sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Bonecos de Estremoz, de Joaquín Morales Leyva



Joaquín Morales Leyva é um dedicado coleccionador de Bonecos de Estremoz e membro bastante activo da página BONECOS DE ESTREMOZ, por mim criada no Facebook, em 2016. Aí vem há muito divulgando as suas aquisições e interactuando com outros coleccionadores com os quais partilha a sua grande paixão.
A sua colecção espraia-se por exemplares que lhe “aqueceram a alma” e que vão desde criações de barristas do presente até outras que se situam num passado que se pode considerar remoto. A amplitude de tal intervalo temporal é ainda reforçada pela intenção de coleccionar a mesma figura manufacturada por diferentes barristas, o que lhe permite ter consciência plena das marcas identitárias de cada um e do modo como tem evoluído a representação de cada figura pelos diferentes barristas, não só em termos de modelação como em termos cromáticos.
O entusiasmo que nutre pelos Bonecos de Estremoz tem o levado a adquirir e a ler a bibliografia disponível sobre o assunto, o que lhe tem permitido tomar conhecimento com a História dos Bonecos de Estremoz e com a biografia dos nossos barristas, alguns dos quais já conheceu pessoalmente nas suas deslocações a Estremoz.
Uma forte motivação, associada a uma rara sensibilidade artística e uma bem apetrechada capacidade oficinal, levaram-no sob orientação do barrista Jorge da Conceição, de quem é cliente e amigo, a atirar-se para a frente e a procurar voar mais alto. Começou por produzir assobios zoomórficos, dos quais vos deixo aqui algumas imagens, reproduzidas com a devida vénia da sua página do Facebook (Assobios de Joaquín Morales Leyva). Revelam-nos um trabalho pautado por uma modelação primorosa e bem dimensionada e um cromatismo vivo e apelativo. Creio que o Joaquín não ficará por aqui. Tem ganas de fazer figuras mais complexas. E eu sou um dos que aguardam com expectativa mais esse passo em frente e por isso lhe digo:
- Força companheiro! Para a frente é que é caminho!
É que de Estremoz para a Galiza vai a distância de um grande abraço.








 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ESTREMOZ / Uma tragédia nunca vem só

 

Fachada da actual Biblioteca Municipal de Estremoz, no Largo General Graça.
Fotografia recolhida com a devida vénia no sítio do Município de Estremoz.


Exórdio
Ainda pairam no ar, os ecos de toda a trapalhada suscitada pela intenção do anterior executivo municipal (MIETZ) de implementação do Monumento ao Boneco de Estremoz no polémico Parque Municipal de Santa Catarina. Apesar disso, o actual executivo municipal (PS) vê-se novamente com “uma criança nos braços”, herdada do anterior executivo. Trata-se do gravíssimo estado em que ficou o novo edifício da Biblioteca Municipal, após as intensas e fortes chuvadas do passado dia 13 de Dezembro, para o qual fora decretado estado de alerta vermelho pelo Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O que ali aconteceu foi uma autêntica tragédia, a qual relatarei mais adiante, recorrendo ás palavras de José Sadio, actual Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, no decurso da reunião ordinária daquele órgão, ocorrida no passado dia 14 de Dezembro.
Como demostrarei no desenvolvimento do presente texto, o espaço em que foi construída a actual Biblioteca é um espaço de tragédia. Daí urge inferir as necessárias ilações para memória futura e com fins preventivos.

1ª tragédia
Por omissão de sucessivos executivos municipais, o chamado Edifício Luís Campos nunca foi classificado como imóvel de interesse público, pese embora o facto de o historiador de arte, Túlio Espanca, no Inventário Artístico de Portugal, o qual abrange o concelho de Estremoz e foi dado à estampa em 1975, ter realçado o interesse do imóvel, o qual remontava aos finais do séc. XVIII e incluía um património azulejar notável, que só por si justificaria aquela classificação.

2ª tragédia
Após o 25 de Abril, a Mercearia Luís Campos foi á falência e o edifício ficou ao abandono, até que alguém o adquiriu para o despojar de toda a azulejaria e não só, que depois vendeu a quem muito bem entendeu, uma vez que o edifício não se encontrava classificado. O referido património azulejar está actualmente exposto no Museu Berardo Estremoz.

3ª tragédia
Por motivos ainda hoje desconhecidos, o executivo municipal MIETZ resolveu adquirir o edifício e em 2016 já era publica a intenção de aí construir a futura Biblioteca Municipal, que do edifício anterior apenas viria a manter a fachada.
A decisão foi então objecto de fortes críticas da opinião pública, na medida em que o local e o espaço em que iria decorrer a construção, condicionavam fortemente as opções dos projectistas.

