domingo, 2 de junho de 2019

Poesia Portuguesa - 091



GARRAS DOS SENTIDOS
AGUSTINA BESSA LUÍS (1922-2019)

Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.

São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.

Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.

São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.

Dá má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.

Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.

AGUSTINA BESSA LUÍS (1922-2019)

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Poesia Portuguesa - 090


PEQUENINA
FLORBELA ESPANCA (1894-1930)

És pequenina e ris ... A boca breve 
É um pequeno idílio cor-de-rosa ... 
Haste de lírio frágil e mimosa! 
Cofre de beijos feito sonho e neve! 

Doce quimera que a nossa alma deve 
Ao Céu que assim te faz tão graciosa! 
Que nesta vida amarga e tormentosa 
Te fez nascer como um perfume leve! 

O ver o teu olhar faz bem à gente ... 
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores 
Quando o teu nome diz, suavemente ... 

Pequenina que a Mãe de Deus sonhou, 
Que ela afaste de ti aquelas dores 
Que fizeram de mim isto que sou! 

FLORBELA ESPANCA (1894-1930)

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Bonecos de Estremoz: morfologia e cromática dos assobios compostos


No conjunto dos Bonecos da Tradição incluem-se os assobios compostos: Amazona (Fig. 1), Peralta a cavalo (Fig. 2) e Sargento a cavalo (Fig. 3). Procederei aqui ao estudo das formas que os assobios antropomórficos podem ter, bem com a arte de neles combinar as cores.

Fig. 1 - Amazona – Sabina Santos (sd).
Figura composta (antropomórfica e zoomórfica).
A figura antropomórfica feminina está montada de lado num cavalo, com as mãos na anca. Na cabeça, o cabelo é castanho e está parcialmente coberto por chapéu amarelo, levantado do lado esquerdo. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas são cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência. Traja um vestido cor de zarcão que apresenta na parte inferior uma linha horizontal azul-escuro, na qual incidem pequenas linhas verticais e paralelas, da mesma cor, simulando uma franja. O lenço do pescoço, a abertura e a abotoadura do peito, os punhos e respectiva abotoadura, são igualmente azul-escuro.
A figura zoomórfica é um cavalo de cor castanha com malhas negras nas patas cilindriformes e com cascos igualmente negros. Na cabeça do animal figuram duas orelhas cónicas, um focinho alongado de forma cilíndrica, no qual é visível uma linha recta incisa a vermelho, que representa a boca e dois buracos dispostos paralelamente, figurando as narinas. Os olhos são duas pintas brancas inscritas em dois círculos negros. O pescoço, de formato espalmado, mostra de cada lado uma série de pintas negras que representam a crina. Na parte traseira do animal é visível uma cauda cilíndrica, de cor castanho-escuro e que constitui o bocal de sopro.
A figura composta assenta numa base rectangular com orla em zarcão, de cor verde e pintalgada de branco, amarelo e zarcão.

Fig. 2 - Peralta a cavalo – Sabina Santos (sd).
Figura composta (antropomórfica e zoomórfica).
A figura antropomórfica masculina está montada num cavalo, com as mãos na anca e botas negras. Na cabeça, o cabelo é castanho e está parcialmente coberto por chapéu amarelo, levantado à frente. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas são cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência. Traja um fato-de-macaco azul. O lenço do pescoço, a abertura e a abotoadura do peito, os punhos e respectiva abotoadura, são vermelhas.
A figura zoomórfica é um cavalo de cor castanha com malhas negras nas patas cilindriformes e com cascos igualmente negros.
Na cabeça do animal figuram duas orelhas cónicas, um focinho alongado de forma cilíndrica, no qual é visível uma linha recta incisa a vermelho, que representa a boca e dois buracos dispostos paralelamente, figurando as narinas. Os olhos são duas pintas brancas inscritas em dois círculos negros. O pescoço, de formato espalmado, mostra de cada lado uma série de pintas negras que representam a crina. Na parte traseira do animal é visível uma cauda cilíndrica, de cor castanho-escuro e que constitui o bocal de sopro.
A figura composta assenta numa base rectangular com orla em zarcão, de cor verde e pintalgada de branco, amarelo e zarcão.

