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domingo, 21 de abril de 2024

A participação do RC3 nos acontecimentos do 25 de Abril de 1974

 


O presente relato tem por base a cronologia dos acontecimentos, sustentada por documentos do MFA, muito em especial o Relatório da Operação “25 de Abril de 74”, subscrito pelo Capitão Andrade Moura, Comandante do Esquadrão do RC3 que interveio nas operações militares do 25 de Abril, bem como pelo Coronel Caldas Duarte, Comandante do RC3.


A origem do Movimento das Forças Armadas
O derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime de Salazar e de Caetano - foi conseguido em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do Movimento das Forças Armadas – MFA, cuja origem remonta ao clima de instabilidade no interior das próprias forças armadas, particularmente do Exército, instabilidade essa que se manifestou em meados de 1973, com o surgimento do denominado Movimento dos Capitães, o qual aglutinava oficiais de média patente, insatisfeitos com as suas remunerações e com a perda de prestígio da oficialidade do quadro permanente, bem como com a Guerra Colonial que, desde 1961, ou seja, há 13 anos, se arrastava em 3 frentes, sem se antever uma solução política para a mesma, bem como pela previsibilidade de uma derrota militar iminente.
No seu poema “As portas que Abril abriu!”, o saudoso poeta José Carlos Ary dos Santos, diz-nos quem fez o de Abril de 1974:

Quem o fez era soldado
homem novo Capitão
mas também tinha a seu lado
muits homens na prisão.”

E mais adiante:

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.”

A Missão atribuída ao RC3 à data do 25 de Abril de 1974
O RC3 de Estremoz tinha, à data dos acontecimentos do 25 de Abril, quadros que haviam regressado da Guiné, nos finais do ano anterior. A Unidade era uma das mais bem apetrechadas do sul do país. Era, sem sombra de dúvida, a mais forte em termos de material blindado, pelo que o comando do MFA contava com ela para assegurar o êxito da acção.
A Missão do RC3 era marchar o mais rapidamente possível sobre Lisboa, na madrugada de 25 de Abril de 1974, com uma coluna de auto-metralhadoras e estacionar na zona da portagem da ponte sobre o Tejo, ficando a constituir reserva às ordens do Posto de Comando do MFA. Para tal, havia que deslocar um Esquadrão constituído por dois pelotões de reconhecimento e um terceiro de Atiradores.
Dia 24 de Abril, pelas 3 horas, o Capitão Alberto Ferreira desloca-se à Aldeia da Serra onde recebe um aparelho de transmissões E/R TR28 e a Ordem de Operações, que entrega nesse dia de manhã ao Capitão Andrade Moura, que pôs ao corrente da situação o Major Fernandes Tomás, tendo ambos analisado a situação da Unidade em face de certos factores negativos que lhes apresentavam e eram:
- Presença do Director da Arma de Cavalaria, General Bessa, que se encontrava na Unidade desde 23 de Abril e que pernoitaria em 24 na cidade, em casa do Comandante.
- Intensificação da vigilância sobre os Oficiais do MFA da Unidade e sobre os capitães Miquelina Simões e Gastão da Silva, ambos de Lanceiros 1.
- A presença de Companhias recentemente apresentadas para instrução de Especialidades.
Após essa análise foi decidido não tomar qualquer atitude antes duma hora que pudesse provocar a quebra do segredo do que estava planeado. Esta decisão tinha como consequência a Impossibilidade da saída do Esquadrão à hora prevista, pois este não estava municiado e as munições encontravam-se em local afastado das viaturas. Dia 24 de Abril, pelas 10 horas, o Capitão Andrade Moura envia a Portalegre o Aspirante Matos de Sousa, para entregar a Ordem de Operações ao Capitão Gomes Pereira.
Dia 25 de Abril, pela 1 h 30 min da madrugada, o Capitão Andrade Moura solicita ao Major Machado Faria, que tinha acabado de chegar dum jantar oferecido ao General 8essa, a comparência em sua casa. Posto ao corrente do assunto, logo adere ao MFA.
Dia 25 de Abril, pelas 2 h da madrugada, os Capitães Andrade e Moura e Alberto Ferreira consideram problemática a saída da Unidade pois têm poucos apoios internos. A única possibilidade será conquistar o apoio do Comandante Coronel Caldas Duarte. Abordam-no então no sentido da sua adesão ao MFA. Este mostra-se indeciso e pede tempo para reflectir.
Dia 25 de Abril, pelas 4 h 30 min da madrugada, após cerca de duas horas de reflexão, o Comandante Coronel Caldas Duarte adere ao Movimento, colocando-se inteiramente ao lado dos seus oficiais. Iniciam-se então, de imediato os preparativos para a saída da coluna.
Chegados ao Quartel, o Capitão Andrade Moura ocupa a Central Telefónica e é posto em execução o plano de recolha de Oficiais e Sargentos, iniciando-se a preparação do Esquadrão. Colocado o pessoal ao corrente dos factos, logo aderem em bloco, mostrando todos desejos de marchar sobre Lisboa.

