Páginas

domingo, 25 de setembro de 2011

Viver é preciso!


CORRENTES DE ÁGUA. Paisagem com rio (1778). Jacob Philipp Hackert (1737-1807)
Óleo sobre tela (64,5 x 88,5 cm). Szépmûvészeti Múzeum - Budapest.

FLUXOS DOS QUATRO ELEMENTOS PRIMORDIAIS
De acordo com a da Teoria dos Quatro Elementos do filósofo grego Empédocles (495/490 - 435/430 a.C.), tudo o que existe na natureza é constituído por quatro princípios primordiais: água, ar, fogo e terra.
Passageiros do Universo, na condição de habitantes do planeta Terra, estamos rodeados de fluxos desses quatro elementos primordiais:
- Em primeiro lugar, correntes de água, através das quais esta se move de uma região de maior potencial gravítico, para outra de menor potencial gravítico. Por outras palavras, a água flui por acção da gravidade.
- Para além dadas correntes de água, temos os ventos que são fluxos de massas de ar que se deslocam de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão.
- Temos ainda as correntes de fogo ou se quisermos, correntes de lava, que brota dos vulcões em erupção. É sabido que devido à enorme tensão das camadas subjacentes, o núcleo central da Terra se encontra num estado ígneo permanente, o que faz com que esta gigantesca caldeira, de vez em quando tenha que descomprimir, o que tem lugar através de erupções vulcânicas, nas quais correntes de fogo, se deslocam por convenção, de regiões profundas, caracterizadas por valores elevados de massa volúmica e de temperatura, para regiões superficiais caracterizadas por valores de massa volúmica e temperatura, mais baixos.
- Há de resto, movimentos de terra, devidos a agentes de geodinâmica externa (movimentos dunares e aluimento de terrenos) ou de geodinâmica interna (tremores de terra, movimento de placas, tremores de de terra).
Dalguns destes fluxos nos fala a Bíblia. Assim, relativamente ao vento:
- No primeiro dia de criação do mundo: “A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas”. (Gênesis 1,2)
- Depois do Dilúvio Universal: “Então Deus lembrou-Se de Noé e de todas as feras e animais domésticos que estavam com ele na arca. Deus fez soprar um vento sobre a terra, e as águas baixaram.” (Gênesis 8,1)
Relativamente à água:
- No segundo dia de criação do mundo Deus disse: “Que as águas que estão debaixo do céu se juntem num só lugar e apareça o chão seco. E assim se fez.” (Gênesis 1,9)
Relativamente à terra:
- No segundo dia de criação do mundo, “Deus chamou ao chão seco “terra”, e ao conjunto das águas “mar”. E Deus viu que era bom.” (Gênesis 1,10)
Relativamente ao fogo:
- Quando da destruição de Sodoma e Gomorra “O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo, vinda do Senhor, do céu.” (Gênesis 19,24)
Fluxos de água, ar, fogo e terra, são exemplos elementares e paradigmáticos de que o mundo que nos rodeia e com ele o homem, personagem principal da História, da Antropologia e da Etnologia, são atravessados transversalmente e longitudinalmente por fluxos, que determinam que as coisas sejam de uma maneira e não de outra maneira qualquer. Cabe ao Homem, na qualidade de actor principal e fim último daquelas ciências, interpretar os dados de que elas dispõem e aprender com eles, para que com um desejável espírito positivo de cidadão do mundo, seja capaz de equacionar, planificar e edificar a existência de um mundo mais solidário e mais fraterno.

