sexta-feira, 10 de maio de 2019

O amor é cego


O Amor é cego (s/d). Sabina Santos (1921-2005).

“O Amor é cego” é um Boneco de Estremoz cuja origem remonta ao séc. XIX. É considerado uma figura de Carnaval e uma alegoria à cegueira do amor e ao Cupido de olhos vendados. Trata-se de um tema recorrente na pintura universal, onde conheço os seguintes quadros: - Cupido com os olhos vendados (1452-1466) - Piero Della Francesca; - Primavera (c. 1482) - Sandro Botticelli (1445-1510); - Cupido, o pequeno amor com os olhos vendados perfura o peito de um jovem (séc. XVI) – Clément Marot; - O julgamento de Páris (1517-1518) – Niklaus Manuel; - Vénus e Cupido (c. 1520) – Lucas Cranach, o Velho; - Vénus a vendar Cupido (c. 1565) - Vecellio Tiziano; - Cupido castigado (séc. XVII-XVII) - Ignaz Stern; - Vénus a punir o amor profano (c. 1790) – Escola alemã.
 “O amor é cego” é um provérbio que traduz a cegueira do amor (falta de objectividade), relativamente à qual são conhecidos outros provérbios: “A amizade deve ser vidente e o amor, cego”, “O amor é cego e a Justiça também”, “O amor é cego, a amizade fecha os olhos”, “O amor é cego, mas vê muito longe”, “O amor não enxerga as cores das pessoas”, “O amor vem da cegueira, a amizade do conhecimento”, “Quem anda cego de amores não vê senão flores”, “Quem o feio ama, bonito lhe parece”.
O provérbio “O amor é cego” é muitas vezes atribuído ao filósofo grego Platão (427-348 aC), porque em “As Leis” escreveu “Aquele que ama é cego para o que ama”. No entanto, é errado, atribuir às palavras de Platão o significado que o provérbio tomou, porque naquele texto, o filósofo fala de amor-próprio como fonte de erro.
 “Amor é cego” é o título do soneto 137 de William Shakespeare (1564-1614) cuja primeira quadra traduzida pelo poeta António Simões nos diz que: “Tolo e cego Amor, a meus olhos que fazes agora, / Que eles olham e não vêem o que a ver estão? / Conhecem a beleza e onde ela se demora, / Mas, o que é pior, por melhor tomarão.”
A cegueira do amor está também retratada no cancioneiro popular alentejano (2): “O Cupido anda às cegas, / Cahe aqui, cahe acolá; / Em má hora eu te amei. / Em má hora, hora má.”
 “O amor é cego e vê” é o título de uma ária cantada por Tomás Alcaide (1901-1967) no filme “Bocage” a qual teve música de Afonso Correia Leite / Armando Rodrigues e letra de Matos Sequeira / Pereira Coelho. Roberto Alcaide (1903-1979), irmão de Tomás Alcaide tinha o hábito de afirmar que o boneco “O Amor é cego” tinha sido criado por Mariano da Conceição em homenagem ao irmão [Entrevista à barrista Maria Luísa da Conceição (1)]). Tal afirmação não tinha fundamento algum, já que a figura remonta ao séc. XIX e Mariano da Conceição nunca modelou “O Amor é cego”.

BIBLIOGRAFIA
(1) - MATOS, Hernâni. Entrevista a Maria Luísa da Conceição. Estremoz, 7 de Fevereiro de 2013. Arquivo de Hernâni Matos.
(2) - THOMAZ PIRES, A. Cantos Populares Portugueses. 4 vol. Typographia e Stereotypia Progresso. Elvas, 1902 (vol. I), 1905 (vol. II), 1909 (vol. III), 1012 (vol. IV).
Publicado inicialmente a 10 de Maio de 2019
Este texto integra o meu livro "BONECOS DE ESTREMOZ" publicado em 2018

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Bonecos de Estremoz - Figuras de negros


 Fig. 1 - Preto a cavalo (s/d) – 
- José Moreira (1926-1991).