Fig. 3 - Sargento a cavalo – Irmãs Flores (2018).
Figura composta (antropomórfica e zoomórfica).
A figura antropomórfica masculina está montada num cavalo, com as mãos na anca e botas negras. Na cabeça, o cabelo é castanho e está parcialmente coberto por barrete circular azul-escuro, com lista castanha com dois botões amarelos nas extremidades e que descai para o lado esquerdo. A farda é azul escura. parcialmente coberto por chapéu amarelo, levantado à frente. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas são cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência. Traja um fato-de-macaco cor-de-laranja. A gola, os punhos e a respectiva abotoadura são azuis. A figura assenta numa base circular, de cor branca
A abotoadura do peito e dos punhos é amarela. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas são cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência.
A figura zoomórfica é um cavalo de cor castanha com malhas negras nas patas cilindriformes e com cascos igualmente negros.
Na cabeça do animal figuram duas orelhas cónicas, um focinho alongado de forma cilíndrica, no qual é visível uma linha recta incisa a vermelho, que representa a boca e dois buracos dispostos paralelamente, figurando as narinas. Os olhos são duas pintas brancas, encimadas por dois riscos negros, arqueados. O pescoço, de formato espalmado, mostra de cada lado uma série de riscos negros que representam a crina. Na cabeça sobressaem também, linhas de cor castanho-escuro que representam a cabeçada e as rédeas. Na parte traseira do animal é visível uma cauda cilíndrica, de cor castanho-escuro e que constitui o bocal de sopro.
A figura composta assenta numa base rectangular com orla em zarcão, de cor verde e pintalgada de branco, amarelo e zarcão.


sexta-feira, 24 de maio de 2019

Bonecos de Estremoz: morfologia e cromática dos assobios antropomórficos


No conjunto dos Bonecos da Tradição incluem-se os assobios antropomórficos: Senhora (Fig. 1), Peralta (Fig. 2) e Sargento (Fig.  3). Procederei aqui ao estudo das formas que os assobios antropomórficos podem ter,  bem com a arte de neles combinar as cores.

Fig. 1 - Senhora – Irmãs Flores (2010).
Figura antropomórfica feminina, de pé e com as mãos na anca. Na cabeça, o cabelo é castanho e está parcialmente coberto por chapéu amarelo, levantado à frente, com orla e fita vermelha. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência. Das orelhas pendem duas arcadas amarelas. Enverga um vestido comprido até aos pés, cor-de-rosa. O lenço atado ao pescoço, a abotoadura do peito, os punhos e a respectiva abotoadura, bem como a fita da cintura são azuis. A figura assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de verde, azul, amarelo, laranja e vermelho. Bocal de sopro castanho escuro.

Fig. 2 - Peralta – José Moreira (sd).
Figura antropomórfica masculina, de pé, com as mãos na anca e sapatos negros. Na cabeça, o cabelo é castanho e está parcialmente coberto por chapéu amarelo, levantado à frente. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas são cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência. Traja um fato-de-macaco cor-de-laranja. A gola, os punhos e a respectiva abotoadura são azuis. A figura assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de verde, amarelo e zarcão. Bocal de sopro cor de barro.

Fig. 13 - Sargento – José Moreira (sd).
Figura antropomórfica masculina, de pé, com as mãos na anca e sapatos negros. Na cabeça, o cabelo é castanho e está parcialmente coberto por barrete circular azul-escuro e com lista amarela, o qual descai para o lado esquerdo. A farda é azul escura. A gola, a abertura e a abotoadura do peito, os punhos e respectiva abotoadura, bem como as divisas na parte superior das mangas são vermelhas. Os olhos são dois pontos negros, encimados por dois arcos igualmente negros, simulando as pestanas e as sobrancelhas. A boca está pintada de vermelho e as rosetas são cor-de-rosa. O nariz é uma pequena saliência. A figura assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de verde, amarelo e zarcão. Bocal de sopro castanho. 