4ª tragédia
No decurso das obras, manifestou-se uma nascente de água nas fundações, a qual indiciava a conveniência ou melhor a necessidade de abandono da intenção de ali construir o futuro edifício da Biblioteca Municipal. Todavia, essa não foi a opção do executivo municipal em exercício de funções. Este decidiu prosseguir as obras projectadas até á sua finalização, procurando fazer passar a mensagem segundo a qual, a instalação de duas bombas hidráulicas em funcionamento permanente, permitiriam escoar a água que continuamente brotava da nascente.

5ª tragédia
Na sequência da forte intempérie ocorrida no passado dia 13 de Dezembro, o Presidente José Sadio, no decurso da reunião camarária ocorrida no dia seguinte, fez o balanço possível das sequelas da inclemência do tempo.
Referindo-se em particular á Biblioteca Municipal, informou que a situação da mesma era gravíssima e explicou porquê. As bombas de água instaladas na Biblioteca e que retiram a água no caso de o poço encher, revelaram-se manifestamente insuficientes, o que exigiu o reforço com outra bomba. Por outro lado e face ao risco, de inundação grave, houve que fazer prevenção no local. Tornou-se ainda necessário instalar sistemas de vigilância e detecção para emitir alarmes para o exterior, uma vez que eles não existiam.
Deu também conhecimento de que havia água por todo o edifício, muito em particular no auditório, registando-se graves prejuízos nos equipamentos de som e de luz.
Informou ainda que foi convocada a empresa construtora e a fiscalização, tendo sido reportadas todas as anomalias verificadas. De resto, vai ser accionada a garantia, esperando que se resolvam os problemas detectados para que o sucedido não volte a ocorrer.

O futuro é imprevisível
Ainda que o pessimismo não integre a matriz do meu pensamento, não sou um optimista irritante como o nosso actual Primeiro Ministro. Daí que dada a instabilidade cada vez maior do clima e que conduz a eventos meteorológicos cada vez mais extremos, ao contrário do Presidente José Sadio, não acalento a esperança de que o sucedido no passado dia 13 não se volte a repetir. É que o edifício da Biblioteca foi construído sobre uma nascente de água, está situado numa zona de acentuado declive e encontra-se na vizinhança dum curso de água subterrâneo.
A construção da Biblioteca no local onde foi efectuada, consistiu, a meu ver, numa tentativa vã de vencer as leis da Natureza. Estas, quando constrangidas ou desviadas do seu curso natural, procuram caminhos alternativos de acordo com as leis da Física. Surgem então os estragos consequentes, quase sempre irreversíveis e irreparáveis, que só surpreendem os ignorantes e os incautos, mas que são prejudiciais à comunidade no seu todo.
A sabedoria popular acerca do futuro é diversificada: “Não se pode contar com o futuro”, "Confiar no futuro mas pôr a casa no seguro", “O futuro a Deus pertence". Pessoalmente, encaro o futuro como imprevisível, o que me leva a não excluir os piores cenários. Daí que faça votos para que no local da antiga e prestigiada Mercearia Luís Campos, apostada em vender bacalhau sempre bem seco, não venham os amantes da leitura, a ter que consumir livros de molho.

Epílogo
Somos um país de brandos costumes, no qual a perda de memória colectiva tem tendência a branquear e validar situações lesivas do interesse geral da comunidade. Daí a importância da memória no exercício pleno da cidadania.
Ensina-nos a ancestral sabedoria popular que “A culpa não pode morrer solteira”, o que implica o exercício da cidadania através do sufrágio popular. Através dele, cada um de nós e de acordo com a sua consciência, pode prescindir daqueles cuja prática considera ter sido lesiva dos interesses da comunidade.
Pela minha parte, aguardo com serenidade a realização das próximas eleições autárquicas. Quando? Não sei!
Publicado no jornal E, nº 302, de 22 de Dezembro de 2022

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Mais esgrafitos no Outeiro?

 

Chaminé do prédio com os nºs 2 e 4 da Travessa do Outeiro, em Estremoz. São visíveis
3 peças oláricas, incrustadas na chaminé e pintadas de branco.