FLUXOS NA ALDEIA GLOBAL
Para o nosso bem e para o nosso mal, o mundo é hoje uma aldeia global, com fronteiras esbatidas e praticamente inexistentes, que todavia são atravessadas por qualquer internauta, à velocidade de um clique.
As águas e os ventos não conhecem fronteiras. A contaminação e a poluição não são locais, são sempre globais.
A prática errada da agricultura intensiva, com recurso a fertilizantes artificiais e a pesticidas está a contaminar os aquíferos e a condenar o Homem à morte. Só a prática de uma agricultura biológica auto-sustentada, poderá vir a evitar esse desfecho.
Por sua vez, a poluição e dentro dela a poluição atmosférica tem atingido níveis assustadores, nunca equacionados no arranque da revolução industrial e que têm múltiplos reflexos negativos, como é o caso do efeito de estufa, que perigosamente faz aumentar a temperatura do planeta. Só a adopção de políticas energéticas limpas e a implementação responsável de energias alternativas por parte de todos os governos, poderá salvar a Humanidade.
Para além disso, a luta contra o desperdício e o consumismo, pela melhoria da nossa qualidade de vida e pela salvação do planeta, passa pela implementação da política dos 3 RRR:
- Reduzir o lixo que se produz;
- Reutilizar as embalagens mais que uma vez;
- Reciclar os componentes do lixo, separando-os na origem.
Há que voltar a usar o talego, a alcofa e o cesto, que quando se estragam podem ser reparados ou usados sob outra forma e só em casos limite se devem deitar fora, para então serem degradados pela Terra-Mãe e renascerem sob outra forma.

VIVER É PRECISO
Para terminar não queria deixar de prestar aqui a minha singela homenagem a Afonso Cautela, jornalista, ensaísta e escritor, velho militante ecológico, percursor entre nós do ambientalismo e da sustentabilidade do planeta. Foi ele que introduziu na terminologia do militante ecológico, para serem usadas como armas de arremesso, termos como “ecocídio” para designar o assassinato do planeta, bem assim como de termos mais pesados, como “ecofascistas”, epíteto com que nos seus escritos apodava todos aqueles que com desprezo olímpico, agrediam o ambiente. Conheci-o há cerca de quarenta anos. Continuam actuais as palavras de ordem que sempre perfilhámos:
“NUCLEAR? NÃO OBRIGADO!”
E sabem porquê?
“PORQUE VIVER É PRECISO!”

Publicado inicialmente a 25 de Setembro de 2011

VENTOS. Embarcações em vento forte (c. 1630). Jan Porcellis (c. 1584-1632)
Óleo sobre tela (42 x 62 cm). Colecção particular.

CORRENTES DE FOGO. Vulcão à Noite (1880). Jules Tavernier (1844-1889)
Óleo sobre tela (48,3 × 91,4 cm). Honolulu Academy of Arts.
 
MOVIMENTOS DE TERRA. Paisagem de dunas com camponeses num caminho (1634)
Jan van Goyen (1596-1656). Óleo sobre tela (88.9 x 125.8 cm). Colecção particular.
 
POLUIÇÃO. Nuvens Industriais (2003). Kay Jackson. Óleo com folha de ouro e cobre sobre tela
(86,46 x 96,5 cm).

11 comentários:

  1. Um dia um amigo perguntou ao tempo. Quanto tempo o tempo tem. E a resposta ? É o tempo que dedicarmos a comtemplar o tempo. Nada se faz sem tempo. E tudo tem o seu tempo. Mais uma vez gostei de todos os seus provérbios, fico sempre a aprender mais um pouco. Vale a pena o tempo que dediquei.
    Rosa Casquinha

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rosa:
      Obrigado pelo seu comentário, qued muito me congratula.

      Eliminar
    2. Muito bom Hernani; ajuda me a falar com os meus netos. Obrigado

      Eliminar
  2. A Terra grita

    A mata que era verde
    Hoje um chão de brasa
    Focos de incêndios por todo lado
    Dói demais o coração!
    A poluição não respeita fronteiras
    Olhe para o céu
    É uma cortina cinza
    Chega de destruição!
    A mudança climática
    não bate mais a porta
    já invadiu o mundo
    É círculo de fogo nas matas
    É o desgelo da Antártica
    Os animais já sentem na pele
    A responsabilidade está em nossas mãos
    Afinal a casa é nossa
    Nem tudo está perdido
    A Terra grita
    Pedindo ajuda, esperando transformações
    para que o homem acorde
    E deixe viver
    as futuras gerações!