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Bonecos de Estremoz: morfologia e cromática dos assobios zoomórficos


No conjunto dos Bonecos da Tradição incluem-se os assobios zoomórficos: Pomba (Fig. 1), Galo (Fig. 2), Galo no disco (Fig. 3), Galo na árvore (Fig. 4), Galo no pinheiro (Fig. 5), Galo no arco (Fig. 6), Galo no poleiro (Fig. 7), Galinha no choco (Fig. 8) e Cesto com ovos (Fig.  9). Procederei aqui ao estudo das formas que os assobios zoomórficos podem ter,  bem com a arte de neles combinar as cores.


 Fig. 1 - Pomba – José Moreira (sd).
Pomba branca com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico cor de zarcão, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e o pescoço ostenta atada uma fita azul claro, com duas pontas pendentes. As asas recolhidas estão definidas por dois traços negros e a cauda igualmente pintada de negro, apresenta incisões para definição das penas. As patas são dois pedaços de arame, os quais assentam na base circular, de cor branca e pintalgada de amarelo, verde e zarcão. A orla da base apresenta incisões, alternadamente pintadas a verde e a zarcão.  Bocal de sopro cor de barro.

Fig. 2 - Galo – José Moreira (sd).
Galo branco com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão, apresentando a última incisões. As asas recolhidas estão definidas por um traço negro, perpendicularmente ao qual se observam três traços negros para definição das penas. A cauda erguida ostenta igualmente três traços negros para definição das penas. As patas são dois pedaços de arame, os quais assentam na base circular, de cor branca e pintalgada de amarelo e zarcão. Bocal de sopro cor de barro.

Fig. 3 - Galo no disco – José Moreira (sd).
Galo branco com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo e empinado, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão. As asas recolhidas estão definidas por um traço negro e perpendicularmente ao qual se observam quatro traços negros para definição das penas. A cauda igualmente pintada de negro, apresenta incisões para definição das penas. O peito apresenta também quatro pontos negros para definição das penas. As patas são dois pedaços de arame apoiados num tronco cilindrico e branco, em cujo topo se observam as patas pintadas a amarelo. O tronco está assente numa peanha circular da mesma cor, alternando na orla, riscas a verde e a zarcão, bem como incisões, alternadamente pintadas de cada uma dessas cores. Bocal de sopro cor de barro.

 Fig. 4 - Galo na árvore – José Moreira (sd).
Galo branco com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão. As asas recolhidas estão definidas por um traço e três pontos negros para definição das penas. A cauda igualmente pintada de negro, apresenta incisões para definição das penas. O peito apresenta também quatro pontos negros para definição das penas. As patas são dois pedaços de arame apoiados no topo de uma árvore estilizada em forma de tronco cilindrico e branco, encimado por quatro elementos elípticos e a verde, para simbolizar a folhagem. Por sua vez, o tronco assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de amarelo, verde e zarcão. A orla da base apresenta incisões, alternadamente pintadas a verde e a zarcão.  Bocal de sopro cor de barro.

Fig. 5- Galo no pinheiro – José Moreira (sd).
Galo branco com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão. As asas recolhidas estão definidas por um traço que encima três  pontos negros para definição das penas. A cauda apresenta incisões e traços negros para definição das penas. O peito apresenta igualmente quatro pontos negros para definição das penas.  As patas são dois pedaços de arame apoiados no topo de um pinheiro estilizado em forma de tronco cilindrico e branco, coberto à frente por catorze elementos elípticos e a verde, para simbolizar a folhagem. Por sua vez, o tronco assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de amarelo, verde e zarcão. A orla da base apresenta incisões, alternadamente pintadas a verde e a zarcão.  Bocal de sopro cor de barro. 

Fig. 6 - Galo no arco – Maria Luísa da Conceição (sd).
Galo branco com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão. As asas recolhidas estão definidas por traços negros para definição das penas. A cauda igualmente pintada de negro, apresenta incisões para definição das penas. O peito apresenta também traços negros para definição das penas. As patas são dois pedaços de arame apoiados no topo de um arco cor de zarcão e em forma de U invertido, que apresenta de cada lado três elementos elípticos, verdes e pintalgados de amarelo, sugerindo folhagem. O arco assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de amarelo, verde e zarcão. Bocal de sopro cor de barro.   