Composição do Esquadrão do RC3
A composição do Esquadrão era a seguinte:
Comandante do Esquadrão – Capitão Andrade Moura, coadjuvado pelo Capitão Alberto Ferreira. Acompanhou a força até à Ponte Salazar o Coronel Caldas Duarte. Integraram-se ainda na força os Capitães Miquelina Simões e Gastão da Silva, ambos do Regimento de Lanceiros 1 de Elvas, onde estavam colocados na sequência do frustrado golpe das Caldas, em 16 de Março.
1.º Pelotão de Reconhecimento: - Comandante 1.º Sargento Silva Brás; Comandantes de Secção: Furriel Miliciano. Correia, 1º Cabo Miliciano Caldeira, 1.º Cabo Miliciano Correia. Praças: 40.
2.° Pelotão de Reconhecimento: Comandante Aspirante Oficial Miliciano Matos de Sousa; Comandantes de Secção: 1.º Cabo Miliciano Martins; Praças 30.
3.° Pelotão Atiradores: Comandante Aspirante Oficial Miliciano Montalvão Machado; Comandantes de Secção: Furrieis Milicianos Barata e Maçôas; Praças: 30. O Oficial de ligação do Esquadrão era o Aspirante Miliciano Coelho Cordeiro.

A partida para Lisboa
De acordo com o “Plano Geral das Operações”, o início do cumprimento das missões militares estava previsto para as 3 horas da madrugada do dia 25 de Abril, sendo que só às 7 h, depois de armado e municiado e com bastante atraso em relação ao horário previsto, o Esquadrão do RC3 segue pela estrada Estremoz-Pegões-Setúbal.
No final da coluna seguem viaturas Berlier com munições, água, combustível e óleo.
A cerca de 4 km de Estremoz, uma viatura Unimog avaria. Verificando-se a Impossibilidade da sua reparação, O Capitão Andrade Moura ordena que a mesma seja abandonada. À passagem por Arraiolos nova viatura avaria e é também abandonada. Após uma paragem causada pelo aquecimento das viaturas blindadas, a marcha continua. Em Vendas Novas foi decidido atestar as viaturas, pois receava-se que, ao atingir a Ponte Salazar, a autonomia das mesmas fosse limitada, o que poderia impedir o cumprimento das missões que fossem atribuídas ao Esquadrão. Até Palmela não se regista qualquer incidente mas, junto da estação, avaria outra viatura, que não sendo possível reparar, foi abandonada no local.
Em Mortiça, o Esquadrão deriva em direcção a Palmela, a fim de evitar qualquer tentativa de intercepção por parte das tropas estacionadas em Setúbal.

A chegada à Ponte Salazar
Finalmente, cerca das 13 h 15 min do dia 25 de Abril, o Esquadrão do RC3 chega à Ponte Salazar, comunicando ao Posto de Comando do MFA que tomara posições. O Posto de Comando determina que o Esquadrão marche sobre a Casa de Reclusão da Trafaria para libertar os militares presos. O Comandante da Unidade, Coronel Caldas Duarte permanece na Ponte Salazar, seguindo posteriormente para Lisboa com os Capitães Miquelina Simões e Gastão da Silva que, em carro civil e como batedores, tinham acompanhado o Esquadrão desde Estremoz, trabalho que muito facilitou a sua marcha.
Pelas 13 h 30 min começam a chegar ao Posto de Comando do MFA notícias da tentativa de cerco às forças da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém, comandadas pelo Capitão Salgueiro da Maia e que estão a cercar o Quartel do Carmo.

