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domingo, 25 de abril de 2010

Abril de 1974 - Estremoz presente na Hora da Libertação


À frente da coluna, o Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura.

O derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime de Salazar e de Caetano - foi conseguido em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do Movimento das Forças Armadas – MFA, cuja origem remonta ao clima de instabilidade no interior das próprias forças armadas, particularmente do Exército, instabilidade essa que se manifestou em meados de 1973, com o surgimento do denominado Movimento dos Capitães, o qual aglutinava oficiais de média patente, insatisfeitos com as suas remunerações e com a perda de prestígio da oficialidade do quadro permanente, bem como com a Guerra Colonial, que desde 1961 ou seja há 13 anos, se arrastava em 3 frentes, sem se antever uma solução política para a mesma, bem como pela previsibilidade de uma derrota militar eminente.
COMO ERA PORTUGAL, ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974?
- O serviço militar durava quatro anos;
- Rara era a família que não tinha alguém a combater em África;
- Grosso modo, Portugal, com 10 milhões de habitantes, fizera um esforço de guerra em África cerca de nove vezes superior ao dos EUA, no Vietname, com os seus 250 milhões de habitantes;
- Portugal mobilizara para a guerra colonial mais de 800 mil jovens, teve 8 mil mortos, 112.205 feridos e doentes, 4 mil deficientes físicos e estima-se que cerca de 100 mil doentes de stress de guerra;
- 40% do Orçamento de Estado destinava-se à Defesa;
- A isto há que acrescentar a saída para os países ricos da Europa de milhão e meio de emigrantes entre 1960 e 1974;
- Os ordenados eram de miséria, sem direito a subsídios de férias e de Natal;
- Os sindicatos corporativos estavam fortemente controlados pelo regime;
- O despedimento de trabalhadores estava facilitado;
- Havia 21% de analfabetos e a vida cultural era apertadamente vigiada;
- As mulheres tinham menos direitos que os homens;
- As professoras primárias tinham de pedir autorização para casar, que só era concedido se o pretendido tivesse um ordenado igual ou superior ao da mulher;
- As mulheres precisavam de autorização do marido para poderem ser comerciantes, para arrendarem uma casa e para viajar para o estrangeiro;
- Os partidos e movimentos políticos estavam proibidos;
- Partidos políticos só havia um, a União Nacional – o partido do Governo;
- Os líderes oposicionistas como Mário Soares, Manuel Alegre ou Álvaro Cunhal, encontravam-se exilados;
- Reuniões só com autorização do Governo;
- Nas eleições só podiam votar os chefes de família, com um grau de instrução mínima e rendimentos. Assim ficavam de fora as mulheres, os analfabetos e os pobres. E tudo isto numa farsa de eleições onde, no recenseamento, eram logo excluídos dos cadernos eleitorais os opositores ao regime e depois, nas próprias eleições, se manipulavam e falsificavam os votos;
- A expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pela Cesura e pela polícia política, a PIDE que gozava de plenos poderes;
- A censura e a Pide controlavam os jornais, a rádio e a televisão e impediam-nos de ler, de ouvir ou ver tudo aquilo que pusesse em causa o regime ou que era considerado por eles, os bons costumes;
- Trabalhar na função pública, só com declaração de fidelidade ao regime vigente e a aprovação da PIDE;
- As prisões políticas estavam cheias;
- A PIDE, responsável por 80 assassinatos, prendeu, entre 1960 e 1974, cerca de 50 mil pessoas;