A produção bonequeira dos diversos barristas dos sécs. XX-XXI tem um elo comum: os chamados “Bonecos da Tradição”. Trata-se de um conjunto de cerca de 100 figuras que são comuns à produção individual de cada barrista. Naquele conjunto existem três figuras de negros que são reveladoras da colonização africana ocorrida no Alentejo: Preto a cavalo (Fig. 1), Preta grande (Preta florista) (Fig. 2) e Preta pequena (Fig. 3).
Na freguesia de Santa Vitória do Ameixial no concelho de Estremoz, existe o chamado Monte dos Pretos, situado junto à mina abandonada que foi explorada no período da ocupação romana da região, a qual começou no séc. I, mas foi mais significativa nos sécs. III-IV. A existência dum Monte com aquela designação, é indicativo de que existiram escravos negros na região. Em Estremoz, como noutras localidades do país, existe a Rua dos Malcozinhados. Estes eram tabernas populares onde se reuniam escravos, trabalhadores braçais e prostitutas e, se consumia vinho barato e comida feita à pressa como peixe frito e iscas. A nível nacional, os malcozinhados são conhecidos desde o tempo das descobertas. O facto de existir em Estremoz uma Rua dos Malcozinhados é um indicador de que por aqui houve escravos negros. Jorge Fonseca em “Religião e Liberdade / Os negros nas irmandades e confrarias portuguesas (séculos XV a XIX)” [(2) - pág.50-51] dá conta que: “Em Estremoz houve duas confrarias do Rosário, sendo aparentemente e ao contrário do que se passa noutros locais, a dos Negros de fundação mais tardia que a outra. Segundo Frei Jerónimo de Belém foi erigida a confraria na Igreja do Convento de São Francisco, em 1545. Em 1585 D. Filipe I autorizou os respectivos confrades a pedirem esmolas pela vila e pelo termo, durante dois anos. Porém, em 1633, os homens e mulheres pretos moradores na vila de Estremoz obtiveram do rei, como governador da ordem de Avis, licença para criarem a confraria e irmandade de Nª Sª do Rosário, na igreja matriz de Nª. Sª. da Assunção, situada na vila intramuros (ao contrário do convento referido), que era da mesma ordem militar. Mas esta deve ter tido duração efémera, ou ter sido unificada com a primeira, tendo em conta um livro seiscentista pertencente à confraria do convento franciscano, com a entrada de irmãos a partir de 1676. Entre pessoas das mais variadas profissões e níveis sociais, aparece Isabel Mendes, escrava de Manuel Garcia Mendes, em 1692”. Resta na cidade, como testemunho da piedade dos descendentes de africanos, uma escultura de São Benedito, setecentista, na igreja de Nª. Sª. do Socorro.” Arlindo Caldeira em “Escravos em Portugal / Das origens ao século XIX” [(1) - pág.308], diz que “Como instituição, as irmandades já funcionavam desde o século XII na Europa, nomeadamente em Portugal, com fins religiosos e de solidariedade. No entanto, não seria no seio das já existentes que os africanos encontrariam acolhimento. Tiveram de criar, com o apoio de algumas ordens religiosas, associações completamente novas. Foi assim que proliferaram estas confrarias, com marcada distinção étnica, e em que ao nome do patrono religioso, se acrescentava “dos homens pretos” ou, sobretudo depois do século XVIII “dos homens pretos e pardos”. Na mesma obra [(1) - pág. 308] refere que: “Embora varie a invocação religiosa que aparece na designação dessas associações, a mais comum é a da Nossa Senhora do Rosário, decorrente do culto do rosário, muito popular desde o séc. XIII, promovido pela ordem dos Dominicanos.” O mesmo autor [(1) - pág. 305] informa que “Além das festas informais de rua, os músicos e dançarinos negros, nomeadamente os escravos, eram os elementos imprescindíveis das festividades anuais das confrarias ditas “de pretos e mulatos” e participavam também nos principais acontecimentos festivos da cidade, sendo uma presença sempre aguardada nas touradas, nos cortejos e nas procissões…” O mesmo historiador revela que: “A música e a dança, uma e outra de raiz claramente africana, eram o prato forte das festividades domingueiras. Estas manifestações de exotismo despertavam, por um lado, a curiosidade, mas, para outros sectores da sociedade eram vistas como sinais de barbarismo pagão ou mesmo de demonismo.” A terminar é de referir de que nos dá conta que [(1)-305]: “Algumas das festas de africanos ligadas às irmandades, mas não só, incluíam a nomeação, em geral com a duração de um ano, de um “rei” e de uma “rainha”, que, além da função decorativa, eram uma espécie de mordomos dos festejos, cabendo-lhes, por exemplo, animar os peditórios para angariação de esmolas.” Julgo ter provado de uma vez por todas e duma forma insofismável que a presença de negros na barrística popular estremocense se dever à existência desde tempos remotos de escravos negros, os quais foram representados pelos barristas.

