Setembro, do jornal “Brados do Alentejo”, o Presidente do Município, Luís Mourinha, disse estar preocupado com a degradação do Palácio Tocha e acrescentou ter sido recentemente contactado verbalmente pelos interessados, no sentido de o imóvel ser adaptado a Hotel, situação a que a Câmara não se opõe.
Quem é o proprietário do Palácio Tocha?
Tenho conhecimento de que o Palácio Tocha foi vendido pela Família Sepúlveda da Fonseca à Imobiliária Magnólia da Madeira, Lda, no ano de 2000. Esta, por sua vez, vendeu-o em 2008, à Associação de Colecções, de cujo Conselho de Administração é Presidente, o Comendador José Manuel Rodrigues Berardo (Joe Berardo). Na prática o proprietário do Palácio Tocha é o conhecido empresário e coleccionador de Arte, Joe Berardo.
Já foi o homem dos dois mil milhões de euros. Fez parte da lista da revista norte-americana "Forbes" como um dos homens mais ricos do mundo. Actualmente, segundo a revista “Exame”, os activos de Joe Berardo sofreram uma forte desvalorização e estão actualmente avaliados em 340 milhões. A sua menina dos olhos continua a ser a sua colecção de Arte, avaliada pela Christie's em 316 milhões de euros.
Sem sombra de dúvida que o Comendador é o maior coleccionador privado português, cujas notáveis colecções abrangem um largo espectro de domínios como Arte Moderna e Contemporânea, Cartazes de Ernesto de Sousa, Azulejos, Arte Publicitária, Cerâmica das Caldas, Arte Déco, Escultura Contemporânea do Zimbabué, Arqueologia, Etnografia, Mineralogia e Paleontologia.
As suas colecções distribuem-se e estão salvaguardadas em locais tão diversos como o Centro Cultural de Belém (Lisboa), os jardins luxuriantes do Monte Palace (Ilha da Madeira), a Quinta da Bacalhôa e a Bacalhôa Vinhos (Azeitão) e as Caves da Aliança Vinhos de Portugal (Sangalhos). 
Sem sombra de dúvida que para além de grande investidor, o Comendador é como diriam os franceses “un esprit de finesse”, dotado de rara sensibilidade para as Artes.
O que poderá fazer a Câmara?
O Presidente do Município, Luís Mourinha, disse em entrevista ao jornal Brados do Alentejo, estar preocupado com a degradação do Palácio Tocha. Não constituirá delito de opinião, pensar que a Câmara não se deve ficar pela mera preocupação. Admito que o Comendador possa desconhecer o estado de degradação acelerado do edifício de que é proprietário e que foi classificado em Janeiro passado como imóvel de interesse público. Daí ser minha convicção de que a Câmara, como entidade que propôs em 2000 a classificação do imóvel, deva fazer algo mais. Penso que devia alertar o proprietário para a degradação que documentei em edições anteriores deste jornal. Decerto que será a entidade mais qualificada para o fazer, uma vez que esteve na génese do processo de classificação do imóvel e é a legítima representante da comunidade local. A esta assiste-lhe o direito à fruição dos valores e bens que integram o património classificado e tem igualmente o dever de o defender e conservar, impedindo a sua destruição, deterioração ou perda. Quem melhor para defender os interesses da comunidade, que o Município eleito?
O que deverá fazer o proprietário?
É sabido que o edifício é uma jóia arquitectónica da cidade e um tesouro em património azulejar, no qual ressalta o envolvimento de Estremoz e do seu termo, na luta pela independência nacional no decurso da crise dinástica de 1383-85 e contra o jugo filipino. São páginas de História Regional e Nacional que estão ali contadas.
De acordo com a legislação em vigor, o proprietário tem o dever de conservar, cuidar e proteger devidamente o edifício, de modo a assegurar a sua integridade e a evitar a sua perda, destruição ou deterioração. Deve também executar os trabalhos ou as obras que o serviço competente, após o devido procedimento, considerar necessários para assegurar a salvaguarda do edifício.
Tendo em conta que o proprietário é uma pessoa de bem e com rara sensibilidade para as Artes, creio que uma vez alertado pelo Município para o estado de degradação do imóvel, não deixará de assumir as suas responsabilidades, travando e invertendo a tragédia muda que ali se está a passar, o que seria gratificante para a comunidade local.


 CONQUISTA DE ESTREMOZ – 1383 (Sala das batalhas). Fotografia recolhida
no Sistema de Referência e Indexação do Azulejo.

BATALHA DO AMEIXIAL – 1663 (Sala das batalhas). Fotografia recolhida
no Sistema de Referência e Indexação do Azulejo.

2 comentários:

  1. Assim vamos perdendo o nosso património.

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  2. Daí a importância de que se reveste o alertar a opinião pública, para que esta se mobilize na defesa do património, uma vez que tem direito a usufruir da visita ao mesmo..

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