- Muitos dos presos políticos eram torturados e condenados com as chamadas medidas de segurança, isto é, terminada a pena de prisão, a PIDE podia mantê-los na prisão, sem novo julgamento, por períodos prorrogáveis até 3 anos, o que podia equivaler a prisão perpétua. Para ajudar a condenar estas pessoas existiam os tribunais plenários que só julgavam, sem efectivas garantias de defesa, os presos políticos;
- As greves estavam proibidas e eram consideradas crime;
Assim, dá para perceber, porque é que a acção militar do MFA foi apoiada maioritariamente pelo povo português que saiu à rua e apoiou a movimentação militar contra um regime politico que vigorava autocraticamente há 48 anos.
E COMO FOI A PARTICIPAÇÃO DO REGIMENTO DE CAVALARIA 3 NOS ACONTECIMENTOS DO 25 DE ABRIL DE 1974?
O RC3 de Estremoz tinha à data dos acontecimentos do 25 de Abril, quadros que haviam regressado da Guiné, nos finais do ano anterior. A unidade propriamente dita, era uma das mais bem equipadas do sul do país. Era sem sombra de dúvida, a mais forte em termos de material blindado, pelo que o comando do Movimento contava decisivamente com ela para o êxito da acção.
É no próprio dia de arrancar com a acção que os capitães Andrade Moura, Alberto Ferreira, Miquelina Simões, Major Fernandes Tomaz e outros conseguem conquistar para a sua causa o comandante da unidade, coronel Caldas Duarte.
E quando a rádio passa conforme combinado, a canção “Grândo!a Vila Morena" de Zeca Afonso, inicia-se de imediato no quartel do RC3, sob o comando do capitão Andrade Moura, a formação do esquadrão que vai participar na acção militar, carregam-se munições nos blindados e prepara-se a saída.
Logo que armado e municiado, o esquadrão fez-se à estrada. Em viatura civil, à frente dos batedores, ia o capitão Miquelina Simões e outro oficial. Alguns quilómetros atrás, o esquadrão sob o comando do capitão Andrade Moura e como adjunto o capitão Alberto Ferreira. No final da coluna seguiam viaturas Berlier com munições, água, combustível e óleo. Na acção participa o comandante da unidade, coronel Caldas Duarte.
O esquadrão do RC3, partido de Estremoz tinha a missão de se dirigir a Caxias a fim de libertar os militares e os presos políticos ali detidos. Quando está na zona da Ponte Salazar, o comando do MFA decide alterar a missão, dando ordens para que o esquadrão do RC3 se dirigisse para o Largo do Carmo, em Lisboa, onde um esquadrão da Escola Prática de Cavalaria sob o comando do capitão Salgueiro Maia estava a ser pressionado por numerosas forças da GNR, fieis ao regime. O esquadrão do RC3 atravessa a ponte a toda a velocidade e com determinação e jogando com o factor surpresa, apanha completamente desprevenidas as Forças da G.N.R., que se vêem de repente cercadas por um anel blindado. Na sequência deste envolvimento, um oficial da GNR dirige-se ao esquadrão do RC3 para dialogar, a fim de evitar um derramamento de sangue. O capitão Andrade Moura exige então a retirada em boa ordem das forças da GNR que não tinham aderido ao movimento, o que aconteceu cercas das duas horas da tarde de 25, enquanto o RC3 impede qualquer reacção hostil às forças da GNR. O RC3 isola então completamente a área frente ao Quartel do Carmo, ocupada pelo esquadrão do capitão Salgueiro Maia. Mais tarde verifica-se a rendição do Chefe do Governo, Marcelo Caetano, aí refugiado, ao General António de Spínola.
Entretanto os populares, com especial destaque para estudantes universitários tinham iniciado a caça ao Pides. Estes encurralados na sede da Rua António Maria Cardoso, abrem fogo sobre a multidão que se aglomera na referida artéria, causando 4 mortos e dezenas de feridos.