Imóvel de Interesse Municipal
No passado dia 22 de Outubro, a convite do meu amigo Nuno Ramalho, fui observar e fotografar a fachada da casa dos seus pais, localizada nos números 24 e 25 do Largo do Outeiro, em Estremoz. O registo da observação efectuada, permitiu-me interpretar a decoração apotropaica aí patente, trabalho de decifração que foi divulgado nos nºs 299 e 300 do Jornal E. A descoberta e o trabalho de decifração realizados, despertaram o interesse do Município, que solicitou aos correspondentes Serviços, a elaboração de uma proposta de classificação do edifício como Imóvel de Interesse Municipal. Uma tal proposta será submetida a discussão e votação numa próxima reunião do Executivo Municipal. O edifício ficará então com protecção legal que assegurará a preservação do esgrafito recentemente descoberto. Entretanto, no passado dia 24 de Novembro, uma responsável da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, deslocou-se a Estremoz para se inteirar da descoberta e fotografar o local.

Não há uma sem duas
Na mesma altura e por sugestão de Nuno Ramalho, fotografei igualmente a chaminé do prédio com os nºs 2 e 4 da Travessa do Outeiro, contíguo pelo lado direito, ao prédio com os nºs 24 e 25 do Largo do Outeiro. A observação da chaminé revelou a existência daquilo que configura ser a incrustação de três recipientes para transporte de líquidos, dois iguais situados ao mesmo nível e outro diferente, situado no eixo central e vertical da chaminé, mas num nível inferior ao dos outros dois. A superfície daquilo que parecem ser recipientes de barro está pintada de branco, tal como o resto da chaminé.
Segundo Nuno Ramalho, trata-se de bilhas de barro, cuja superfície revelava a cor natural deste material, mas que há cerca de 20 anos foram pintadas conjuntamente com a chaminé. Nessa mesma altura, conforme refere, foram também pintados dois anjos esgrafitados na chaminé, virados um para o outro e que seguravam nas mãos as duas vasilhas de barro, situadas no nível superior. Na parte debaixo da chaminé, junto ao recipiente de barro inferior, também haveria vestígios de esgrafitos, cuja natureza não conseguiu precisar. De acordo com ele, tudo tinha sido posto a descoberto pela inclemência do tempo, até que que o proprietário do prédio, o mandou pintar novamente.
Admito que aquilo que Nuno Ramalho diz, possa ser verificado na própria chaminé, a qual a meu ver merecia um estudo mais aprofundado, nomeadamente através da iniciativa de remoção cuidadosa de camadas de pintura, até surgirem os referidos esgrafitos.
A meu ver, devemos estar em presença de outra decoração apotropaica de inspiração cristã. Vejamos porquê.
De acordo com a tradição bíblica e a fé cristã, Deus criou os Anjos da guarda, aos quais é confiada individualmente cada pessoa ao nascer, protegendo-a do mal até onde Deus o determine: “Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado” (Êxodo 23:20).
De acordo com a minha interpretação, na presente decoração apotropaica de inspiração cristã e de época desconhecida, na óptica da crença vigente, os anjos da guarda asseguravam a protecção divina daquela casa, decerto casa de oleiro e/ou olaria e seus moradores e/ou artífices. Tudo estaria, assim, protegido de espíritos malignos que pretendessem entrar pela chaminé, ainda que as portas e janelas estivessem bem fechadas.

Não há duas sem três
As inúmeras indicações e referências que vou recolhendo aqui e ali, parecem fornecer pistas que me levam a crer que os esgrafitos do Largo do Outeiro e da Travessa do Outeiro, possam não ser os únicos por aquelas bandas. São dúvidas que formulo e que só poderão ser respondidas através duma investigação sistemática e profunda a realizar no local, o que exige meios técnicos e materiais, cuja disponibilidade está sempre condicionada pelos meios financeiros e pela oportunidade da sua disponibilização. De qualquer modo, esta é uma reflexão que se impunha e que aqui registo para memória futura.

Publicado no jornal E, nº 301, de 07 de Dezembro de 2022

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

5.º Aniversário do Boneco de Estremoz como Património da Humanidade

 


Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 5 de Dezembro de 2022

No próximo dia 7 de dezembro o Município de Estremoz celebra o 5.º aniversário da inscrição do Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Estremoz.

