sábado, 19 de julho de 2025

Cipriano Dourado e a apanha da azeitona

 

Rabisco. Litografia sobre papel 6/20. 42 x 35,5 cm. 1956.


Conjuntamente com a terra, a mulher é o tema dominante na obra de Cipriano Dourado (1921-1981), tanto no desenho, como na gravura ou na pintura. Nos seus trabalhos e independentemente da adversidade do contexto, sobressai sempre o encanto da feminilidade, resultado da delicadeza do seu traço.
No núcleo neo-realista do meu acervo pessoal de artes plásticas, tenho duas obras onde o artista aborda a apanha da azeitona.

Rabisco. Litografia sobre papel 6/20. 42 x 35,5 cm. 1956.
A litografia representa uma mulher do povo, de cabeça coberta por um lenço, com avental de trabalho e descalça, o que indicia a sua condição de pobreza. Encontra-se junto a uma oliveira, dobrada sobre si própria e apanha azeitona caída da árvore. No tempo do fascismo havia quem por necessidade tivesse que “andar ao rabisco”, isto é, ir à apanha da azeitona caída no chão, uma vez que tivesse terminado a safra. Era uma actividade de subsistência e último recurso, praticada por quem vivia miseravelmente. Nalgumas regiões era uma prática consentida pelos proprietários dos olivais, noutras não. Neste último caso, não era raro ver desgraçados entrar numa vila ou aldeia qualquer, à frente da guarda a cavalo. Como não tinham com que pagar a coima prevista, iam descansar as costas na prisão.
A litografia participou na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, a qual ocorreu entre 7 e 31 de Dezembro de 1957 nas salas de exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes em Lisboa. A tiragem da litografia foi de 20 exemplares e era vendida no local ao preço de 200$00 cada exemplar. Não foi editada pela GRAVURA, fundada no ano anterior, cujas tiragens eram na época de 100 exemplares e da qual Cipriano Dourado foi sócio fundador. Esta litografia fez parte da colecção do Eng. Frederico Marechal Spargo Pinheiro Chagas. Aquisição através de leiloeira.

Camponesa. Litografia sobre papel – prova de ensaio. 
45 x 33 cm. 1957.

Camponesa. Litografia sobre papel – prova de ensaio. 45 x 33 cm. 1957.
A litografia representa uma camponesa alentejana a colher azeitona de uma oliveira, a qual deposita no avental arregaçado. A cabeça encontra-se bem protegida por um lenço e as saias foram apanhadas em forma de calças, tal como usavam as ceifeiras. Aquisição feita a um antiquário. Litografia editada pela GRAVURA numa tiragem normal de 100 exemplares.

Cipriano Dourado (1921-1981)
Cipriano Dourado nasceu em 8 de Fevereiro de 1921 em Penhascoso (Mação). Em Lisboa, após frequentar a Escola Industrial Marquês de Pombal, inicia o seu percurso artístico como autodidacta. Com 14 anos, começou a trabalhar como desenhador-litógrafo e a perícia adquirida faz com que nas suas mãos, a litografia passe a ser gravura como arte maior.
O seu talento e vocação para as artes plásticas levaram-no a frequentar em 1939 a Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa, como aluno do curso nocturno, iniciando a sua participação nas exposições com trabalhos a aguarela, pois a gravura não tinha ainda entrada em exposições oficiais. Nos Salões de Inverno da SNBA, onde a aguarela e o desenho tinham acesso, Cipriano Dourado participou em 1947, com trabalhos de aguarela que obtiveram o 2º prémio Roque Gameiro e uma menção honrosa.
Entre 1949 e 1956 participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, na qualidade de desenhador, pintor e gravador. Em 1953, participou no “Ciclo do arroz” e em 1956 foi um dos sócios fundadores da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Como ilustrador colaborou em publicações como Seara Nova, Vértice, Colóquio-Letras e ilustrou livros de Orlando Gonçalves, Armindo Rodrigues, Mário Braga, Augusto Gil e Antunes da Silva, entre outros.
Participou em inúmeras exposições, tanto em Portugal como no estrangeiro. Encontra-se representado em museus como: Museu Nacional de Arte Contemporânea (Lisboa), Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Museu do Neo-Realismo (Vila Franca de Xira) e outros, bem como em inúmeras colecções públicas e privadas.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

António Cunhal (1910-1932), artista plástico neo-realista


António Cunhal (1910-1932). Semeador. Desenho a
tinta-da-china sobre cartolina. 25 x 16 cm. Assinado
e não datado. Colecção Hernâni Matos.