Fig. 7 - Galo no poleiro – Sabina Santos (sd).
Galo branco com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão. As asas recolhidas estão definidas por um traço negro, perpendicularmente ao qual se observam quatro incisões e três traços negros para definição das penas. A cauda apresenta igualmente três incisões e traços negros para definição das penas. As patas são dois pedaços de arame apoiados no topo de um poleiro castanho, constituido por duas barras paralelepipédicas, inclinadas em relação à vertical e terminadas em bico, sobrepostas a outras duas barras. A inferior é paralelepipédica e encontra-se na posição horizontal. A superior configura um sector circular tridimensional. A junção dos quatro componentes do poleiro é assegurada por quatro discos amarelos que sugerem rebites. O poleiro assenta numa numa base circular, de cor branca e pintalgada de amarelo, verde e zarcão. Bocal de sopro castanho. 

Fig. 8 - Galinha no choco – Maria Luísa da Conceição (sd).
Galinha branca com corpo ovóide, pescoço de forma tronco-cónica e bico amarelo, de geometria cónica. Os olhos circulares são negros e a barbela e a crista são cor de zarcão. As asas recolhidas estão definidas por uma mancha negra. A cauda erguida ostenta igualmente traços negros e incisões para definição das penas. A galinha simula chocar ovos dentro de uma cesta de vime, de cor creme e com uma asa entrançada. A cesta assenta numa base circular, de cor branca e pintalgada de verde, amarelo e zarcão. Bocal de sopro cor de barro.

Fig. 9 - Cesto com ovos – Jorge da Conceição (2017).
Cesta de cor creme com incisões simulando vime e com uma asa entrançada da mesma cor. A cesta contem ovos de cor creme e assenta numa base circular, de cor verde e pintalgada de branco, amarelo, laranja e zarcão. Bocal de sopro verde-escuro.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Bonecos de Estremoz: Isabel Carona Bento


Isabel Carona ou Isabel Bento (1949-2006). Fotografia de autor desconhecido.
Arquivo fotográfico do autor.

ISABEL RITA VARGAS CARONA BENTO (1949-2006)

A 23 de Julho de 1949, nasce na rua Direita nº1, em Estremoz, uma criança do sexo feminino, a quem foi dado o nome de Isabel Rita Vargas Carona, filha de António José Lopes Carona, trabalhador, e de Palmira de Jesus Moreira Vargas, doméstica (4).
A 6 de Julho de 1965, na qualidade de doméstica e com a idade de 15 anos, casou na igreja de São Francisco, em Estremoz, com José Manuel Mimoso Molhinhos, serralheiro, de 19 anos de idade, morador na rua Direita, nº 88 em Estremoz, filho de José Joaquim Molhinhos, natural da freguesia de Santo André em Estremoz e de Maria Joaquina Mimoso, natural da freguesia de São João Baptista, Castelo de Vide. Isabel passou então a usar o apelido Molhinhos (1).
O casamento foi dissolvido por divórcio em 1981, tendo Isabel deixado de usar o apelido Molhinhos, adoptado na altura do casamento. Isabel desloca-se então para Lisboa, onde, entre outras profissões, é empregada doméstica e empregada de um cinema.
A 3 de Outubro de 1984 e com a idade de 35 anos, Isabel casa na Conservatória de Registo Civil de Montijo, com Francisco José Cardoso Bento, de 29 anos de idade, natural da freguesia de Sarilhos Grandes, Montijo, filho de Francisco Ismael Bento e de Maria Antónia Cardoso. Isabel adopta então o apelido Bento (2). Fixa residência na rua do Poço Novo, nº 11, em Sarilhos Grandes, Montijo, onde vem a falecer a 26 de Junho de 2006, com a idade de 57 anos (3).
Isabel Carona Bento, conjuntamente com Fátima Estróia, foi uma das primeiras discípulas de Sabina Santos, com a qual trabalhou dez anos. Por motivos de natureza pessoal da discípula, Sabina prescindiu da sua colaboração. Ao fixar-se em Sarilhos Grandes, retoma a actividade bonequeira, mas não tem capacidade de cozer o que manufactura, pelo que os especímenes, depois de secos, são pintados e envernizados, sem terem sido cozidos. Só depois do segundo casamento, Isabel passa a cozer a sua produção e a marca de autor passa a ser diferente da anterior.
Ainda que discípula de Sabina Santos, e ao contrário de Fátima Estróia e das Irmãs Flores, a representação do olhar não é conseguida por Isabel, com as pestanas e as sobrancelhas afastadas da menina do olho. Ela utiliza apenas um traço para representar cada sobrancelha, acima da menina do olho. Os seus Bonecos não são, de resto, tão esguios e elegantes como os de Sabina.