    Adriana Gamelas

    ResponderEliminar
  3. Adriana:

    O seu poema é simultaneamente um SOS e um hino à necessidade de sustentabilidade da Terra-Mãe.
    Parabéns!

    ResponderEliminar
  4. Amigo Hernâni, desta vez não resisti a elogiar-te publicamente por este excelente trabalho.
    Há uns tempos resolvi também escrever umas palavras sobre a "crise" que penso se enquadram neste teu tema, aqui vão elas para apreciação geral:

    O lado "bom" da crise!...
    "A verdadeira crise é o sinal de que os valores que têm prevalecido até então, não são os correctos"

    Crise é o sinal de que as coisas estão mal. E que o caminho escolhido até então foi um caminho mal escolhido. Logo, pode-se escolher o caminho para a salvação ou para a destruição!... Com isto quero dizer que a partir deste momento pode-se começar um caminho novo.

    Onde esse caminho começou a ficar mal, as especulações são, e podem ser, muitas. No entanto, o final (ou o começo desse final) poderá ser este. Se crise é significado de caminho mal escolhido, a solução é interromper o percurso nesse caminho, e virar para um caminho que traga a salvação.

    Esse caminho é escolhido pelo re-pensar dos valores. E pela escolha dos valores-pensados que prevalecem. Pois a verdadeira crise é a crise de valores. A verdadeira crise é sinal de que os valores que têm prevalecido até então, não eram os correctos (essa incorrecção vem do não pensar esses valores, e apenas aceitar o caminho para que se foi guiado).

    Pensar o passado e delinear o caminho para um futuro é necessário, para se ultrapassar a situação de crise actual. Digo, um futuro, pois existem vários futuros possíveis. Para dar continuação, à nossa civilização, é necessário que os valores a prevalecer sejam os melhores, e com melhores diz-se os mais bem escolhidos, e o bem escolher está no “pensar-a-fundo” os valores.

    Decisões remendatárias não podem ser aceites (é necessário cortar o mal pela raiz). O homem enquanto ser pensante é o fazedor de história, e tem nas suas mãos o poder de se salvar (e de se destruir) e de salvar (e de destruir) o que o rodeia, o respeito pelo que o rodeia é necessário, a mudança de valores é necessária, a crise era necessária, enquanto sinal de que se estava a percorrer um mau caminho. Há que repensar os valores, pois a verdadeira crise é a crise de valores. O lado bom da crise é esse obrigar a re-pensar os valores, de forma a se construir um caminho futuro, próspero, com o bom que a nossa cultura tem.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Companheira(o):
      É sabido que eu sou um artífice das palavras, enquanto transmissoras de ideias que veiculam doutrinas. Com estas se mobilizam gentes em torno de linhas de força estruturantes que apontam caminhos a seguir. Todavia, a vida é um entrelaçar de caminhos que se podem ou não seguir.
      O calcorrear e com ele a memória dos passos dados é sempre uma escolha íntima, ainda que eventualmente alicerçada no pulsar colectivo.
      Falar de crise está na ordem do dia. Contudo o que importa verdadeiramente é uma mudança de paradigma. A superação da crise passa por uma ruptura que para além de epistemológica, é necessariamente sociológica e económica, já que os nossos carrascos são bem conhecidos e nós temos sido a carne para canhão. Que fazer, então? À laia de desafio aqui fica a questão, à procura de uma resposta pertinentemente fundamentada.

      Eliminar
  5. Boa tarde Hernâni,

    O Homem que deu cabo da sustentabilidade do mundo em que vivemos vai agora ter de se adapatar a viver nele como ele se encontra!

    Abraço

    Abilio

    ResponderEliminar
  6. Excelente.....encheu-me a alma vazia de valores,virtudes.....

    ResponderEliminar