Do programa destacamos as seguintes atividades:

- 18:00 - Cerimónia de Celebração do V Aniversário da Inscrição da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO), com as intervenções de:
  • Hugo Alexandre Nunes Guerreiro - Coordenador técnico da candidatura e responsável pelo Plano de Salvaguarda
  • José Daniel Pena Sádio - Presidente da Câmara Municipal de Estremoz
- 18:20 - Entrega de diplomas de certificação a barristas, pela A. CERTIFICA, Lda;
  • Fátima Estróia
  • Inocência Lopes
- 18:25 - Cerimónia de fundação da "Confraria do Boneco de Estremoz", com as intervenções de:
  • Hugo Alexandre Nunes Guerreiro, Meirinho das Cortes: apresentação dos Estatutos e Usos e Costumes
  • Paulo Azenha, estilista e designer do Trajo da "Confraria": apresentação do trajo da "Confraria" (via Zoom)
  • Pedro Calhordas, designer: apresentação do logotipo da "Confraria"
  • Alexandre Correia, Grão-Mestre da Confraria: apresentação da "Confraria"
  • José Daniel Pena Sádio, Presidente da Câmara Municipal de Estremoz
- 19:30 - I Jantar dos fundadores da "Confraria" e amigos;

- 21:30 - Concerto da Banda Sinfónica da PSP de Angariação de Fundos para a CERCI Estremoz, integrado nestas comemorações, no Teatro Bernardim Ribeiro.


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Câmara Municipal de Estremoz propõe classificação da decoração apotropaica descoberta no Largo do Outeiro

 


LER AINDA

No princípio do mês de Outubro foi posta a descoberto na fachada duma casa do Largo do Outeiro, em Estremoz, a parte residual de uma decoração apotropaica primitiva, datada do séc. XVII, a qual, em data desconhecida do séc. XVIII, foi mutilada para permitir a abertura de uma janela no local onde antes existiu uma chaminé. A decoração apotropaica agora descoberta, é seguramente a mais antiga do Alentejo.
A interpretação da mesma pelo professor Hernâni Matos, levou-o a concluir estar-se em presença de uma representação simbólica de índole cristã, a qual visava invocar a protecção do Poder Divino de Deus para afastar espíritos perversos ou danosos e proteger aquela casa de todos os males. Uma tal interpretação permitiu a extrapolação da decoração apotropaica residual, numa perspectiva de reconstituição do aspecto que a mesma teria antes de ser mutilada, tendo sido criada a respectiva imagem gráfica.
A descoberta foi tema dos dois anteriores números do Jornal E’, apresentado e analisado pelo referido professor Hernâni Matos, colaborador deste Jornal.
Chegado o momento de passar a palavra às entidades públicas com responsabilidade na matéria, o E’ quis saber, junto da Câmara Municipal de Estremoz e da Direção Regional de Cultura do Alentejo qual a importância que dão a esta descoberta arqueológica, quais as medidas que pretendem tomar no sentido de conservar e salvaguardar aquele património cultural do séc. XVII, qual a divulgação para efeitos do turismo, nomeadamente do turismo religioso que entendem merecer.
Ao E’ o Presidente da Câmara Municipal de Estremoz fez saber que o município “está a trabalhar para que numa próxima reunião de Câmara se possa apresentar a classificação do edifício como de “imóvel de interesse municipal”, de acordo com a lei 107/2003, de 8 de setembro”. Segundo o autarca, “o objetivo será o de acrescentar uma proteção legal para preservação do esgrafito descoberto, dado que o mesmo já se encontra salvaguardado, pois o referido imóvel está enquadrado na Zona Especial de Proteção do recinto muralhado de Estremoz”, acrescentando que as demais questões colocadas “carecem de maior aprofundamento e análise”.

Publicado no nº 300 do jornal E, de 24 de Novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Porta Nova era, Porta Nova ficou

 

ESTREMOZ – Largo do General Graça, cerca de 1900. Bilhete-postal ilustrado, edição de
Faustino António Martins, Lisboa. Chapa fotográfica nº 1206. O local foi designado por
Largo da Porta Nova até 1891, ano a partir do qual passou a ser identificado como Largo
General Graça, topónimo que se manteve até 1911, ano em que foi renomeado como
Largo da República.

Mudam os nomes, mas o local continua
Em Estremoz, o actual Largo da República já se chamou Largo General Graça e antes disso Largo da Porta Nova. Quando e porquê ocorreram tais mudanças de nomes? É uma pergunta a que procurarei dar resposta na presente crónica.