Um Cunhal menos conhecido
ANTÓNIO CUNHAL (1910-1932), natural de Coimbra, faleceu em Lisboa em 1932, vítima de tuberculose e gangrena pulmonar. Filho de Avelino Cunhal (1887-1966) e irmão de Álvaro Cunhal (1913-2005), advogados, políticos, escritores e artistas plásticos neo-realistas.

Artista plástico
Com 21 anos de idade, António Cunhal expôs 26 trabalhos seus no Salão “PINTURAS E DESENHOS DE ANTÓNIO CUNHAL”, patente ao público entre 1 e 15 de Junho de 1931, na prestigiada Papelaria Progresso, situada na Rua do Ouro 151 a 155, em Lisboa.
Nesse salão esteve exposto “O semeador”, desenho a tinta-da-china sobre cartolina, aqui reproduzido, adquirido por mim em leiloeira, o qual pertenceu à colecção do Dr. Fernando Abranches Ferrão (1908-1985), advogado de defesa de opositores ao regime do Estado Novo, onde se destacam os processos da Revolta da Mealhada (1947), da Comissão Distrital de Lisboa do MUD - Movimento de Unidade Democrática (1948), de Humberto Delgado na sequência das eleições Presidenciais (1958), do Golpe de Beja (1962) e dos estudantes (1965).
“O semeador” está assinado mas não está datado, pelo que será de 1931 ou de data anterior, qualquer delas afastadas dos finais dos anos 30, apontados como período de surgimento do neo-realismo português. Todavia, não só pelo conteúdo temático, mas sobretudo pela estética da representação, sou levado a considerar “O semeador” como uma obra neo-realista e a incluir António Cunhal no rol dos artistas plásticos neo-realistas.
António Cunhal está representado no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa e em colecções particulares.

Cinesta de animação
António Cunhal realizou em 1930 com Raul Faria da Fonseca, o filme de animação “A lenda de Miragaia”. O argumento é da autoria de ambos, inspirado no Romanceiro de Almeida Garrett. Baseia-se numa lenda popular que relata como o rei Ramiro II de Leão raptou a princesa moura Zahara e como o seu irmão Alboazar raptou a esposa de Ramiro, a rainha Gaia.
Trata-se do primeiro filme de animação português, recorrendo à técnica inovadora de animação de silhuetas recortadas, as quis foram fotografadas uma a uma para criar o movimento.
O filme, com 400 metros de extensão, era constituído por 24 800 fotogramas, que representavam outros tantos desenhos e movimentos.
“A Lenda de Miragaia”, produção da Ulyssea Film, estreou-se em Lisboa, no Jardim Cinema, a 1 de Junho de 1931.

Epílogo
Talvez a obra de António Cunhal merecesse uma investigação apurada, visando concluir se é ou não um artista plástico neo-realista, tal como eu aqui o proclamo.

Publicado inicialmente em 3 de Fevereiro de 2024

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Ceifeira adormecida - Litografia de Manuel Ribeiro de Pavia


Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
 Litografia sobre papel - prova nº 7. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos

Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
Litografia sobre papel 19/50. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos.

No Alentejo de outros tempos, a colheita do trigo recorria à ceifa manual, actividade sazonal dificultada pelo rigor do clima. Ceifeiros e ceifeiras sentiam-no bem no corpo. O trabalho penoso e mal pago, realizava-se de “sol a sol”, interrompido apenas por refeições rápidas e frugais. A “bucha” ao pegar no trabalho, o “almoço” pelas 10 horas da manhã, o “jantar” sensivelmente pelas 2 da tarde, a que se seguia a “sesta” de duas horas para um retemperar de forças. A sesta ocorria à sombra de uma azinheira ou de molhos de trigo e durava até serem acordados pelo manajeiro. A faina prolongava-se até às 8 da noite, altura em que tinha lugar a “ceia”, a última refeição do dia, finda a qual trabalhavam até haver luz e o manajeiro dar a ordem de “solta”. Depois era o descanso nocturno, até ao nascer do sol do dia seguinte.

A sesta dos ceifeiros é um tema recorrente na arte portuguesa. Manuel Ribeiro de Pavia na litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 2 e Fig. 3) patenteia uma ceifeira a descansar, encostada a uma árvore e protegida pela sua sombra. Observe-se que a litografia é anterior à criação da GRAVURA - Sociedade Portuguesa de Gravadores (1956). A prova nº 7 da litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 1) é uma prova de cor com um cromatismo mais vivo que o trabalho final (Fig. 2), o qual teve uma tiragem de 50 exemplares cujo cromatismo é mais sóbrio.

José Malhoa (Fig. 3) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1895), mostra um grupo de ceifeiros a descansar à sombra de uma árvore, a qual não aparece representada.

