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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Boas práticas

UM ESCRITOR APARANDO A SUA PENA (1784).
Jan II EKELS (1759-1793). 
Óleo sobre painel (28 x 24 cm).
Rijksmuseum, Amsterdam.

As provas
Desde os “Tempos da outra Senhora” que fui treinado para ver as coisas com olhos de ver e não me deixar fascinar pelas facilidades que, porventura, estejam à mão de semear. 
Ainda na Escola Primária e depois da aprendizagem da tabuada, o Mestre-Escola ensinou-me a tirar a prova dos noves e a prova real das operações correntes, visando confirmar a exactidão dos resultados alcançados.
Talvez nesta altura haja quem não saiba do que estou a falar, já que nasceu à distância de um clique e para quem as contas, longe de se fazerem de cabeça (O que é isso?), são imanência de uma qualquer máquina de calcular, omnipresente no monitor do computador, no telemóvel, no relógio de pulso ou no Google. Tabuada? O que é isso? A máquina (Sistema) é que sabe. Basta fazer-lhe as perguntas (Cliques) de forma adequada, que ela responde.
Neste contexto epistemológico, esvazia-se a cidadania, já que o interveniente, castrado nos seus poderes de ajuizar, aferir e controlar, se limita a ser um pau-mandado duma hierarquia que pré-determina como resultados, os valores que devem ser aceites e que interessam ao Sistema. É o começo da formatação para a submissão, para a aceitação daquilo que o Sistema considera que é óbvio e como tal não pode ser sujeito a contradição. 

Outros caminhos
Dos tempos de Catequese, ficou remanescente no meu espírito, qualquer coisa do género “Ver para crer, como São Tomé”. O “ver” passou a funcionar desde então como “prova”, que aquilata do “valor” daquilo que se vê.  
Por sua vez, dos tempos de Liceu restou uma certa necessidade adquirida, de sistematicamente pôr tudo em causa, visando conhecer aquilo que pudesse, eventualmente, configurar a verdade absoluta.

Cruzamento de Informação
O jornal digital OESTE GLOBAL (1), subscritor das “Efemérides” da AGÊNCIA LUSA, apresenta a seguinte efeméride, relativa ao dia 5 de Fevereiro:
1768 - O Marquês de Pombal cria, em Lisboa, a Real Mesa Censória, separando as funções da Igreja das do Estado. A Inquisição perde os poderes de exame prévio. 
Digitando no GOOGLE a frase “Real Mesa Censória”, somos informados pela INFOPÉDIA (2) do seguinte:
Real Mesa Censória - Foi criada por alvará de 5 de abril de 1768, durante o Governo de Pombal, com o intuito de transferir das mãos da Igreja para o controlo direto do Estado, a censura dos livros e publicações consideradas perturbadoras em matéria religiosa, política e civil que dessem entrada em Portugal, função esta que até aqui cabia à Inquisição, aplicando penas pecuniárias e corporais contra os que transgredissem as regras.
Confrontando a “peça” da AGÊNCIA LUSA, com o texto da INFOPÉDIA, concluímos estar perante um caso flagrante de “Não dar a bota com a perdigota”. 
Por sua vez, o ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO (3) informa-nos que:
A Real Mesa Censória foi criada por Alvará de 5 Abril de 1768, com o objectivo de transferir, na totalidade, para o Estado a fiscalização das obras que se pretendessem publicar ou divulgar no Reino, o que até então estava a cargo do Tribunal do Santo Ofício, do Desembargo do Paço e do Ordinário. 
A mesma informação é veiculada pela ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DA TORRE DO TOMBO (4).
Por sua vez, o CITI (CENTRO DE INVESTIGAÇÃO PARA TECNOLOGIAS INTERACTIVAS) (5), informa-nos que:
A Real Mesa Censória - Criada a 5 de Abril de 1768, a Real Mesa Censória tinha, como principal objectivo, examinar as obras que circulassem pelo Reino e proceder a uma escolha daquelas que, em Portugal, poderiam ser lidas sem ameaça de prejuízo para a política do Marquês de Pombal.

Boas práticas
O cruzamento de informação permitiu-nos concluir que a efeméride veiculada pela AGÊNCIA LUSA para o dia 5 de Fevereiro, aconteceu apenas no dia 5 de Abril, ou seja dois meses depois. O cruzamento de informação disponível “online”, torna-se então indispensável, já que a facilidade com que se “corta e cola” informação, pode tornar a asneira “viral”. O cruzamento de informação deve, pois, integrar qualquer código de boas práticas “on line”. Depois, a honestidade intelectual exige que se citem as fontes, o que credibiliza e valoriza aquilo que se escreve. Assim se fortalece a procura incessante da verdade.


(1) - http://www.oesteglobal.com/Efemerides_Lusa__05_de_fevereiro_1 
(2) - http://www.infopedia.pt/$real-mesa-censoria 
(3) - http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4311313 
(4) - http://www.aatt.org/site/index.php?op=Nucleo&id=222 
(5) - http://www.citi.pt/cultura/historia/personalidades/marques_pombal/real_mesac.html 

8 comentários:

  1. Partilhei este excelente artigo no meu mural do Facebook.
    Grata, envio cordiais saudações.

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    1. Obrigado pelo seu comentário.
      Os meus melhores cumprimentos.

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  2. Bela reflexão, com um bom exemplo final. Em termos informativos, com o excesso de informação e com o corte nos gastos com o pessoal, os resultados são óbvios: muita quantidade de informação, muito pouca qualidade da mesma.

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    1. João Paulo:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Os meus cumprimentos.

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  3. Completamente de acordo com o seu comentário... " Asneira viral"...

    E devo pedir-lhe desculpa, por ter partilhado a sua nota sobre Sebastião da Gama, um poeta que dei a conhecer um dia a jovens reclusos toxicodependentes.. . Obrigada, por tê-lo trazido aqui.
    Bom fim de semana!
    mf/.

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    1. Fernanda:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Bom fim de semana para si também.

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  4. Como sempre quando escreve, seja qual for a etiqueta que sustenta a escrita, é fascinante!....é sempre uma "lufada de ar fresco"... Mas esta soube -me a pouco!

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    1. Obrigado pelo seu comentário:
      Fico-lhe muito grato se me apontar tópicos que, eventualmente, poderia ter abordado e não o fiz, mas que poderei vir a fazer numa eventual revisão do texto, visando o seu aprofundamento e o seu aperfeiçoamento.
      Os meus melhores cumprimentos.

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