BIBLIOGRAFIA
(1) - Isabel Rita Vargas Carona - Assento de Casamento 70 de 1965, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(2) - Isabel Rita Vargas Carona Assento de Casamento 148 de 1984, da Conservatória do Registo Civil do Montijo.
(3) - Isabel Rita Vargas Carona Assento de Óbito 248 de 2006, da Conservatória do Registo Civil do Montijo.
(4) - Isabel Rita Vargas Carona - Registo de Nascimento 326 de 1949, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.

sábado, 18 de maio de 2019

Bonecos de Estremoz: Francisca Vieira de Barros


Fig. 1 - Francisca Emília Guerra Vieira de Barros (1874-1957) com a idade de 47 anos,
fotografada com seu marido Manuel Duarte Baptista de Barros (1870-1958), com a
idade de 51 anos. Fotografia de Furtado e Reis, Rua de Santa Justa, nº 107, Lisboa,
obtida em 1921. Arquivo fotográfico do autor. 

FRANCISCA EMÍLIA GUERRA VIEIRA DE BARROS (1874-1957)

Nasceu a 4 de Outubro de 1874 numa casa da Rua Direita, na freguesia de Vimieiro, concelho de Vimieiro. Filha legítima de João José Vieira, proprietário, natural da freguesia de Vimieiro e de Emília Vitória, de profissão governo de casa, natural da freguesia de Brotas, concelho de Évora. Francisca Emília seria baptizada a 9 de Novembro de 1874, na igreja paroquial do Vimieiro (3).
A 20 de Janeiro de 1897 e com a idade de 22 anos viria a casar com Manuel Duarte Baptista de Barros, de 26 anos, secretário da Santa Casa da Misericórdia de Estremoz. O casamento teria lugar na igreja paroquial de São Bento do Ameixial, concelho de Estremoz. A noiva viria a adoptar de seu marido o apelido Barros (4).
Manuel Duarte Baptista de Barros nascera a 23 de Outubro de 1870 numa casa do Largo da Porta Nova, em Estremoz. Filho legítimo de José Baptista de Barros, negociante e proprietário, natural de Santa Maria Madalena de Alvaiázere, concelho de Alvaiázare e de Maria Apolónia Duarte, governadeira de sua casa, natural da freguesia de Vidigão, concelho de Arraiolos. Manuel Duarte viria a ser baptizado a 22 de Novembro de 1870, na igreja paroquial de Santo André, em Estremoz (7).
O historiador Diogo Vivas (9) estabeleceu uma biografia muito completa do marido de Francisca Emília: “Manuel Duarte Baptista de Barros, filho de José Baptista de Barros e de Maria Apolónia Duarte, nasceu na freguesia de Santo André, concelho de Estremoz, a 23 de Outubro de 1870. A sua educação ficou a cargo de um tio uma vez que ainda muito novo viria a perder os seus pais. Completada, às expensas do tio, a sua formação liceal em Évora teve por objectivo prosseguir os seus estudos em Lisboa, na Faculdade de Farmácia. Porém, não sendo aceite essa nova deslocação para estudo, manteve-se em Estremoz onde foi nomeado Secretário da Santa Casa da Misericórdia de Estremoz, cujo cargo desempenhou até à aposentação. Em 20 de Janeiro de 1897 casou com Francisca Emília Guerra Vieira de Barros, na freguesia de São Bento do Ameixial, concelho de Estremoz. Nas eleições de 14 de Novembro de 1917, candidatando--se nas listas do Partido Republicano Português, foi eleito Presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Estremoz. Tomou posse a 2 de Janeiro de 1918 estando em exercício de funções até 4 de Fevereiro do mesmo ano, quando a Comissão é dissolvida na sequência da chegada ao poder de Sidónio Pais. Terminado o consulado sidonista é novamente empossado como Presidente da referida Comissão a 7 de Março de 1919. Mantém-se no cargo até 1 de Janeiro de 1923. Iniciado a 22 de Julho de 1909 no Triangulo n.º 114, do REAA, de Estremoz com o nome simbólico “Marquês de Pombal”. Atingiu o grau 6.º em 20 de Fevereiro de 1918. Fundador do Triângulo e da Loja Propaganda em 10 de Janeiro de 1910. Filiado, por passagem, em 21 de Março de 1924 na Loja Acácia, n.º 281, de Lisboa. Faleceu a 2 de Abril de 1958 na freguesia de Santo André, concelho de Estremoz.” Sabe-se que Francisca Emília e Manuel Duarte (Fig. 1) moravam no nº 28 e 30 da Rua Dr. Oliveira Salazar, antiga Rua de Santa Catarina e actual Rua 31 de Janeiro, em Estremoz. Francisca Emília era uma Senhora de Sociedade e modelava os seus Bonecos, por um misto de motivação interior e de recreação, não os comercializando, mas oferecendo-os a familiares e pessoas amigas.
