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sábado, 17 de julho de 2010

O vinho na mitologia greco-latina

DIONISO E SÁTIRO - pintura sobre vaso grego, atribuída a Makron, cerca de 490 - 480 a.C. Antikenmuseen, Berlin.

Dioniso ou Baco, filho de Zeus e da princesa Semele, era o deus grego das festas, do vinho, da fecundidade, do lazer e do prazer, símbolo do desencadeamento ilimitado dos desejos e da libertação de qualquer inibição. É representado geralmente como um jovem imberbe, risonho e de ar festivo, de longa cabeleira, pegando um cacho de uvas ou uma taça numa das mãos e empunhando na outra um tirso (bastão envolvido em hera e ramos de videira e encimado por uma pinha). Tem sido sugerido o carácter fálico do tirso, no qual a pinha seria o símbolo do sémen.
Dioniso é por vezes figurado com o corpo coberto por um manto de pele de leão ou de leopardo, com uma coroa de pâmpanos na cabeça e conduzindo um carro puxado por leões. Pode igualmente ser apresentado sentado num tonel, segurando numa das mais uma taça donde absorve a embriaguez que o faz cambalear.
Dioniso é normalmente representado na companhia de outros bebedores:
- Sileno – Tutor de Dioniso, companheiro fiel e o mais velho, sábio e beberrão dos seus seguidores, que embriagado tinha o poder da profecia. Representado quase sempre bêbado, amparado por sátiros ou carregado por um burro.
- Sátiros - divindades menores da natureza com aspecto humano, cabelos eriçados, com grande cauda e orelhas bicudas de bode, pequenos cornos na testa, narizes achatados, lábios grossos, barbas longas e órgãos sexuais de proporções sobre-humanas, frequentemente mostrados em estado de erecção. Viviam nos campos e nos bosques, onde tinham relações sexuais frequentes com as Ninfas e as Ménades, que a eles se juntavam no cortejo de Dioniso, além de copularem com mulheres e rapazes humanos, cabras e ovelhas. A embriaguês era a fonte inesgotável da sua perpétua jovialidade e lubricidade.
- Ménades (ou Bacantes) - mulheres apaixonadas por Dioniso e entregues com fervor ao seu culto. Levadas à loucura pelo deus do vinho, que provocava nelas um estado de êxtase absoluto, entregavam-se a desmedida violência, derramamento de sangue, sexo, embriaguez e auto-flagelação. Representadas nuas ou vestidas com véus ligeiros, coroadas de hera e segurando um tirso ou um cântaro, por vezes tocavam flauta de dois tubos ou tamboril e entregavam-se a uma dança livre e lasciva (orgia ou menadismo), em total concordância com as forças mais primitivas da natureza. Vagueavam por montanhas e campinas e entregavam-se aos sátiros que também integravam o cortejo de Dioniso.
- Ninfas – jovens mulheres que povoavamm o campo, os bosques e as águas. São os espíritos dos campos e da natureza em geral, de que personificam a fecundidade e a graça. Apesar de serem consideradas divindades secundárias, a elas se dirigiam orações e por elas se nutria temor. Eram frequentemente alvo da luxúria dos sátiros.
O culto a Dioniso não tinha santuário fixo, sendo praticado onde quer que existissem adoradores do deus, na sua maioria mulheres (Ménades ou Bacantes). Os festivais realizados em homenagem do deus, eram basicamente festas da Primavera e do vinho. As danças frenéticas a que se entregavam as mulheres, davam-lhes uma sensação de liberdade e força, sendo-lhes atribuídos actos impressionantes como desenraizar árvores. As mulheres caçavam também animais que consumiam crus, acreditando que com este acto adquirissem a vitalidade e a imortalidade do deus. Os Gregos consideraram este culto nocivo e muitos governantes das cidades-estado procuraram proscrevê-lo.
Em 370 a.C., o culto a Dioniso (Baco) penetrou em Roma e tinha sacerdotisas conhecidas por bacantes. As festas, de natureza ritual, em homenagem ao deus Baco, conhecidas por bacanais eram nocturnas, secretas e frequentadas exclusivamente por mulheres durante três dias no ano. Posteriormente, os homens foram admitidos e as comemorações passaram a ocorrer cinco vezes por mês. A promiscuidade conjugada ao furor báquico no qual todos se entregavam a excessos de vinho e de sexo, estiveram na origem do saldo destas festas se saldarem por envenenamentos, testamentos falsos, desaparecimento de homens e mulheres, etc. Ao invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos do sexo oposto em número crescente, os bacanais tornaram-se factor de desordem e de escândalo, o que levou à publicação de um decreto por parte do Senado, em 186 a.C., proibindo as bacanais em toda a Itália. Contudo, mesmo com a proibição, o culto não desapareceu naquele tempo.



DIONISOS E SÁTIRO – pintura sobre vaso grego, atribuída a Makron, cerca de 490-480 a.C. Museu de Belas Artes de Boston.

JUVENTUDE DE BACO - pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825–1905), executada em 1884.

BACO - óleo sobre tela de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 - 1610), executada em 1593-1594. Galeria dos Ofícios, em Florença.


TRIUNFO DE BACO E ARIADNA - fresco de Annibale Carracci (1560-1609), executado entre 1597 e 1600 na abóbada do Palácio Farnesio, Roma.


BACO SENTADO NUM TONEL - Óleo sobre tela de Peter Paul Rubens (1577-1640). Galeria dos Ofícios, em Florença.

O BÊBADO SILENO - óleo sobre madeira de Peter Paul Rubens (1577-1640), executado cerca de 1616-17. Alte Pinakothek, Munique.

SÁTIRO – pintura sobre vaso grego, atribuída a Epiktetos, cerca de 510 - 500 a.C. Museu de Belas Artes de Boston.

DOIS SÁTIROS – óleo sobre madeira de Peter Paul Rubens (1577-1640), executada em 1618-1629. Alte Pinakothek, Munique.

MÉNADE -  fragmento de uma taça da autoria de Macron, cerca de 480 a.C., Atenas - Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas do Museu do Louvre.

BACANTE - óleo sobre tela de William-Adolphe Bouguereau (1825–1905), executado em 1894. Colecção particular.

NINFAS, óleo sobre tela de William-Adolphe Bouguereau (1825–1905), executado em 1878. The Haggin Museum, Stockton, California.


NINFAS E SÁTIRO, óleo sobre tela de William-Adolphe Bouguereau (1825–1905), executado em 1873. Sterling and Francine Clark Art Institute, Williamstown, Massachusetts.
DIANA E AS SUAS NINFAS SURPREENDIDAS PELOS FAUNOS - óleo sobre tela de Peter Paul Rubens (1577-1640), executada em 1638-40. Museu do Prado, Madrid.

2 comentários:

  1. Excelente pesquisa.
    Dáva-me um jeitão arranjar algumas provas de selos existentes de algumas destas obras,
    Cumprimentos,
    Liseta cardoso

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  2. Gostava de referir apenas aqui uma pequena curiosidade. Na antiguidade clássica os Gregos e Romanos misturavam água no vinho, algumas fontes sugerem porções entre 1/3 a 2/3. Para os Romanos era considerado "bárbaro" beber o vinho puro, algo que as tribos celtas e germânicas faziam regularmente.

    Aproveito para dar também os parabéns pelo seu blogue, um verdadeiro nicho de saber. Seguirei os seus escritos.

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