Dordio Gomes (Fig. 4) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1918), representa ceifeiros a descansar, protegidos por molhos de trigo. 

 Hernâni Matos

Publicado inicialmente a 16 de Julho de 2024

Fig. 3 - A sesta dos ceifeiros (1885). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (95 x 132 cm).
Museu de Arte Contemporânea Armando Martins, Lisboa.

Fig. 4 - A sesta dos ceifeiros – Alentejo (1918). Dórdio Gomes (1890-1976).
Óleo sobre tela (74 x 59 cm). Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

domingo, 8 de junho de 2025

Louça de Redondo no Mercado das Velharias em Estremoz

 

1.

Sábado é dia de recarregar baterias. E eu sou guardador de memórias. Memórias identitárias de tempos idos de um Alentejo que trago na alma e na massa do sangue. Por mim circulam Bonecos e Olaria de Estremoz, Arte Pastoril, Louça Vidrada de Redondo e mais não digo, senão não saímos daqui. Passo de imediato a contar-vos o que deu a safra ontem.

1. Barranhão de grandes dimensões decorado com base na tradicional tricromia verde-amarelo-ocre castanho, característica da louça vidrada de Redondo. Bordo beliscado e esponjado de verde. Fundo com decoração mista, fitomórfica e zoomórfica, na qual um arbusto florido serve de poiso a um bando de passarinhos, que também esvoaçam em torno dele, já com o bico carregado,. numa clara alegoria à Primavera.

O traço do esgrafitado é fino, firme e seguro, configurando o desenho ter saído das mãos de grande artista. 

Autoria e datação por determinar,

 

2.

2. Prato de louça de barro vermelho de Redondo, pintado e não vidrado por Francisco Cardadeiro (Chico Galinho). A pintura cinge-se à parte frontal do prato, o fundo é negro e a decoração policromática e fitomórfica reproduz os habituais elementos decorativos da mobília tradicional alentejana. No bordo do prato existe simetria alternada dos elementos decorativos usados do prato. No fundo, existe simetria axial em relação ao eixo central.

Datação por determinar.

  Hernâni Matos


quinta-feira, 5 de junho de 2025

Carlos Alberto Alves e a Música Popular Alentejana



Tocadora de adufe.

Bonecos de Estremoz de Carlos Alberto Alves.
Pintura de Cristina Malaquias.
Colecção Hernãni Matos

Em comunicação datada de 1998 (*), demonstrei que pela sua paisagem própria, pelo carácter do povo alentejano, pelo trajo popular, pela gastronomia, pela arte popular, pelo cancioneiro popular, pelo cante, pela música popular, pela casa tradicional, o Alentejo é uma região com uma identidade cultural própria.

No caso muito particular da música popular alentejana, também os executantes e os instrumentos musicais populares alentejanos, são parte integrante da identidade cultural alentejana, a qual urge preservar e valorizar enquanto memória do povo.

Etno-musicólogos como Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça calcorrearam os campos do Alentejo nos anos 60 do século passado e efectuaram o registo etno-musical da região.

Conhecedor deste registo e daqueles que nele participaram, entre eles o seu tio Aníbal Falcato Alves, o barrista Carlos Alberto Alves, no mais estrito respeito pela técnica de produção e pela estética do Boneco de Estremoz, criou um conjunto de figuras sob a epígrafe MÚSICA POPULAR ALENTEJANA, o qual incorpora os tocadores dos seguintes instrumentos musicais populares alentejanos: adufe, pandeireta, bombo, tambor, ronca, cana rachada, cântaro, udu, ferrinhos, reque-reque, tamboril, trancanholas, castanholas, chocalho, guizos, flauta, viola campaniça e harmónio. Com esta criação procura homenagear todos aqueles que contribuíram para o registo etno-musical do Alentejo.

Felicito o barrista pela qualidade do seu trabalho e pela iniciativa de criar estas figuras, a qual além de louvável é simultaneamente uma forma de afirmação pessoal que constitui mais um passo importante na consolidação da sua carreira como barrista.

HernânMatos

(*) - “A necessidade da criação da Região Administrativa do Alentejo” no Encontro promovido pelo Movimento “Alentejo – Sim à Regionalização por Portugal”. Estremoz, Junta de Freguesia de Santa Maria, 24 de Outubro de 1998.

Tocador de pandeireta.

Tocador de bombo.

Tocador de tambor.

Tocador de ronca.

Tocador de cana rachada.

Tocador de cântaro.


Tocadora de udu.

Tocador de ferrinhos.

Tocador de reque-reque.
.
Tamborileiro.