A Missão em Lisboa
Pelas 13 h 45 min, face à gravidade da situação, o Posto de Comando dá uma contra-ordem às forças do RC3 que se dirigiam ao presídio da Trafaria, para, o mais rapidamente possível, inverterem o sentido e dirigirem-se à zona do Quartel do Carmo, para dar apoio à retaguarda das forças da Escola Prática de Cavalaria que já ocupavam o Largo, a fim de aliviar a pressão que estava a ser exercida sobre elas por duas Companhias da G.N.R., uma Companhia de Polícia de Choque e quatro blindados do R. C. 7, que não tinham ainda aderido ao Movimento.
Invertida a marcha, o Esquadrão do RC3 atravessa a Ponte Salazar, atinge o Largo do Rato, dirigindo-se para o Carmo pela Rua da Escola Politécnica. Junto da Imprensa Nacional recebe as primeiras manifestações de apoio da população civil, que se dirige ao Capitão Andrade Moura, prestando Informações sobre as posições ocupadas pelas forças da G.N.R.
O Esquadrão chega em tempo record à zona do Largo do Carmo. Aí, os Capitães Andrade Moura e Alberto Ferreira dispõem as forças na Rua Nova da Trindade, na Rua da Misericórdia e no Largo de Camões, colocando-se em posição de bater os carros de Cavalaria 7 que se encontravam no alto do Chiado. Fazem então ver aos oficiais da G. N. R. que a situação era insustentável para eles e intimam-nos a renderem-se ou a abandonarem o local, dirigindo-se aos quartéis.
Cerca de 10 minutos após a entrada em cena do RC3, as forças leais ao regime, que tentavam o cerco à Escola Prática de Cavalaria no Largo do Carmo, desmobilizam. Pelas 14 horas, o Brigadeiro Junqueira dos Reis, do RC7, abandona o local e o restante pessoal do RC7 retira-se das posições no Largo de Camões e apresenta-se ao Capitão Andrade Moura, aderindo ao MFA.
Perante a intimidação do RC3, o comandante das forças da GNR contacta o Comando-Geral e após 30 minutos concentram-se no Largo da Misericórdia, seguindo depois para os quartéis. De salientar que os oficiais da G.N.R., desde o primeiro momento, tentaram resolver a situação de molde a evitar uma confrontação. O Esquadrão do RC3 manteve as suas posições até cerca das 19 h 30 min, tendo seguidamente ocupado o Largo do Carmo, pois tinha recebido ordens para tomar conta do Quartel da G. N. R.
Pelas 14 h 30 min, é lido um comunicado, pela voz da estremocense, Clarisse Guerra, locutora do Rádio Clube Português, no qual se noticiavam os objectivos já conquistados pelo MFA e era ainda divulgado o cerco ao Professor Marcelo Caetano e membros do Governo no quartel do Carmo.
Às 18 horas, o estremocense General António de Spínola, mandatado pelo Posto de Comando do MFA recebe no Quartel do Carmo, a rendição do 1º ministro, Professor Marcelo Caetano, a quem informa que ele e os restantes dirigentes do regime serão conduzidos ao Funchal por um DC6 da Força Aérea.
Do Quartel do Carmo saem, às 19 h 35 min, numa Auto-Metralhadora Chaimite, sob escolta da Escola Prática de Cavalaria, dirigindo-se ao Posto de Comando do MFA no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, onde chegam às 20 h 30 min. Com eles segue o General António de Spínola, que informa que acabara de assumir o poder no Quartel do Carmo.
Pelas 20 h 30 min, o povo de Lisboa que, desde manhã, segue as movimentações militares, começa a engrossar pelas ruas da Baixa, à medida que as Forças do MFA iam conquistando objectivos. A população começa depois a dirigir-se massivamente para a sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso.
Pelas 21 h, os agentes da PIDE vendo a sua sede cercada pela população, abrem fogo indiscriminado, tendo feito 4 mortos e 45 feridos que serão socorridos pela Cruz Vermelha e encaminhados para o Hospital de S. José e para o Hospital Militar.
O Capitão Andrade Moura, estacionado no Largo do Carmo, ouve os disparos e é informado por populares do que se passa na sede da PIDE. Dirige-se então para a Rua António Maria Cardoso, a fim de evitar mais derramamento de sangue. Há grande dificuldades para que um veículo blindado de reconhecimento - PANHARD e dois jeeps atinjam o local, visto que a população deseja vingança e, completamente fora de si, impede qualquer manobra. Atingida aquela rua, a Panhard estaciona junto ao Teatro de S. Luís. A população pede vingança e que se ataque o edifício, em cujas janelas se viam alguns membros da PIDE/DGS.
Como a força era pequena para iniciar o cerco, o Capitão Andrade Moura ordena a comparência de reforços que estavam junto do Quartel do Carmo. Chegados estes, coloca vários atiradores naquela rua, enquanto outra Panhard e atiradores tomam posição na Rua Duques de Bragança e mais tarde na Rua Vítor Cordon.
O Capitão Andrade Moura, com prudência, a fim de mais uma vez evitar derramamento de sangue na tentativa da tomada da sede da PIDE de assalto, exige a sua rendição, o que não se processa logo. Como as forças eram insuficientes, o Capitão Andrade Moura pede instruções ao Comando do MFA, bem como reforços para completar o cerco à sede da PIDE, onde, conforme se soube posteriormente, estavam cerca de 250 agentes barricados, oferecendo resistência às forças do Exército.
Como não foram recebidas quaisquer ordens para um ataque que continuava a ser exigido pela população, este não foi executado. O Capitão Andrade Moura tenta então explicar à população a atitude do RC3. Após bastantes esforços, foi compreendido. Contudo, os populares não arredam pé, mas não Interferem, pedindo unicamente para os militares não deixarem fugir os Pides.

A madrugada do dia 26 de Abril
Os reforços, constituídos por dois destacamentos da Marinha, comandados pelo Capitão Tenente Costa Correia, chegam cerca das 2 h do dia de 26 de Abril. Foi então acordado que a força do RC3 se encarregaria do controlo das traseiras da sede da PIDE e que a Marinha controlaria o resto do edifício. Entretanto, já o RC3 capturara doze agentes da PIDE/D.G.S. e tinha abatido um que fugira, ao ser-lhe dada ordem de se entregar.
Pelas 3 h do dia 26, o Capitão Tenente Costa Correia, não conhecendo as intenções no interior da sede da PIDE, tenta acalmar os ânimos dos populares que se encontravam nas imediações e aguarda pelo nascer do dia. É ainda decidido utilizar um dos agentes capturados para servir de medianeiro entre a força e a Direcção da PIDE.

O dia 26 de Abril
Pelas 8 h 30 min da manhã, este vem a informar que o director da PIDE, Major Silva Pais e os seus agentes estavam dispostos a render-se, se as Forças Armadas garantissem a protecção aos agentes.
Às 9 h, o Capitão Tenente Costa Correia, o Capitão Andrade Moura e o Major Campos Andrada entram na sede da PIDE, onde aceitam a rendição desta.
Às 9 h 30 min, os militares do RC3 desarmam os agentes da PIDE e passam revista às instalações. No exterior, as forças de Marinha tentam conter a multidão, a qual grita, exigindo "justiça popular". São de seguida tomadas medidas destinadas a garantir a segurança das instalações e manter em funcionamento o Serviço de Estrangeiros e a Interpol. É também pedido ao Capitão Tenente Almada Contreiras que tome medidas para evacuar os agentes da PIDE, uma vez que a animosidade dos populares era crescente.
De salientar que a rendição da PIDE se dá após 12 horas de espera, ao longo das quais foi necessária a intervenção junto dos populares, recomendando prudência e civismo, a fim de evitar uma chacina de grandes proporções, que teria ocorrido se os populares tivessem concretizado um pretendido ataque às instalações onde os Pides estavam barricados.
Pelas 13 horas do dia 26 de Abril, iniciar-se-ia a libertação dos presos políticos nas cadeias de Caxias e Peniche.