BIBLIOGRAFIA
(1) - CALDEIRA, Arlindo M. Escravos em Portugal / Das origens ao século XIX. A Esfera dos Livros. Lisboa, 2017 (págs. 304, 305, 308 e 310).
(2) - FONSECA, Jorge. Religião e Liberdade / Os negros nas irmandades e confrarias portuguesas (séculos XV a XIX). Editora Húmus. Vila Nova de Famalicão, 2016 (págs. 50, 51).


Fig. 2 - Preta grande (Preta florista) (s/d) –
- Liberdade da Conceição (1913-1990).

Fig. 3 - Preta pequena (2018) –
- Irmãs Flores (1957, 1958- ).

domingo, 5 de maio de 2019

Estremoz - Surpresas do Mercado das Velharias - 01

O Mercado das Velharias em Estremoz continua a ser um pólo de atracção de turistas naturais e estrangeiros. Se uns o descobrem ocasionalmente, outros são seus frequentadores habituais, à procura de peças para integrar as suas colecções e que por vezes já pré-existiam no seu imaginário. Dou hoje conta de três espécimes que polarizaram a minha atenção e que por isso mesmo adquiri, visto assentarem como uma luva nas minhas colecções.

Prato raso de Estremoz, em barro vermelho vidrado, com 17, 5 cm de diâmetro. 
 Comemorativo das Festas à Exaltação da Santa Cruz de 1990. Decorado com motivos
florais e tendo no centro, em relevo, a imagem do Senhor Jesus dos Passos de Estremoz,
 obtida a partir do molde em gesso, utilizado pela Olaria Alfacinha nos anos 60 do
séc. XX, na produção de medalhas em barro, comemorativas daquelas Festas.

No parte posterior do prato, a marca manuscrita "Olaria / Alfacinha / Estremoz /
/ Portugal / Joana. De salientar que entre 1987 e 1995 (data do seu encerramento),
a Olaria Alfacinha que anteriormente era propriedade da firma Leonor das Neves da
Conceição Herdeiros, passou para a posse de Rui Barradas e sua mulher Cristina
Barradas. Aí Rui Barradas, barrista e azulejista, produziu louça vidrada de barro
vermelho que era comercializada numa loja de artesanato, propriedade do casal e
situada na Praça Luís de Camões, nº 11, em Estremoz. 

 Pisador em madeira, provavelmente manufactura de arte pastoril. Trata-se de uma
peça bi-funcional onde numa extremidade figura o pisador (pilão) e na outra uma
colher para retirar o pisado do gral. 16 cm de comprimento. 

Púcaro em barro de Estremoz com a particularidade de reunir em si, três tipos de
decoração: empedrado, riscado e picado. Dimensões em cm: 13, 5 (altura), 12 (largura),
5 (diâmetro da base), 5,7 (diâmetro exterior da boca). Embora não apresente marca de
oleiro, o picado (neste caso círculos), permite identificá-lo como exemplar da Olaria
Regional de Mário Lagartinho.

Hernâni Matos

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Toponímia de Estremoz - Omissões que ofendem


Sá Lemos trocando impressões com Ana das Peles numa sala de aulas da Escola
Industrial António Augusto Gonçalves. Fotografia de Rogério de Carvalho
(1915-1988), publicada no semanário estremocense Brados do Alentejo”
nº 250, de 10 de Novembro de 1935. Arquivo fotográfico do autor.

