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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O papel da imprensa local


A imprensa local tem desempenhado desde sempre um papel importante e insubstituível na formação e informação do leitor, o que não deve deixar de se sublinhar.
Ao longo dos anos e por diversos períodos têm coexistido simultaneamente vários jornais em Estremoz. É uma situação indesejável na perspectiva da administração dos jornais, uma vez que assim têm maior dificuldade na angariação de publicidade. Todavia na perspectiva de serviço público, tal coexistência é não só legítima como desejável. É que esses jornais têm estatutos editoriais distintos, praxis jornalísticas diferentes e representam por vezes interesses divergentes: o poder, a oposição, grupos de cidadãos mobilizados por determinadas linhas de pensamento, etc.
Cada um deles tem o seu público-alvo, os seus defensores e os seus detractores. Numa sociedade pluralista é assim, já que o tecido social tem urdidura e trama quanto baste para aguentar tudo isto.
Por vezes há “guerras do alecrim e da manjerona” entre alguns desses jornais, por que determinada “peça” de um teria feito “comichão” na “honra” do outro. E então os jornais transformam-se em trincheiras donde os acólitos assestam baterias sobre os adversários. É um tiroteio útil, pois traz à luz da ribalta, factos que doutra formam ficariam amordaçados e no segredo dos deuses. De resto, lá diz o rifão: “A verdade é como o azeite, vem sempre à tona de água.”.
Para além do inigualável papel que desempenharam no momento e na época em que foram editados, os jornais locais têm ainda uma não menos importante função a desempenhar, que é a de transmitir para a posteridade a memória dessa época. Por vezes são memórias focalizadas, expondo muitas vezes a mera opinião pessoal de quem as registou. Todavia são memórias.
Para o investigador social que à laia de arqueólogo do passado, tenta reconstituir eventos ou polémicas, são verdadeiras ferramentas de trabalho. É que viabilizam a recomposição de uma época, recorrendo a diferentes visões da mesma, já que se uns faziam o ponto, os outros eram inexoravelmente o contraponto.
A Biblioteca Municipal de Estremoz tem um acervo importante de colecções de imprensa local desde o século XIX, que pode ser consultado pelo público, ainda que nalguns casos haja falta de números de determinados jornais. Mas não é esse facto que esteve na origem da presente crónica. Foi um facto de índole mais grave. É que na Biblioteca Municipal de Estremoz não existe um único exemplar do jornal “Voz do Alentejo” que se publicou em Estremoz, entre 1979 (nº1) e 1984 (nº 189) e que coexistiu ainda que não pacificamente com o jornal “Brados do Alentejo”, dirigido por José Dias Sena. A direcção do jornal “Voz do Alentejo” não ofereceu à Biblioteca Municipal de Estremoz, um único exemplar para arquivo, como tem sido timbre dos outros jornais locais. Daí que não se torne possível conhecer hoje em Estremoz, o outro lado do jornalismo. Contudo, talvez essa situação possa ser colmatada. Daí que eu dirija um apelo aos estremocenses que me lêem. Se tiverem em sua posse exemplares do jornal “Voz do Alentejo”, ofereçam-nos à Biblioteca Municipal de Estremoz, visando a reconstituição gradual de uma colecção integral do mesmo. Obrigado. Bem hajam.
Entretanto informo que o referido jornal pode ser consultado no Arquivo Distrital de Évora.
[Publicado no nº 797 (15-11-2012) do jornal "Brados do Alentejo"] 

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