A Dr.ª Maria Margarida Barros de Queiroz Martins Mantero Morais, nascida em Estremoz a 20 de Novembro de 1934, e sobrinha-neta de Francisca de Barros, prestou-me um interessante e valioso depoimento escrito (6) que ajuda a caracterizar a barrista, o qual passo a transcrever:A Tia Francisca Vieira de Barros (Fig. 1) minha Tia-Avó, era cunhada do meu Avô José Baptista de Barros, casada em 1897 com o seu único irmão Manuel Duarte de Barros. Em família, todos lhe chamavam Chica. Era a Tia Chica para a minha Mãe e minhas Tias, a Avó-Chica para o único neto, meu primo Manuel Joaquim Monteiro de Barros, poucos anos mais velho do que eu. As lembranças que guardo dela fazem parte das minhas memórias de criança. Datam dos meus 8 ou 9 anos, talvez 10, portanto de 1942, 43 ou 44, uma vez que eu nasci em 1934.
Era uma senhora muito recatada. Não era expansiva, nem muito alegre, mas serena, calma e afável. Não tenho qualquer ideia de vê-la fora de casa. Nunca participava nas reuniões familiares. Já o mesmo não se passava com o marido, o Tio Manuel, que visitava com alguma frequência os meus avós e que eu conhecia bem e encontrava por vezes na rua. Eu morava com os meus pais numa casa perto da sua, na mesma rua. Talvez fosse esta a principal razão por que ele me levou várias vezes até à Tia Chica para a ver a fazer bonecos.
Quando eu chegava, ela estava sempre sozinha numa pequena sala ao fundo do corredor, perto da cozinha, com muita luz, a trabalhar. Interrompia a sua actividade, parecia agradada com a minha presença e afavelmente explicava-me o que estava a fazer.
Recordo-a com um grande avental em frente de uma mesa de madeira onde havia barro, tintas e pincéis. Dizia-me que eu podia mexer onde quisesse e dava-me algum barro para eu modelar. Devo confessar que Deus não me fadou para tal arte e nada saía de jeito, mas gostava imensamente de ali estar naquela pequena sala muito iluminada pela luz do dia, num ambiente diferente e para mim um pouco estranho. Olhava-a maravilhada e admirada como era possível de um bocado de terra mole saírem santos, pastores e borreguinhos.
Um Natal deu-me um presépio com as três figuras principais, de que me restam apenas a Nossa Senhora e o São José.
A ideia que eu guardo da Tia Chica é a de uma Senhora que não fazia renda, não ia para as Termas como a minha Avó, nem saía de casa como a minha Mãe ou as minhas Tias. Vivia muito só, fechada no seu mundo e dedicava todo o tempo que lhe sobrava das tarefas domésticas a fazer os seus Bonecos de Estremoz.”
Aos Bonecos de Francisca Emília se refere o poeta e escritor Celestino David (1880-1952), no nº 628 do jornal Brados do Alentejo, de 31 de Janeiro de 1943 (1), no qual são reproduzidas e por ele descritas cerca de 50 figuras executadas pela barrista. Diz-nos ele: “Com esse pensamento, a sr.ª D. Francisca Vieira de Barros, fez com inteligência e aptidão artística, uma colecção muito interessante, interpretada por amadorismo da plasticidade, de sua inovação, cópia de modelos humanos de que ressalta a realidade das atitudes, expressões, indumentárias, cores, tudo de uma parecença exacta que é pena – esta senhora que me perdõe – não precisar viver disso para desenvolver o comércio desses novos Bonecos de Estremoz. Outros poderão tentá-lo com tal fim”.
Francisca Emília Guerra Vieira de Barros, após prolongado sofrimento, faleceu a 7 de Setembro de 1957, com a idade de 82 anos (5), (2), (8). Era mãe do Eng.º José Manuel Vieira de Barros e avó do Eng.º Manuel Joaquim Monteiro de Barros.
Francisca Emília está representada no acervo do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, o qual inclui figuras como “Primavera”, “Rei negro”, “Mulher a passar a ferro”, “Pastor” e “Mulher da azeitona”. Está ainda representada em colecções particulares como a de seu neto Eng.º Manuel de Barros, sua sobrinha neta Dr.ª Maria Margarida Mantero Morais, na colecção de Delfina Mota e na minha.
As Irmãs Flores informaram-me que, depois de elas terem aberto oficina por conta própria, uma senhora da família de Francisca Emília que morava na Praça Luís de Camões nº34, em Estremoz, foi à sua oficina oferecer-lhes os moldes em gesso que aquela barrista usava na feitura das caras dos Bonecos.