Em reunião da Câmara realizada no passado dia 3 de Abril, foi aprovada uma proposta da Comissão de Toponímia do Concelho de Estremoz, no sentido de serem atribuídos novos topónimos, assim distribuídos: Estremoz (17), Glória (13), Évora Monte (10), Santa Vitória do Ameixial (3), São Bento do Ameixial (1). Entre os 13 novos topónimos aprovados para Estremoz, figura o nome da barrista Sabina da Conceição (1921-2005), que assim viu a sua memória perpetuada através da atribuição do seu nome a uma rua da cidade, situada no Monte Pistola, junto à antiga passagem de nível.
Até agora a toponímia estremocense já perpetuou o nome dos seguintes barristas: Mariano da Conceição (1903-1959), Sabina da Conceição (1921-2005), Liberdade da Conceição (1913-1990), Maria Luísa da Conceição (1934-2015) e Quirina Marmelo (1922-2009). Todavia, para além deles há outros barristas falecidos que até agora foram esquecidos. São eles:
- Ana das Peles (1869-1945), que em 1935 foi o instrumento primordial da recuperação dos “Bonecos de Estremoz”, efectuada pelo escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971), director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, uma vez que desde 1921 estava extinta a tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz. Em 1935 os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa realizada em Lisboa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris e em 1940 na Exposição do Mundo Português. Nestas exposições, os Bonecos de Estremoz de Ana das Peles, foram o ex-líbris de excelência da nossa cidade e os embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa identidade cultural local e regional. Os Bonecos de Estremoz, até então relativamente pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio, grande notoriedade pública.
- António Lino de Sousa (1918-1982), oleiro da Olaria Alfacinha e discípulo de Mestre Mariano da Conceição, com quem aprendeu a manufacturar Bonecos de Estremoz, a cuja confecção se dedicou em exclusivo entre 1976 e a data do seu falecimento.
- José Moreira (1926-1991), discípulo de Ana das Peles e que foi o barrista que mais contribuiu para a divulgação dos Bonecos de Estremoz. Percorreu o país de lés a lés e não houve feira ou exposição de artesanato a que ele não fosse.
- Aclénia Pereira (1927-2012), que nos anos 40 do séc. XX foi discípula de Mestre Mariano da Conceição na Escola Industrial António Gonçalves e que foi barrista até ao fim da vida, mesmo depois de se ter transferido para Santarém, em cujo distrito foi uma grande embaixadora dos Bonecos de Estremoz.
- Isabel Carona (1949-2006), que foi uma das primeiras discípulas de Mestra Sabina da Conceição e que depois de trabalhar com ela durante dez anos, se fixou em Sarilhos Grandes, Montijo, onde continuou a arte bonequeira.
- Mário Lagartinho (1935-2016), o último oleiro de Estremoz, que como barrista confeccionou Bonecos de Estremoz nos anos 70-90 do século passado e que pela sua acção continuou a cadeia de transmissão de saberes.
- Arlindo Ginja (1938-2018), discípulo de Mário Lagartinho, que conjuntamente com seu irmão Afonso exerceu o mester durante 32 anos, até se aposentar em 2011.
A atribuição de um nome a uma rua, corresponde ao reconhecimento do mérito daqueles que com o seu exemplo e esforço, contribuíram para a edificação do presente. Desde 7 de Dezembro de 2017 que a manufactura de Bonecos de Estremoz está inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tal inscrição só foi possível porque a tradição foi recuperada com Ana das Peles e continuada por aqueles que lhe sucederam no tempo. Daí que todos os barristas falecidos devam ser contemplados com a atribuição do seu nome a uma rua da cidade. Não é aceitável é que se atribuam nomes de ruas da cidade só a alguns, omitindo os restantes. São omissões que ofendem a sua memória, já que cada um deles à sua maneira, contribuiu para que a manufactura de Bonecos de Estremoz esteja actualmente inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. É caso para dizer, que não podem uns ser filhos e os outros enteados.

Estremoz, 25 de Abril de 2019
(Jornal E nº 222 – 02-05-2019)


Senhora de pézinhos.
Ana das Peles (1869-1945).
Arquivo fotográfico do autor.
LER AINDA:

sábado, 20 de abril de 2019

Sabina da Conceição na toponímia estremocense


Sabina da Conceição (1921-2005) nos anos 70 do séc. XX, tendo à sua direita as discípulas
Maria Inácia Fonseca (1957-) e Perpétua Sousa (1958-). Fotografia de Xenia V. Bahder.
 Arquivo fotográfico do autor.