A noite de 26 de Abril
Durante toda a noite do dia 26 de Abril, o esquadrão do R.C.3. manteve-se em duas posições: Largo do Carmo e Sede da PIDE. O dispositivo manteve-se até às 18 h, hora a que o Esquadrão recebe ordem de recolher ao Regimento de Cavalaria 7. Atingido este Regimento, o Esquadrão recebe ordens de seguir para Évora, a fim de escoltar o novo Comandante da Região Militar Sul, Coronel de Cavalaria Fontes Pereira de Melo. Porém, em virtude do cansaço dos homens, que há duas noites não dormiam, o Capitão Andrade Moura solicita ao Comando do MFA que a missão só seja cumprida ao amanhecer do dia 27. Tendo sido atendido, ficou o Esquadrão instalado no R.C.7.

O regresso a Estremoz
Dia 27 de Abril, pelas 6 h 30 min da madrugada, o Esquadrão do RC3 inicia o regresso a Estremoz, com a missão de escoltar até Évora o novo comandante da Região Militar Sul, Coronel Fontes Pereira de Melo. Évora é atingida cerca das 13h 45 min. O regresso do Esquadrão dá-se por Évora Monte. Durante todo o percurso, os militares do RC3 são alvo de significativas manifestações de regozijo, tanto dos automobilistas com que se cruzam na estrada, como pelos populares das povoações por onde a coluna passa.

A chegada a Estremoz
A entrada dá-se pelas portas de Santo António até ao quartel do Regimento, onde o Esquadrão do RC3, cumprida a missão que o levara a Lisboa, é alvo de grandiosa recepção popular, sendo aclamado pela multidão entusiasmada e recebendo honras militares.
Estremoz estivera presente na hora da libertação através do papel determinante desempenhado pelo RC3 no desenrolar dos acontecimentos. É caso para parafrasear o poeta José Carlos Ary dos Santos, dizendo:

“Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.”

Hernâni Matos
Publicado no jornal E, nº 332, de 11 de Abril de 2024

À frente da coluna militar, o Comandante do Esquadrão,
Capitão Andrade Moura.

A alegria da vitória, que o cansaço não conseguiu abater.
De pé, o 1º Sargento Francisco Brás.

O capitão Alberto Ferreira e os seus homens,
com um sorriso de satisfação.

À vista de Estremoz, a coluna militar em movimento.
Sempre presente, o “V” da Vitória.

Aspecto parcial da coluna militar no seu regresso e com a missão cumprida.


O Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura,
entra na cidade pelas Portas de Santo António.

Um aspecto da coluna militar a atravessar as Portas de Santo António.

À chegada, frente ao edifício do RC3: Honras Militares e Aclamação Popular.

domingo, 14 de abril de 2024

Atributos, pormenores e estilo


Mulher a passar a ferro. Jorge da Conceição (1963-  ). Colecção do autor.


Prólogo
A barrística de Estremoz é diversificada, pelo que legitimamente se põe a questão de saber quais as características que os exemplares produzidos ao modo de Estremoz, não podem deixar de ter. Vou procurar dar uma resposta a essa questão num caso concreto.

Atributos
Na barrística de Estremoz, cada um dos chamados “Bonecos da Tradição”, goza de determinados atributos. Estes não são mais que as particularidades invariantes que obrigatoriamente um barrista deve ter em conta na confecção de cada uma dessas figuras. Essas particularidades estão associadas a cada uma dessas figuras e ajudam a identificá-las.
No caso da figura conhecida por “Mulher a passar a ferro” (Figs. 1 a 13) esses atributos são quatro: mesa, peça de roupa, ferro de engomar e mão direita da mulher a segurar o ferro;

Pormenores
Para além das particularidades invariantes atrás referidas, existem outras particularidades variáveis (pormenores) cuja inclusão na manufactura de uma figura, depende do livro arbítrio do barrista. No caso da figura conhecida por “Mulher a passar a ferro”, esses pormenores são os seguintes:
- MESA: pode variar o tipo de mesa, bem como a sua cor e a cor do tampo;
- FERRO DE ENGOMAR: pode ser de diferentes tipos;
- PEÇA DE ROUPA A SER ENGOMADA: de tipo e cor variável;
- PEÇAS DE ROUPA EXSTENTES EM CIMA DA MESA: Em número, tipo e cor variável;
- COBERTURA DO TAMPO DE MESA: pode existir ou não;
- MÃO ESQUERDA DA MULHER: pode estar assente sobre a mesa, segurando ou não a peça de roupa, mas pode estar também apoiada no corpo, em posição variável; 
- VESTIDO DA MULHER: de tipo, cor e componentes variáveis;
- OUTRO VESTUÁRIO DA MULHER: pode trajar avental ou ter um xaile nas costas;
- CABELO DA MULHER: o penteado é variável;
- CABEÇA DA MULHER: a cabeça pode estar a descoberto ou ser protegida por um lenço ou ainda estar ornamentada com uma canoa;
- GEOMETRIA DA BASE: rectangular ou trapezoidal, com as pontas vivas, adoçadas ou aparadas em bisel;
- TOPO DA BASE: verde-escuro simples ou pintalgado de zarcão, branco e amarelo. Em alternativa pode ter uma decoração que simula um chão, como por exemplo, de tijoleira;
- ORLA DA BASE: zarcão, castanho ou pintalgado com as cores da base.

Estilo
O estilo é o modo como cada barrista se exprime, revelando a sua individualidade através de marcas identitárias que lhe são próprias e que se repetem ao longo da sua produção.

Epílogo
A pluralidade de resultados distintos possíveis de obter na confecção de uma figura, mesmo dos chamados “Bonecos da tradição”, é reveladora da riqueza da barrística de Estremoz.