BIBLIOGRAFIA
(1) - DAVID, Celestino. A Plasticização do Barro de Estremoz in Brados do Alentejo nº 628, 31/01/1943. Estremoz, 1943 (pág. 14 e 15).
(2) - FALECIMENTOS – Francisca Emília Guerra Vieira de Barros in Brados do Alentejo nº 1368, 15/09/1957. Estremoz, 1957 (pág. 2).
(3) - Francisca Emília Guerra Vieira de Barros – Assento de Baptismo nº 67 de 1874 da Freguesia de Vimieiro, concelho de Estremoz.
(4) - Francisca Emília Guerra Vieira de Barros – Assento de Casamento nº 1 de 1897, da Freguesia de São Bento do Ameixial, concelho de Estremoz.
(5) - Francisca Emília Guerra Vieira de Barros – Extracto do Registo de Óbito nº 130 de 1957, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(6) - MANTERO MORAIS, Maria Margarida Barros de Queiroz Martins. Depoimento sobre Francisca Emília Guerra Vieira de Barros. Estremoz, 2018. sp.
(7) - Manuel Duarte Baptista de Barros – Assento de Baptismo nº 151 de 1870, da Freguesia de Santo André do Concelho de Estremoz.
(8) - NECROLOGIA – D. Francisca Emília Vieira de Barros in O Eco de Estremoz nº 2848, 15/09/1957. Estremoz, 1957 (pág. 2).
(9) - VIVAS, Diogo. Os Presidentes da Câmara Municipal de Estremoz 1910–2006. Câmara Municipal de Estremoz. Estremoz, 2006. (pág. 59-60).

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 18 de Maio de 2019


Fig. 2 - Primavera. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
Acervo do Museu Municipal de Estremoz.

Fig. 3 - Rei negro. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
 Acervo do Museu Municipal de Estremoz.

Fig. 4 - Mulher a passar a ferro. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
Acervo do Museu Municipal de Estremoz.

Fig. 5 - Pastor. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
Acervo do Museu Municipal de Estremoz.

 Fig. 6 - Mulher da azeitona. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
 Acervo do Museu Municipal de Estremoz.

Fig. 7 - Amazona. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
 Colecção particular.

Fig. 8 - São João Baptista. Francisca Vieira de Barros (1874-1957).
 Colecção particular.