PÓVOA DE VARZIM (s/data).
A Póvoa de Varzim é uma bela cidade do Douro Litoral, cuja origem remonta ao período romano-lusitano. É um importante centro piscatório e procurada praia de banhos. O mar é ali omnipresente. Ali se sente a presença tutelar do mar, que às vezes também é carrasco dos pescadores.
A minha relação com a Póvoa remonta a 1983, ano em que me apaixonei por uma poveira que viria a ser minha mulher. Ávido de conhecimentos de etnografia, desde logo procurei reunir alguns conhecimentos de etnografia naval, sobre a qual escreveram António Santos Graça, Octávio Lixa Filgueiras e Manuel Lopes. Fiquei então a saber que o barco e a lancha poveira tinham divisa constituída por desenhos pintados à proa e à ré, ficando ao centro o nome. Estavam repletos de siglas, que eram a "escrita" do pescador poveiro, usada como brasão de família em todos os objectos que lhe pertenciam em terra ou no mar e que por isso eram marcados nos barcos, nos mastros, nos paus de varar, nos lemes, nas velas, nas redes, etc. Na Póvoa do Mar, como dizem os poveiros, graças à acção de Manuel Lopes foi reconstituída e posta a navegar uma Lancha Poveira do Alto, de velas enfunadas pelo vento tão necessário à navegação. Daí que reze o cancioneiro:
“Quero bem ao vento norte,
Que é vento da minha terra;
Também quero bem ao sul,
Que me faz andar à vela.”
Vela que, segundo o cancioneiro, protege também da tempestade:
“Ó mar, caixão dos navios,
Ó cama dos marinheiros;
Debaixo da vela grande,
Se aguentam os aguaceiros.”
Segundo o cancioneiro, o mar dá o pão, mas também dá a morte:
“A vida de marinheiro,
É uma vida triste e dura,
Pois toda a vida trabalha,
Em cima da sepultura.”
Por isso, o meu conterrâneo, poeta Silva Tavares diz que:
"Se pudessem ser contadas,
Formava-se um mar de dores,
com as lágrimas choradas
pelas mães dos pescadores!”
Pescador que é conhecido por ”lobo do mar”, a quem apetece perguntar com António Correia de Oliveira:
“Donde és tu, lobo do mar?
Donde és tu, ó pescador?
De Portugal? – “pois num foste!
Sou da Pòiva, meu Senhor!”
Antes de português, o pescador é da Póvoa.
Para Raul Brandão, “Aqui o homem é acima de tudo pescador.”, pescador que Antero de Figueiredo considera “... o valente campino do mar alto e das ondas de arrebentação...”
Os homens e rapazes vestiam outrora camisolas poveiras, de lã branca, bordada em ponto de cruz com motivos em preto e vermelho. Estas camisolas eram tradicionalmente feitas pelas mães, mulheres e noivas dos pescadores, que nelas bordavam motivos como âncoras, chaves, corações, siglas, vertedouros, remos cruzados, etc.
No folclore, o “Fandango Poveiro” e as “Torradinhas da Póvoa de Varzim”, são exemplos de danças tradicionais poveiras, executadas pelo Grupo Folclórico Poveiro, organizado em 1936 por Santos Graça, que na época recuperou e divulgou o vistoso traje branco que ele tão bem descreve em “O Poveiro”. Segundo ele, “As raparigas vestem colete vermelho de pano bérre; saias de branqueta branca com faixa; lenço branco pelos ombros; cachené caído no pescoço e descalças. Os rapazes usam calças brancas de baeta crepe, colete de pano piloto, camisa branca, percinta branca de riscas, solêtas nos pés e catalão na cabeça”.
O mar da Póvoa e tudo o que com ele se relaciona está de resto magistralmente registado na pintura portuguesa, conforme documento.
O mar da Póvoa e tudo o que com ele se relaciona está de resto magistralmente registado na pintura portuguesa, conforme documento.
BARCO NA PRAIA COM FIGURAS (s/data).
PRAIA DA PÓVOA DE VARZIM (SÉC. XIX-XX).
Óleo s/ tela (50x30 cm).
Museu de Grão Vasco, Viseu.
PÓVOA - PRAIA DE PESCADORES (1888).
Óleo sobre madeira (55,8x41,8 cm).
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto.
Óleo sobre madeira (35x22,5 cm).
Colecção particular.
VISTA DA PRAIA.
Óleo sobre madeira (35x22,5 cm).
Colecção particular.
Óleo sobre madeira (31,5x20,9 cm).
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto.
PRAIA DA PÓVOA DE VARZIM (1881).
Óleo s/ madeira (55x31,5 cm).
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.
PÓVOA DE VARZIM (Séc. XIX).
Lápis grafite e pastel s/ papel (30x23 cm).
Museu de José Malhoa.
PRAIA DA PÓVOA DE VARZIM (1881-1888).
Óleo s/ madeira (50,8x33,8 cm).
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.
À ESPERA DOS BARCOS.
Óleo sobre tela (45x38 cm).
PRAIA DA PÓVOA DE VARZIM (1873-1927).
Óleo s/ madeira (51x34,2 cm).
Museu de Grão Vasco, Viseu.
PRAIA DE PESCADORES, PÓVOA DE VARZIM (SÉC. XIX).