Publicado inicialmente em 6 de Outubro de 2020
Oficinas de Estremoz do séc. XIX. Colecção do autor.

Ana das Peles (1859-1945). Colecção Jorge da Conceição.

Mariano da Conceição (1903-1959). Colecção Jorge da Conceição.

Sabina da Conceição (1921-2005). Colecção do autor.

Liberdade da Conceição (1913-1999). Colecção Jorge da Conceição.

José Moreira (1926-1991). Colecção do autor.


Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Colecção Jorge da Conceição.

Jorge da Conceição (1963-  ). Colecção do autor.

Carlos Alves (1958-  ). Colecção do autor.

Ricardo Fonseca (1986-  ). Colecção do autor.

José Carlos Rodrigues (1970-   ). Colecção do autor.

Luís Parente (?  -   ). Colecção do autor.

Jorge Carrapiço (1968  -   ). Colecção do autor


#hernanimatos #bonecosdeestremoz #figurado de estremoz

domingo, 7 de abril de 2024

Lembrança da Olaria


Moringue com decoração fitomórfica. Manufactura da Olaria Alfacinha, Estremoz.
 Colecção do autor.
   
A Memória do Passado
A actividade de um coleccionador não se desenrola na maioria das vezes num mar de rosas. O coleccionador navega por entre escolhos, os quais terá de ser capaz de ultrapassar, a fim de poder levar a bom porto, a missão que a si próprio atribuiu. É o que se passa comigo, enquanto coleccionador de louça de barro vermelho de Estremoz. É que a olaria local extinguiu-se há algum tempo. Foi o fecho da crónica de uma morte prevista. Todavia, ela permanece bem viva no registo quântico da minha memória.
Vale-me ser um respigador nato e usufruir da capacidade de fazer um rápido reconhecimento da infinidade de objectos que aos sábados povoam o Mercado das Velharias, em Estremoz. Valem-me ainda os vendedores que sabendo dos meus gostos, me arranjam peças sem o compromisso de eu ter de ficar com elas. Valem-me também os “olheiros” amigos, que me dão conhecimento onde é que determinada peça que me possa interessar, se encontra à venda. Por vezes, a meu pedido e como meus mandatários, compram aquilo que me interessa. E tudo isto parece muito e de facto é, mas não é tudo.
A Lei de Lavoisier
Hoje existe um vasta profusão de vendas “on line”, nas quais se podem comprar objectos, não só a vendedores profissionais, mas também a quem, por um motivo ou por outro, os pôs à venda. Algumas vezes, por necessidade de fazer dinheiro, outras para reciclar coisas que já não lhes interessam e que ao transformarem em dinheiro, lhes permitem adquirir bens ou serviços nos quais de momento estão interessados. É uma aplicação prática da Lei de Lavoisier: “Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo ser transforma“. Trata-se de um enunciado que trocado por miúdos e em português corrente, pode ser expresso assim: “O que não te interessa a ti, pode-me interessar a mim e vice-versa. Por isso, toma lá e dá cá”. Daí que os eco-militantes que negam a existência de um plano B, proclamem “Desperdício zero, já!”.
A viagem
Não estranhem pois que um exemplar da Olaria de Estremoz, residente em Beja, tenha mudado de ares e vindo até Estremoz, onde se instalou na minha casa, com direito a todas as mordomias. Bastou-lhe viajar através do serviço dos Correios, depois de eu ter ressarcido o anterior proprietário no acto de se ver livre do espécime. Tratou-se de uma viagem que não foi isenta de riscos, pois por vezes ocorrem descuidos por parte dos transportadores. Daí a necessidade de uma embalagem meticulosa e paciente, realizada com o jeito de carinhosos cuidados maternais. Foi o que aconteceu desta vez, pelo que ao abrir a embalagem normalizei a respiração, os batimentos cardíacos e a tensão arterial. O recipiente de barro estava bem de saúde e recomendava-se como vão ver.
O moringue
O viajante foi um moringue, recipiente para água com uma asa na parte superior e um gargalo em cada extremidade desta. O gargalo da extremidade mais larga destina-se a introduzir água e o da extremidade afunilada destina-se à saída da mesma. Para a beber, vira-se esta última extremidade para a boca e dá-se ao recipiente a inclinação adequada, de modo a que o esguicho que dela brota vá cair na boca do bebedor. A direcção de alinhamento dos gargalos é perpendicular à direcção de implantação da asa.
O moringue é em barro vermelho, fabrico de Estremoz, firmado pela marca incisa linear “OLARIA ALFACINHA ESTREMOZ” na superfície exterior, junto à base.
A decoração com motivos fitomórficos em alto-relevo, configura ramos de sobreiro, povoados de folhas serradas e de glandes. Trata-se de elementos decorativos, obtidos por moldagem, a que se segue uma colagem na superfície, recorrendo a barbutina.
A superfície do moringue onde assenta a decoração em relevo é lisa e nela se destacam, igualmente espaçadas, quatro faixas polidas, entre a base e o topo do bojo. Os gargalos são igualmente lisos e ostentam faixas polidas.
A asa configura um galho de sobreiro bifurcado nas duas extremidades. As bifurcações assentam no topo convexo do moringue, onde também se inserem os gargalos.