Primórdios da Porta Nova
1492 – No fundo da Santa Casa da Misericórdia de Estremoz, depositado no Arquivo Municipal da cidade, existe entre outros, o Livro de Tombo nº 9, contendo as cópias dos termos originais do livro pequeno de pergaminho com o nº 8 e dele transcrito em 30 de Outubro de 1687. Na folha 9, desse livro pequeno de pergaminho, com data de 12 de Novembro de 1492, constava a carta de aforamento que a Confraria da Misericórdia fez a João Bailhão, carpinteiro, de uns lagares que estavam nos arrabaldes das covas (local que viria a ser designado por Terreiro das Covas), à Porta Nova.
Aquela que parece ser a ocorrência mais antiga do topónimo Porta Nova, corresponde ao ano de 1492, no decurso do reinado de D. João II (1481-1495), que tomou a iniciativa de criar novas muralhas que protegessem as localidades fronteiriças das incursões dos espanhóis. O mesmo se havia já passado no reinado de D. Fernando I (1367-1383). Presume-se que a designação Porta Nova, tenha tido origem numa porta aberta nas muralhas então construídas num daqueles reinados, a qual seria a porta mais recente no conjunto de todas as muralhas existentes naquela época. A expansão da vila terá exigido o derrube dessas muralhas mais recentes, mantendo-se, todavia, o topónimo Porta Nova.
1610 – A Irmandade da Misericórdia, instalada na Igreja de São Miguel (ou do Anjo da Guarda) desde 1534, de acordo com alvará de Filipe II, datado de 6 de Fevereiro de 1610, transfere-se para um edifício existente no Terreiro da Porta Nova, actualmente ocupado pela Sociedade Recreativa Popular Estremocense e pela Sociedade Filarmónica Artística Estremocense.
1648 - Devido á falta de pão que havia na vila, foi eleito Manuel Martins Prioste morador da mesma, para ir à cidade de Lisboa comprar 600 mil reis de trigo, que se obrigava a trazer á Porta Nova para ser vendido á ordem do juiz de fora e dos vereadores (Acta da Sessão da Câmara - 23 de Março de 1648).
1689 - Referência à existência de açougues na Porta Nova (Acta da Sessão da Câmara - 29 de Janeiro de 1689).
1766 - É mandada arrematar a venda da pólvora a Francisco Ferreira, tendeiro, morador á Porta Nova (Acta da Sessão da Câmara – 26 de Fevereiro de 1766).
1885 – A Porta Nova está referenciada na planta da vila, executada em 1855 por Frederico Perry Vidal.
1859 - A Rua da Porta Nova consta da Relação dos bairros, ruas, calçadas, terreiros, travessas e largos da vila de Estremoz que compõem a freguesia de Santo André.

Porta Nova com dragonas de General
1891 - É aprovada por unanimidade a proposta do vereador Domingos Joaquim da Silva para que ao Largo da Porta Nova se dê o nome de Largo General Graça, como forma de reconhecimento e homenagem pelos serviços prestados ao concelho pelo General Manuel Vicente Graça, enquanto Director das Obras Públicas do Distrito de Évora (Acta da Sessão da Câmara – 4 de Março de 1891).

E viva a República!
1911 - Foi deliberado que o Largo General Graça passe a ser denominado Largo da República e que o Largo de D. José I, passe a denominar-se Largo de General Graça (Acta da Sessão da Câmara – 13 de Setembro de 1911).
Com a queda da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, tornava-se necessária a afirmação do novo regime. Daí que a nível local tenham ocorrido alterações toponímicas. Entre elas, a aqui referida e que só ocorre após a aprovação da nova Constituição pela Assembleia Constituinte, em 21 de Agosto desse ano.

O peso da tradição oral
A Sociedade Recreativa Popular Estremocense, situada no Largo da República e fundada em 1887, anteriormente à aprovação da designação Largo General Graça (1891), continua a ser popularmente designada como Sociedade da Porta Nova ou simplesmente Porta Nova, o que é revelador do peso da tradição oral. O povo continua a reconhecer-se no topónimo primitivo e inicial, de índole topográfica. Nem um general monárquico nem a República, o fazem esquecer. De resto, a mesma tradição oral regista os provérbios: "O povo é quem mais ordena" e "A voz do povo, é a voz de Deus".

Agradecimentos
Esta crónica não teria sido possível sem o apoio documental do Arquivo Municipal de Estremoz, a quem compete a salvaguarda, valorização e divulgação do espólio documental concelhio, o qual retrata a vida e a história da comunidade e está ao seu serviço.
O Arquivo Municipal de Estremoz conta com uma valiosa equipa de “formiguinhas” que dedicadamente trabalham na sombra, afastadas das luzes da ribalta, assegurando que ele possa cumprir a missão que lhe está atribuída. BEM HAJAM, FORMIGUINHAS!

Publicado no nº 300 do jornal E, de 24 de Novembro de 2011