Óleo sobre madeira (45x33 cm).
Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha.
MARINHA-PÓVOA DO VARZIM (SÉC. XIX).
Informação Técnica: Óleo sobre madeira (59,5x41 cm).
Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha.
A APANHA DO SARGAÇO (1841-1888).
Óleo sobre Madeira (55,5x41,5 cm).
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto.
A PRAIA (s/data).
Óleo sobre tela (47,5 x 57,5 cm ).
Casa Museu Anastácio Gonçalves, Lisboa.
PRAIA DE BANHOS (1884).
Óleo sobre tela (69,5x47,5 cm).
Museu do Chiado - MNAC, Lisboa.
PRAIA DE BANHOS, PÓVOA DE VARZIM, PORMENOR (1884).
Óleo s/ tela (60,5x47 cm).
Museu do Chiado - MNAC, Lisboa.
RECANTO DE ALDEIA, PÓVOA DE VARZIM (1882-1890).
Óleo s/ madeira (37x23 cm).
Museu do Chiado - MNAC, Lisboa.
PÓVOA DE VARZIM (SÉCULO XIX).
Aguarela sobre papel (15,3x22,8 cm).
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto.
A Póvoa! Meu caro Hernani, faz aqui falta o que está escrito na estátua do Vasques Calafate, na Póvoa. Sabes o que é? Vou procurar onde tenho isso escrito para te mandar. Há muitos livros relacionados com a Póvoa. Camilo passava lá os dias que podia, a esturrar umas massas no Chinês, com as espanholas. E há um livro já deste século, muito envolvido na atmosfera da Póvoa, o "Adeus às Virgens". A Agustina tem muitas páginas absolutamente de olhar poveiro. E o Régio também. Apesar de passar o tempo em Portalegre, como sabes, em todos os seus escritos há o cheiro, o som da ronca, a nortada de fim de tarde e o ruído cavo e assustador das ondas mais batidas. Adoro a Póvoa!
ResponderEliminarBom dia.
ResponderEliminarParabéns pelo artigo, sobre a belíssima Póvoa dos pescadores. A minha mãe é poveira e o meu pai caxineiro e tendo eu nascido em 1975 ainda tive a sorte de disfrutar da velha praia do peixe, onde as mulheres tratavam de acarretar o que vinha nas chatas para cima para a lota. Passei muito da minha infância ali, enquanto a minha mãe tratava desse peixe e depois vendia-se à face da estrada até final do dia, eu um puto todo contente com um safio em cada mão a vender. Jamais esquecerei esses tempos magníficos entre a minha gente, nos areais dos quadros que nos mostra aqui, tempos esses "limpos" pela modernidade. Ficam as memórias... e uma certa pobreza etnográfica que tem formas de ser reavivada, mas não o é.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Bom, depois das fabulosas crónicas do Alentejo, aqui temos o Mar, esse mar que corre nas veias de todos nós ! E que belos quadros aqui nos trouxe, alguns de que me lembro, outros que tenho esperanças de vir a conhecer !
ResponderEliminarMais uma vez obrigada e, por favor, continue!
Mais um excelente post, Hernãni!...Desta vez foste às searas de ondas, complementando com uma homenagem casadoira. O mar é como as nossas ondas de trigo, fala com o vento e ondula até à perdição.
ResponderEliminarQue fabulosa reprodução de quadros sobre o tema. Ficou-me nas vistas " A Espera dos Barcos" de João Marques de Oliveira.
O meu abraço de felicitações.
Claro, além do texto - magnifico, como sempre...- as imagens, as pinturas, claras, quentes, cheias de mar, como teria de ser ! Obrigada, amigo Hernâni, por mais esta lufada de ar fresco e lavado !
ResponderEliminarmf/.
Fernanda:
EliminarMuito obrigado pelo seu comentário, que como sempre é um estímulo no sentido de procurar fazer sempre melhor.
A escrita é entre muitas outras coisas, a procura da perfeição. Esta nem sequer assimptoticamente é atingida. Todavia, o que conta é o nosso esforço de operários da palavra. Sejamos pois os obreiros dum mundo em reconstrução, que se quer mais livre, mais justo e mais fraterno.
Boas Hernâni,
ResponderEliminarRespeito muito esta gente os pescadores, pelas condições de trabalho, pela incerteza de ir e voltar, pelo seu espirito de sacrificio. Se virmos uma localidade de pescadores vimos com certeza muitas mulheres de luto pelos seus entes queridos que foram e não mais voltaram
Quando nós estamos nas nossas caminhas no quentinho estão estes homens a arriscar a única vida que têm.
Sou completamente a favor de melhores condições para eles e suas familias. No aspecto profissional penso que deverão ser dadas todas as condições para que possam trabalhar com a máxima segurança.
As familias deles precisam.
Abraço
Abilio
É verdade, Abílio.
EliminarUm abraço e bom Natal.
Amigo, Hernâni Matos, usei algumas das fotos aqui postadas sobre a Póvoa antiga na composição (em video)de uma musica da Póvoa, "Ala Arriba pela Póvoa".
ResponderEliminarUm Abraço
Bonfim Milhazes
Fez bem.
EliminarJá vi o vídeo.Recordar é preciso.
Um abraço para si também e bom Natal.