No bojo, a legenda “LEMBRANÇA / DE / ESTREMOZ “, distribuída por três filas paralelas com texto centralizado.
Significados da legenda
Trata-se de uma legenda que encerra em si múltiplos significados:  
- Em primeiro lugar que o moringue é um artefacto de barro, manufacturado em Estremoz.
- Em segundo lugar que tanto pode ter sido comprado por um forasteiro como por um autóctone para uso próprio ou para oferecer a alguém, com a mensagem expressa que é uma lembrança de Estremoz e de nenhum outro local.
- Em terceiro lugar e para além de lembrança de Estremoz é, sobretudo, uma lembrança da Olaria de Estremoz.
- Em quarto lugar, atesta a magia das mãos do oleiro que lhe deu forma, repetindo gestos ancestrais, herdados de Mestre ou de familiares ascendentes.
- Em quinto lugar, a Memória das mãos pacientes e hábeis das “polideiras” que ao decorarem a superfície, reforçaram toda a beleza que na morfologia, na volumetria e nas proporções, o moringue já ostentava em si.
- Em sexto lugar, a mensagem de que a Olaria de Estremoz é “sui generis” e por isso mesmo inconfundível.
- Em sétimo lugar, a afirmação orgulhosa de uma identidade cultural popular, local e regional, que encerra em si e é deveras notória.
- Em oitavo lugar, a lembrança de que Estremoz já foi terra de olarias, que por fatalidade ou talvez não, se extinguiram.
- Em nono lugar, a mensagem de que parafraseando o poeta João Apolinário, cantado por Luís Cília, “É preciso, imperioso e urgente” recuperar, preservar e salvaguardar a Olaria de Estremoz, como modo de produção artesanal que integra o nosso património cultural imaterial.
- Em décimo lugar, a chamada de atenção àqueles que detendo as rédeas do poder local, andam embriagados pela inclusão da manufactura dos Bonecos de Estremoz na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tornaram-se autistas em relação à Olaria de Estremoz e não revelam quaisquer sinais de estar interessados na sua recuperação. Onde é que já se viu isto? Só nesta terra. E depois ainda proclamam que “Estremoz tem mais encanto!”.
Acordai!
Nada mais adequado que evocar aqui um excerto do poema “Acordai” de José Gomes Ferreira, que musicado por Fernando Lopes Graça, constituiu, porventura, uma das mais apelativas “Canções Heróicas”, que serve para despertar consciências: “Acordai, / homens que dormis / a embalar a dor / dos silêncios vis!”.
Fala o Passado
A referência mais antiga aos barros e à Olaria de Estremoz remonta ao foral de D. Afonso III, datado de 1258, seguindo-se o foral de D. Manuel I, de 1512. Daqui para diante as referências histórico - literárias aos barros de Estremoz são múltiplas: António Caetano de Sousa (1543), Giovanni Battista Venturini (1571), Francisco de Morais (1572), Inventário de D. Joana (irmã de Filipe II), correspondência de Filipe II, Padre Carvalho (1708), Francisco da Fonseca Henriques (1726), João Baptista de Castro (1745), Duarte Nunes de Leão (1785), D. Francisco Manuel de Melo, Alexandre Brongniart (1854), Carolina Michaëlis de Vasconcellos (1925).
Os barros de Estremoz têm sido cantados por poetas como: António Sardinha, Celestino David, Maria de Santa Isabel, Guilhermina Avelar, Maria Antónia Martinez, Joaquim Vermelho, António Simões, Mateus Maçaneiro e Georgina Ferro. Mas não só os poetas eruditos têm tomado a Olaria como tema de composições. Também ao longo dos anos, os nossos poetas populares têm feito quadras e décimas que integram o valioso Cancioneiro Popular Alentejano. Não resistimos a divulgar aqui duas dessas quadras, recolhidas no início do século passado por António Tomaz Pires, de Elvas, nos seus Cantos Populares Portugueses. São quadras com um conteúdo algo jocoso. Eis uma: “Minha mãe não quer que eu case / Com homem que seja oleiro; / Mas eu faço nisso gosto, / Pois tudo é ganhar dinheiro.”. Eis a outra: “Se tens pele grossa, / Põe-lhe pós de arroz. / Que eu vou ser oleiro / Para Estremoz”.
A herança do Passado
De acordo com a Mitologia Grega, Atlas foi um dos Titãs condenado por Zeus a sustentar os céus eternamente, após o assalto gorado ao Olimpo com a finalidade de alcançar o poder supremo do Mundo. Pela nossa parte, herdámos do Passado tradições que não se podem perder, porque integram o conjunto das marcas da nossa identidade cultural popular, local e regional. Por isso, tal como Atlas, transportamos sobre os ombros uma pesada responsabilidade: a de recuperar, preservar e salvaguardar a Olaria de Estremoz. É claro que pelo cargo que ocupam, a responsabilidade de uns é maior que a de outros.

Estremoz, 18 de Outubro de 2019
(Jornal E nº 231, de 31-10-2019)

O oleiro Jerónimo Augusto da Conceição, membro do clã Alfacinha, a modelar uma
bilha. Fotografia de Artur Pastor, dos anos 40 do séc. XX.

Amélia, mulher de Jerónimo, a efectuar a decoração fitomórfica dum jarro.
Fotografia de Artur Pastor, dos anos 40 do séc. XX.

quinta-feira, 28 de março de 2024

POR SUAS PRÓPRIAS MÃOS, exposição comemorativa CINE-CLUBE DE ESTREMOZ

 



Transcrito com a devida vénia de
Produção SEM TERMO,
de 27 de Março de 2024.