Tocador de trancanholas.

Tocador de castanholas.

Tocador de chocalho.

Tocador de guizos.

Tocador de flauta.

Tocador  de viola campaniça.

Tocador de harmónio.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Rogério Ribeiro, homenageado no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira

 

Rogério Ribeiro (1930-2008).



Inauguração da exposição
No passado dia 31 de Maio, teve lugar no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, a inauguração da exposição “Fazer crescer a Vida - Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”.
Com notável curadoria de David Santos, Director Científico do Museu, a exposição ocupa os pisos 1 e 2, mostrando cerca de duzentas e cinquenta obras de pintura, desenho, gravura e cerâmica de Rogério Ribeiro.
O conjunto exposto está distribuído e estruturado em seis grandes tópicos aglutinadores: 1 – MAR E SARGAÇO; 2 – TERRA E CAMPESINATO; 3 – OPERARIADO E OUTROS TRABALHOS; 4 – FAMÍLIA E QUOTIDIANO; 5 – CORPO E ROSTO; 6 - ECOS DO REALISMO.
A exposição tem entrada livre e pode ser visitada até ao próximo dia 4 de Outubro.

Palavras do Presidente da Câmara
No livro que funciona como catálogo da exposição, o Presidente da Câmara Municipal, Fernando Paulo Ferreira, começa por declarar: “É com enorme satisfação que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira acolhe, no Museu do Neo-Realismo, a exposição “Fazer crescer a Vida - Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”, dedicada à fase neo-realista do pintor Rogério Ribeiro, uma das maiores figuras do realismo social no nosso país.” E no final: “Convido assim todos os munícipes e visitantes a descobrirem nesta exposição uma poderosa expressão da história, das lutas e dos sonhos do nosso povo durante o difícil período da ditadura do Estado Novo.”

Palavras do Curador
Igualmente no livro que funciona como catálogo da exposição, diz o Curador e Director Científico do Museu do Neo-Realismo, David Santos: “Rogério Ribeiro legou-nos um exercício artístico indissociável das formas narrativas e simbólicas do neo-realismo, reinterpretando nas suas fases mais tardias muitos dos elementos temáticos, ideológicos e contemplativos desse realismo original. O que o norteou ao longo desse percurso foi, afinal, um compromisso assente na vida e no seu valor supremo, o humanismo, desocultando a sua expressão social e política em interacção sensível com a manifestação dessa criatividade que associamos desde sempre à prática do desenho e da pintura. E o resultado desse desígnio mantém-se ainda hoje na força do testemunho, no assombro do real que as cores e as formas da arte alcançam quando nos lembram o rosto de um povo.”

A exposição em livro
Da exposição foi editado um portentoso livro de 300 páginas, ilustrado a cores, no qual figura o catálogo com as imagens e descrições de todas as obras expostas.
O catálogo é antecedido de importantes textos sobre a vida e obra de Rogério Ribeiro, bem como a sua colaboração com o Museu do Neo-Realismo. São eles: - Lembrar Rogério Ribeiro. Uma homenagem em forma de exposição (Fernando Paulo Ferreira); - História e arte em memória de Rogério Ribeiro (David Santos); - Fazer crescer a vida no assombro do real / Rogério Ribeiro e o neo-realismo (David Santos); - Rogério Ribeiro / as metamorfoses do neo-realismo (José Luís Porfírio); - Rogério Ribeiro e o Museu do Neo-Realismo (António Mota Redol); - Sobre o meu pai (1947-1953) (Ana Isabel Ribeiro); - As pinturas e os desenhos nas cartas (Ana Isabel Ribeiro).
Ao catálogo segue-se a Biografia de Rogério Ribeiro (Ana Isabel Ribeiro). O livro termina com uma minuciosa ficha técnica de todos os envolvidos na exposição.