O capitão Moura alertado para o facto, divide as forças de que dispunha e segue com uma coluna para aquele local, cercando a sede da polícia política onde conforme se soube posteriormente estavam cerca de 250 Pides barricados, oferecendo resistência às forças do exército. O capitão Moura, com prudência, a fim de mais uma vez evitar derramamento de sangue na tentativa da tomada da sede da Pide de assalto, exige a sua rendição, o que não se processa logo, tendo o capitão Moura solicitado um reforço de homens ao comando do MFA, que para ali enviou um destacamento de fuzileiros especiais, que chegaram cerca das duas horas da madrugada do dia 26 de Abril.
Só cerca das 9 horas e 30 minutos da manhã de 26, após 12 longas horas de espera, se dá a rendição da polícia politica, ao longo das quais foi necessária a intervenção junto dos populares, recomendando prudência e civismo, a fim de evitar uma chacina de grandes proporções se os populares tivessem concretizado um pretendido ataque às instalações onde os pides estavam barricados.
Pelas 13 horas do dia 26 de Abril, iniciar-se-ia a libertação dos presos políticos nas cadeias de Caxias e Peniche.
Terminada a missão o esquadrão do RC3 seguiu para o Regimento de Cavalaria 7 sob os aplausos da multidão e restava o regresso a Estremoz, o que fez desempenhando nova missão, a de escoltar até Évora o novo comandante da Região Militar Sul, Coronel Fontes Pereira de Melo, daí o regresso o regresso por Évora Monte e a entrada pelas portas de Santo António, até ao quartel do regimento onde o esquadrão do RC3 cumprida a missão que o levara a Lisboa é aclamado pela multidão entusiasmada e recebe honras militares.
Estremoz estivera presente na hora da libertação através do papel determinante desempenhado pelo RC3, no desenrolar dos acontecimentos. De resto, o estremocense general António de Spínola era o Presidente da Junta de Salvação Nacional já apresentada à Nação através da RTP.
E EM ESTREMOZ?
Em Estremoz, no dia 25 de Abril de 1974 a população acordara alvoraçada com as notícias do que se passara e já sabia que uma coluna do RC3 marchara de madrugada sobre Lisboa e tomara parte activa nos acontecimentos. Reacções de júbilo da maioria, outros nem tanto. Uma procura ávida de informação através da rádio e da televisão e uma corrida aos jornais, para saber notícias frescas. Contrariando as recomendações da Junta de Salvação Nacional, o comércio não fechou, o que só aconteceria com algumas agências bancárias.
E A NÍVEL DO PAÍS?
No dia 28 de Abril, Mário Soares regressa a Portugal.
No dia 30 é a vez de Álvaro Cunhal.
No dia 1º de Maio, Centenas de milhares de pessoas, em todo o País, festejam nas ruas o Dia do Trabalhador, em democracia e em liberdade. "O Povo está com o MFA" será a palavra de ordem mais gritada.
O 25 DE ABRIL, 36 ANOS DEPOIS.
36 anos depois, continua a fazer sentido lembrar às novas gerações o que foi o 25 de Abril de 1974, ainda que perspectivado em termos locais.
Numa primeira parte intitulada “O REGRESSO DO RC3 A ESTREMOZ”, com recurso a fotos editadas pelo jornal ECO DE ESTREMOZ, de 30 de Abril de 1974 e a legendas do mesmo jornal, evoca-se o regresso à nossa Terra, no dia 27 de Abril de 1974, do Esquadrão do RC3, que comandado pelo Capitão Andrade Moura, tendo como adjunto o Capitão Alberto Ferreira e com a participação do 1º Sargento Francisco Brás, teve papel determinante no desfecho dos acontecimentos do 25 de Abril de 1974, em Lisboa.
A sucessão de fotografias mostra a evolução da coluna ao longo da estrada à vinda por Évora Monte, a chegada a Estremoz pelas Portas de Santo António, bem como as honras militares e a aclamação popular, junto ao quartel do Regimento.
É o nosso modesto contributo para homenagear aqueles a quem devemos a recuperação da liberdade e da democracia, o Movimento das Forças Armadas e em particular o heróico batalhão do RC3 cujo desempenho no desenrolar da acção militar foi determinante. Para eles, o nosso reconhecimento pela liberdade reconquistada.