Convite
Exposição comemorativa dos 70 anos da primeira exibição pública do antigo Cineclube de Estremoz (1954 -1973)
POR SUAS PRÓPRIAS MÃOS
de 2 a 20 de abril
no Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz

Por Suas Próprias Mãos é uma primeira mostra de documentos, que se inscreve num trabalho mais vasto de investigação em curso, cujo objetivo principal é dar a conhecer a atividade do Cineclube de Estremoz (1954 -1973). A exposição é composta por materiais produzidos pelo cineclube, em que o cuidado gráfico, as gravuras originais (de nomes como Aníbal Falcato Alves, António Quadros, Armando Alves, Espiga Pinto ou Rogério Ribeiro) e a qualidade dos textos, apresentados nos boletins e programas, dão conta da enorme preocupação e empenho na divulgação do cinema.

«A criação dos Cine-Clubes foi, decerto, um passo em frente no desenvolvimento da cultura geral, ver e saber, ver, bom cinema não é como poderão pensar alguns, uma especialização de menor monta: mas um verdadeiro progresso da inteligência, da imaginação e da sensibilidade. Se o desenvolvimento dos Cine-Clubes tem prestado verdadeiros serviços à causa da cultura - talvez como poucos merece louvores o CineClube de Estremoz». 
José Régio, Plateia n.º 15, 1958.

Organização 
António Júlio Rebelo e Carlos Lima

Produção SEM TERMO
em parceria com o Município de Estremoz


domingo, 24 de março de 2024

A Primavera de Joana Oliveira


Primavera de arco (2020) - Parte da frente. Joana Oliveira (1978-  ).
A Primavera constitui há muito um tema transversal a toda a poesia portuguesa. Camões, numa “Elegia” confessa: “Vi já que a Primavera, de contente, / De mil cores alegres, revestia / O monte, o rio, o campo, alegremente.”. Por sua vez, Florbela Espanca, no soneto “Amar” proclama: “Há uma Primavera em cada vida: / É preciso cantá-la assim florida, / Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!”. Já o cancioneiro popular considera que: “Primavera, linda flor / Como ela não há iguais: / Primavera volta sempre, / Mocidade não vem mais!”.
A Primavera dos pintores
A Primavera é o tema central de obras de grandes mestres da pintura universal, com destaque pessoal para Sandro Botticelli, Jacob Grimmer, Tintoretto, Christian Bernhard Rode, János Rombauer, Caude Monet, Alfons Mucha, Veloso Salgado e José Malhoa.
Os seus quadros representam a natureza, verdejante e florida, com a presença alegórica de graciosas figuras femininas, enquadradas por flores, em ramos, grinaldas ou arcos.
A Primavera dos barristas
Na barrística popular de Estremoz existem figuras designadas genericamente por “Primaveras”, que para além de constituírem uma alegoria à estação do mesmo nome, são também figuras de Entrudo e registos dos primitivos rituais vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza.
Como figuras emblemáticas que são, as Primaveras constituem um tema inescapável à modelação por qualquer barrista. Nela são variados os caminhos que se lhe deparam. Em primeiro lugar, a modelação, a qual pode ser executada na linha de continuidade dos barristas precedentes ou alternativamente num rumo que de certo modo constitui uma ruptura com aquela prática. Trata-se de uma ruptura que sem fugir aos cânones da modelação tradicional, proclama as suas próprias marcas identidárias, notórias na estética da figura criada. Em segundo lugar, a decoração desta. Aqui pode haver uma inovação na cromática tradicional que reforce a mensagem que é intrínseca ao tema, bem como a introdução de elementos de composição que reforcem a contextualização temática.         
A Primavera de Joana Oliveira
A barrista Joana Oliveira recriou recentemente a chamada “Primavera de arco”. Na sua construção seguiu o segundo dos caminhos anteriormente apontados: o da inovação. E fê-lo para dar conta do modo como vê as coisas e com a força anímica que é seu timbre.              
A Primavera nasceu-lhe das mãos e tomou forma. Cresceu como figura, emancipou-se e autonomizou-se para fazer companhia a um apaixonado incorrigível da barrística popular de Estremoz. Permitam-me que vos apresente a “Primavera” que é e será sempre de Joana Oliveira. 
É uma figura de corpo elegante, aspecto juvenil e delicado, com ar jovial, da qual irradia luminosidade e frescura.
A postura das mãos parece antecipar o levantamento dos braços para o corpo rodopiar sobre si mesmo. E aqui reside aquilo que me parece ser uma das características mais importantes da modelação de Joana Oliveira: a capacidade mágica de através de uma representação estática, sugerir uma representação cinemática. E só este pormenor, revela-nos de imediato, Joana Oliveira como uma barrista de primeira água. 
Na decoração da figura, predominam o verde e o amarelo. O primeiro é a cor da natureza viva, associada ao crescimento e à renovação. O segundo traduz a alegria e o calor humano que lhe está associado. O azul do chapéu transmite serenidade, tranquilidade e harmonia a todo o conjunto.
Gratidão
Eu queria agradecer-lhe Joana, a beleza da figura que criou.
Bem haja! 
Publicado inicialmente a 6 de Julho de 2020

Primavera de arco (2020) - Parte de trás. Joana Oliveira (1978-  ).

sexta-feira, 22 de março de 2024

Exposição ANÍBAL FALCATO ALVES




Integrada no Programa Comemorativo “50 anos em Liberdade: Comemorações do 50º aniversário da Revolução de Abril de 1974”, a Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho irá receber, de 23 de março a 2 de junho, a exposição “Aníbal Falcato Alves”.