Rogério Ribeiro e Estremoz
Rogério Ribeiro (1930-2008) é natural de Estremoz, onde nasceu em 1930 e aqui vive a sua primeira infância. Os pais fixam-se em Lisboa em 1940, mas ao longo da sua vida, mantém laços estreitos com Estremoz, não só através de familiares aqui residentes, como de amigos como Aníbal Falcato Alves, Jacinto Varela, Armando Carmelo, Francisco Falcato, Joaquim Vermelho e outros. Nos anos 80 do séc. XX chega a utilizar como atelier, o edifício da antiga cadeia, cedido pelo Município.
Tive o privilégio de o entrevistar em 1981 para o jornal Brados do Alentejo. Aí se falou de neo-realismo. Num enquadramento da exposição que o homenageia no Museu do Neo-Realismo, está patente um painel que destaca um excerto dessa entrevista.
Rogério Ribeiro foi co-autor do projecto da Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, com Armando Alves, Joaquim Vermelho, José Aurélio e outros, concretizado em 1983, tendo dado um valioso contributo para a recolha de obras de arte por doação de artistas plásticos, as quais integram actualmente as valiosas reservas do Museu Municipal de Estremoz – Professor Joaquim Vermelho.
Estremoz foi palco de três exposições do pintor: - “ROGÉRIO RIBEIRO” / PINTURA, DESENHO E ILUSTRAÇÃO (1981), na Biblioteca Municipal de Estremoz; – “ROGÉRIO RIBEIRO / “MUDAM-SE OS TEMPOS, FICAM AS VONTADES” (2005), no Museu Municipal de Estremoz – Professor Joaquim Vermelho. – “EVOCAÇÃO E MEMÓRIA. PINTURA E DESENHO DE ROGÉRIO RIBEIRO” (2013), na Galeria Municipal D. Dinis, em Estremoz.
Em 2006, o Município de Estremoz, presidido por José Aberto Fateixa, outorgou ao artista plástico e a título póstumo, a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro.
Em 2013, o Município de Estremoz, presidido por Luís Mourinha, perpetuou o nome do pintor na toponímia local, passando a partir daí a existir o topónimo “Rua Mestre Rogério Ribeiro”.
A exposição agora inaugurada no Museu do Neo-Realismo integra duas obras cedidas para o efeito pelo Museu Municipal de Estremoz e pertencentes ao seu acervo. São elas: - Estudo, 1952. Aguarela sobre papel, 30 x 43 cm; - Mondadeiras, 1952. Tinta-da-China e guache sobre papel, 35 x 45 cm.
De Estremoz, presentes ao acto inaugural e por iniciativa própria, estive eu e duas pessoas que me acompanharam. Seria de esperar que alguém com capacidade e poder de representação da comunidade estremocense, estivesse presente no acto inaugural da exposição do Museu do Neo-Realismo, já que esta visava homenagear Rogério Ribeiro, um dos maiores protagonistas do neo-realismo visual português e simultaneamente filho ilustre de Estremoz, a quem a comunidade muito deve. Todavia, tal não aconteceu. Aqui fica o registo.

Publicado no jornal E de 5 de Junho de 2025

Mulheres do sargaço (fragmento), 1953. Óleo sobre tela, 66,8 x 101,8 cm.
Assinado e datado. Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

Debulhadora (fragmento), 1954. Óleo sobre tela, 98,5 x 124 cm.
Assinado e datado. Colecção particular.

Sem título, sem data. Tinta-da-china e guache sobre papel, 49,9 x 34,8 cm. 
Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

Família, 1951. Óleo sobre cartão, 70 x 89,5 cm. Assinado e datado.
Colecção Museu Calouste Gulbenkian.

Sem título,1960. Grafite, guache e aguada sobre papel, 28,7 x 19,7 cm.
Assinado e datado. Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

Sem título, sem data. Grafite, aguada, tinta-da-china sobre papel.
42,9 x 31,2 cm. Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

domingo, 1 de junho de 2025

Estremocense, Mestre do Neo-Realismo, em terras de Vila Franca

 



Ontem, dia 31 de Maio, estive presente, por iniciativa própria, no acto inaugural da exposição “Fazer crescer a vida - Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”.

Com curadoria de David Santos, a exposição ocupa os pisos 1 e 2 do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, mostrando cerca de duzentas e cinquenta obras de pintura, desenho, gravura e cerâmica de Rogério Ribeiro, um dos maiores protagonistas do neo-realismo visual português.

Rogério Ribeiro (1930-2008) é natural de Estremoz, onde nasceu em 1930. Tive o privilégio de o entrevistar em 1981 para o jornal Brados do Alentejo. Aí se falou de neo-realismo. Num enquadramento da presente exposição está patente um painel que destaca um excerto dessa entrevista.

O Município de Estremoz galardoou o artista em 2006 com a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro e desde 2013 que a toponímia estremocense assinala a existência da rua “Mestre Rogério Ribeiro”.

A exposição “Fazer crescer a vida -. Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”, integra duas obras cedidas para o efeito pelo Museu Municipal de Estremoz e pertencentes ao seu acervo. São elas: - Estudo, 1952. Aguarela sobre papel, 30 x 43 cm; - Mondadeiras, 1952. Tinta-da-China e gouache sobre papel, 35 x 45 cm.

De Estremoz, presentes ao acto inaugural e por iniciativa própria, estive eu e duas pessoas que me acompanharam. Convenhamos que sabe a pouco.