(Publicado inicialmente em 25 de Abril de 2010)

À frente da coluna, o Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura.

A alegria da vitória, que o cansaço não conseguiu abater. De pé, o 1º Sargento Francisco Brás.


O Capitão Alberto Ferreira e os seus homens com um sorriso de satisfação.

À vista de Estremoz, a coluna em movimento. Sempre presente, o “V” da Vitória.

Aspecto parcial da coluna militar no seu regresso e com a missão cumprida.

O Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura, entra na cidade,
pelas Portas de Santo António.


O Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura, entra na cidade,
pelas Portas de Santo António.

À chegada, frente ao edifício do RC3: Honras Militares e Aclamação Popular.

8 comentários:

  1. 25 de Abril,Sempre. Um magnífico relato da participação do RC3 na madrugada fundadora da 2ª República, bem como uma síntese bem estruturada do "antes". Parabéns pelo texto/homenagem...

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  2. Nesta data era residente no RC3 pois estava a formar um Batalhão que iria para Angola. O batalhão era o 8325/74 e embarcaria em Agosto de 1974. Como oficial miliciano tive o previlégio de conhecer pessoalmente todos os intervenientes. 25 de Abril sempre!
    António Gargaté

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    1. Perdoe-me a interferência, mas vi que assinou o seu comentário António Gargaté. Se não fôr muito indiscreta gostaria de saber se porventura pertence à família Gargaté de Estremoz. O meu sogro era Carlos Gargate6, médico radiologista, e o meu marido António Gargaté também médico radiologista infelizmente falecido em 2009. O 1o comentário julgo ser de um cunhado meu ,que ainda é vivo. Fiquei impressionada quando vi escrito António Gargaté. Gostava de saber qual a relação familiar entre nós.
      Posso dizer-lhe que o meu sogro era de Castelo de Vide. O meu marido nasceu em Estremoz.
      Acho que nós, pelo seu nickname, já nos conhecemos de blogs do Benfica. Não sei se estou enganada.
      Muito obrigada
      Maria Fernanda Gargaté

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    2. D. Maria Fernanda Gargaté:
      Sou o autor do blogue e só hoje é que vi o seu comentário.
      Conheçi a família Gargaté, os seus sogros incluídos.
      O António Gargaté que não sei localizar, seria de acordo com o comentário, oficial no RC3.
      Os meus melhores cumprimentos.
      Hernâni Matos

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  3. Sou um entusiasta da revolução do 25 de abril de 1974. Todas as informações que se possam divulgar sobre o acontecimento são sempre boas, quer para as novas gerações quer para os menos novos, que embora já fossem adultos em 25 de abril de 1974 olharam essa liberdade com alguma desconfiança. Foram esses que muito contribuiram, aliados à classe previligiada da época, para que o processo revoluncionário fosse travado. Temos hoje uma situação económica dificil para centenas de milhares de portugueses, que não teriam se a revoluão não tivesse sido travada.
    Para mim foi um dia particularmente feliz. A multidão que aparece no largo do carmo apoiando o movimento das foras armadas e a consequente prisão de marcelo caetano, eu com os meus 70 quilos de peso, na época, estava lá também a encher aquele largo. Recordo-o com saudade.
    Albino Lopes

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  4. Excelente e meritória evocação que fazes nesta data em que se comemora os 37 anos do 25 de Abril. A presença do RC3 não é mais do que dar continuidade à tradição libertadora que Estremoz sempre teve no decorrer da História. Sobretudo os mais novos devem guardar deste texto uma memória formativa e lembrar que viver hoje em liberdade teve os seus mártires e outros dedicados lutadores pela liberdade.

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  5. Caro Hernâni

    A ditadura de Salazar infelizmente não é a mais antiga da Europa, A bolchevique sim. Data de 1917, de partido único e com métodos bem iguais à do nosso consulado salazarista.
    Sou adepto de todas as revoluções, desde que tragam a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
    Fui um aderente desde a primeira hora do 25 de Abril, um Abril de muitos sonhos!!! No consulado Salazarista existia analfabetismo, prepotências, violências, discriminações e outras coisas mais tudo próprio das ditaduras!! sejam elas de direita, esquerda, centro,do que forem.

    Mas 37 anos passados o que temos com a democracia do 25 de Abril?? A bancarrota com 160.000 milhões de euros de divida, 3 milhões de pobres, 4.400.000 portugueses que ganham menos de 500.00 euros, mais de 1.000.000 de desempregados, muitos polítiqueiros, mas segundo Mário Soares, Vasco Lourenço e companhia, estamos melhores, muito melhores !!!! Certamente alguns sim, outros têm os bolsos vazios, dívidas para pagar, filhos para criar e educar, mas comemora-se o 25 de Abril, mas certamente este não foi o 25 de Abril que eu quiz, aquele que gerou uma não, mas muitas gerações à rasca, muita pobreza, uma riqueza encapotada ao ponto de o homem mais popular de Portugal, segundo um recente concurso ser imagine-se ...... O nosso António de Santa Combadão!!!!!!!
    Continuamos a sonhar num país de corruptos, de levianos, de falsários de ...... desgraçados, que nos desgraçaram, a mim, à minha geração, à dos meus filhos e dos meus netos!!
    Mário Soares e Vasco Lourenço não foram ao 25 de Abril de 2012, mas foram aos outros todos !! Comemorar o quê? o nosso caminho para a miséria onde estamos e donde dificilmente sairemos. Não comemos liberdade, mas ela devia ter-nos servido para ter trazido felicidade e bem estar!
    Tal como dizia Guerra Junqueiro, os portugueses precisam sempre de um bom pastor com um bom cajado! Pergunto onde está o pastor, onde está,, para dar umas valentes " porradas" a esta malta que nos lixou, bem lixados.
    Um abraço amigo
    Pedro Vaz Pereira

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    1. Pedro:
      Obrigado pelo seu oportuno e pertinente comentário.
      Um abraço para si, também.

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