Aníbal Falcato Alves nasceu em Estremoz, em 1921. Aos 10 anos começou a trabalhar como caixeiro, profissão que conservou durante 40 anos. Fez o curso de canteiro artístico. Em 1971, ingressou no ensino como professor de trabalhos manuais, profissão que abandonou em 1991. Autor de vasta e riquíssima obra sobre a cultura alentejana, que compreende recolhas gastronómicas e peças de artesanato em madeira e papel, realizou inúmeras exposições na região. Data de 1987 a sua primeira exposição individual, em Almada, no Grupo de Teatro Campolide; contando com mais de 30 exposições no país, entre individuais e coletivas. Fundador do Cine Clube de Estremoz, então um dos mais importantes do país, e do Círculo Cultural de Estremoz. Sócio da Sociedade de Belas Artes na altura do ressurgimento, bem como da Gravura e da Cooperativa Árvore, na sua fundação. Militante do PCP desde a década de 50, teve participação destacada na luta contra a ditadura fascista e integrou ativamente as campanhas do General Norton de Matos e Humberto Delgado. Faleceu em junho de 1994.

A inauguração decorrerá no sábado, dia 23 de março de 2024, pelas 16h00, no Museu Municipal de Estremoz.

Não perca! Visite!

Hernâni Matos

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Apresentação do livro PATRIMÓNIO AZULEJAR DE ESTREMOZ, de Elisabete Pimentel

 



Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 27 de Julho de 2021.

O Museu Berardo Estremoz irá receber, dia 9 de março de 2024, pelas 16:00 horas, o lançamento do livro "Património Azulejar de Estremoz: Capela da Rainha Santa Isabel, Capela de Nossa Senhora dos Mártires e Igreja de Nossa Senhora da Consolação", de Elisabete Pimentel, com grafismo de Rui Pimentel, publicada pelas Edições Húmus e patrocinada pelo Município de Estremoz.

A obra pretende dar a conhecer o património azulejar de alguns dos monumentos religiosos mais relevantes de Estremoz, descrevendo-os artisticamente e aprofundando o conhecimento já existente sobre os mesmos. O trabalho surge no âmbito de uma filosofia de valorização do património cultural de Estremoz, onde o conhecimento, a difusão da informação e a fruição são os grandes pilares.

Elisabete Pimentel tem formação em Letras, História, e também em Artes, Pintura e Cerâmica, área que exerceu ativamente com a criação de peças escultóricas, criação de painéis decorativos de azulejos, mas também fazendo cópias de azulejos do século XVIII. Radicada na cidade de Estremoz faz parte do Grupo Cidade – Cidadãos pela Defesa do Património de Estremoz e entendeu que era importante estudar o rico património azulejar de Estremoz, enquadrá-lo historicamente o que resultou na publicação do estudo e divulgação da “Capela da Rainha Santa Isabel, Capela de Nossa Senhora dos Mártires e Igreja de Nossa Senhora da Consolação”, considerando ser este o primeiro volume do estudo a que se propôs.

Entrada livre! Venha assistir e participar!

 Hernâni Matos

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Cristo na coluna


Cristo na coluna. José Moreira (1926-1991). Colecção particular.


A imagem devocional da figura, da autoria do barrista estremocense José Moreira (1926-1991), representa um episódio da Paixão de Cristo conhecido por flagelação de Jesus, também designado por Cristo na coluna. Trata-se de um episódio recorrente na arte cristã, sobretudo em ciclos da Paixão ou como parte dos ciclos da Vida de Cristo. O evento da flagelação[i] é mencionado em três dos quatro evangelhos canónicos: João 19:1, Marcos 14:65 e Mateus 27:26. A flagelação constituía um prelúdio comum à condenação pela crucificação sob o direito romano.
Jesus, de barba e cabelo compridos, com os pés assentes num chão pedregoso e as mãos atadas por uma corda, encontra-se amarrado a uma coluna[ii] e com o corpo vergado para a frente.
Enverga apenas uma protecção genital e ostenta por todo o corpo as marcas vermelhas da flagelação, fruto dos golpes infligidos pelos soldados romanos.
A exiguidade do vestuário de Jesus durante a flagelação e o martírio na coluna, traduz a humilhação a que os romanos o pretenderam submeter. Por sua vez, as marcas de flagelação simbolizam a humildade, o sofrimento e o sacrifício de Jesus em nome da humanidade.

BIBLIOGRAFIA
VATICAN NEWS. Os Santuários da Flagelação e da Condenação de Jesus. [Em linha]. Disponível em:
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-04/santuarios-flagelacao-condenacao-jesus.html . [Consultado em 18 de Fevereiro de 2024].
WIKIPÉDIA. Flagelação de Jesus. [Em linha]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Flagelação_de_Jesus . [Consultado em 18 de Fevereiro de 2024].
WIKIWAND. Flagelação de Jesus. [Em linha]. Disponível em:  https://www.wikiwand.com/pt/Flagelação_de_Jesus . [Consultado em 18 de Fevereiro de 2024].

 Hernâni Matos



[i] A flagelação era uma forma de suplício infringido pelos romanos, visando castigar crimes, obter confissões ou preparar execuções capitais. Para esse efeito, recorriam ao “flagelo”, chicote constituído por tiras de cabedal ou corda com pedaços de ferro nas pontas, com o qual açoitavam as vítimas.

[ii] No contexto do simbolismo e arte cristãos, a coluna é um dos “instrumentos maiores” da Paixão de Cristo. Outros são: a cruz, a coroa de espinhos, o chicote, a esponja, a lança, os pregos e o véu de Verónica. Para além destes, existem ainda outros que são considerados “instrumentos menores”. Uns e outro são vistos como armas que Jesus utilizou para derrotar Satã e são tratados como símbolos heráldicos.