A barrista Sabina da Conceição (1921-2005) viu a sua memória perpetuada através da atribuição do seu nome a uma rua da cidade, situada no Monte Pistola, junto à antiga passagem de nível. A deliberação foi tomada em reunião da Câmara realizada no passado dia 3 de Abril, tendo sido homologada por unanimidade a acta da reunião da Comissão de Toponímia do Concelho de Estremoz, realizada no passado dia 15 de Março e, consequentemente, aprovadas as propostas dos topónimos aí constantes, entre os quais se incluía o nome daquela barrista.
A atribuição do nome de Sabina da Conceição a uma rua da cidade corresponde ao reconhecimento do papel por ela desempenhado como continuadora duma tradição que corria o risco de se extinguir e que hoje é motivo de orgulho para todos os estremocenses. O trabalho desenvolvido por Sabina da Conceição deu um forte contributo para que desde 7 de Dezembro de 2017, a manufactura de Bonecos de Estremoz esteja inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Sabina Augusta da Conceição nasceu a 1 de Julho de 1921 num prédio da calçada da Frandina, em Estremoz. Filha legítima de Narciso Augusto da Conceição, oleiro, de 50 anos de idade, natural da freguesia de Santo Antão, Évora e de Leonor das Neves, doméstica, de 45 anos, exposta, natural da freguesia de Santo André, Estremoz. Neta paterna de Caetano Augusto da Conceição, fundador da Olaria Alfacinha e de Sabina Augusta, doméstica. Neta materna de avós incógnitos.
Com 12 anos de idade e com o pai já falecido, candidata-se em 23 de Agosto de 1933 ao exame de admissão à Escola Industrial António Augusto Gonçalves e, tendo sido aprovada, matricula-se no Curso de Tapeceira (3 anos).
Em 5 de Julho de 1942, com 21 anos de idade, casa-se na Igreja de Santa Maria em Estremoz, com Joaquim Luiz de Matos Santos, empregado de escritório, de 24 anos de idade.
Em 1960, depois da morte prematura do seu irmão Mestre Mariano da Conceição (1903-1959), oleiro e bonequeiro, dá continuidade à manufactura dos Bonecos de Estremoz na Olaria Alfacinha, o que faz até se aposentar em 1988, fixando-se então em Ribamar, Lourinhã.
A importância de Sabina na barrística popular estremocense é incomensurável. Por um lado, tomou a atitude corajosa de prosseguir com estilo muito próprio, a manufactura dos Bonecos de Estremoz, depois da morte de Mariano, fazendo assim com que a arte não se perdesse. Sabina nunca tinha confeccionado Bonecos, apenas vira o irmão fazê-los. Formou-se a ela própria, usando como modelos os Bonecos do seu irmão. Por outro lado, Sabina foi a barrista que mais discípulas formou: Isabel Carona, Fátima Estróia, Maria Inácia Fonseca e Perpétua Fonseca. Algumas aparecem com ela no filme “Bonecos de Estremoz”, que Lauro António realizou em 1976 e que se encontra disponível no YouTube.
Sabina morre a 19 de Abril de 2005, com a idade de 83 anos, tendo sido sepultada no cemitério de Ribamar. O elogio fúnebre de Sabina da Conceição foi feito por Hugo Guerreiro em artigo intitulado “Morreu Sabina Santos”, publicado no jornal Brados do Alentejo em 29 de Abril de 2005.
Sabina da Conceição está fortemente representada no acervo do Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho, uma vez que o Município de Estremoz adquiriu à filha de Sabina, Professora Maria Leonor da Conceição Santos (1943-2014), uma colecção de mais de uma centena de figuras que a barrista executara ao longo da sua extensa carreira. 
Estremoz, 7 de Abril de 2019
(Jornal E nº 221 – 19-04-2019)
LER AINDA:

domingo, 24 de março de 2019

A Primavera no figurado de Estremoz


PRIMAVERA (séc. XX). Autor desconhecido. Altura: 20; largura: 10;
diâmetro: 8,5 (cm). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.

No figurado de Estremoz existem imagens conhecidas genericamente por “Primaveras”. Trata-se de representações de figuras de Entrudo, envolvidas em rituais de vegetação, que anunciavam e saudavam a proximidade da Primavera, na qual a natureza e muito em especial a flora, refloresce.

Publicado inicialmente a 24 de Março de 2019
 
PRIMAVERA (séc. XX). Ana das Peles. Altura: 22; largura: 12; 
diâmetro: 8,6 (cm). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa. 

PRIMAVERA (séc. XX). Olaria Alfacinha. Altura: 26; largura: 14;
diâmetro: 8,6 (cm). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.
 
PRIMAVERA (séc. XX). Ana das Peles. Altura: 30; largura: 16;
diâmetro: 10,7 (cm). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.

PRIMAVERA (séc. XX). Ana das Peles. Altura: 20,5; largura: 9,5;
diâmetro: 9,5 (cm). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.

sábado, 16 de março de 2019

HERNÂNI MATOS, PRESENTE!



Todos somos actores num palco, interpretando cada um o seu papel numa peça cuja encenação lhes escapa completamente.
Num dia, somos um megálito imponente e brilhante, pujante de força e de energia. No outro, somos uma massa informe, tombada e sem qualquer capacidade anímica. Tudo, fruto de uma viagem (in)escapável no túnel do espaço-tempo-energia que nos conduz do palco da Vida ao palco da Morte. Aconteceu recentemente comigo, conforme relato clínico. Todavia, a saudade da família e dos amigos, os deveres de escrita e o amor à Arte Popular, fizeram-me arrepiar caminho. Cá estou novamente para o que der e vier. É caso para dizer:
- HERNÂNI MATOS, PRESENTE!

1 de Março de 2019