terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

E depois da classificação?


Francisca de Matos (Professora)

O passado dos “Bonecos de Estremoz” conta uma história multissecular que conseguiu, apesar das dificuldades, resistir à voracidade do tempo. A sua classificação como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, permitiu aos “bonecos”, e aos artesãos que restam, ganhar o presente. Isso é certo.
Mas a atribuição desse selo, por si só, não garante o futuro da arte. Esse terá que ser assegurado através de um labor consistente – e persistente - de formação, de incentivo e de mobilização por parte dos responsáveis municipais. É que os artesãos que restam – e já não são muitos – não vão para novos. Há, pois, que avançar rapidamente com medidas concretas de apoio financeiro e logístico para que eles possam transmitir o seu saber aos mais novos, pois serão estes que um dia poderão assegurar a continuidade do figurado em barro de Estremoz. Se a classificação como Património Imaterial também garantir isto, então sim, o trabalho que verdadeiramente interessa estará feito, e bem feito.
Como de costume, no calor dos momentos que antecederam a classificação pela UNESCO foram feitas muitas promessas e ao mais alto nível da hierarquia municipal: “Questionado relativamente ao que mudaria no município de Estremoz, se o Figurado em Barro entrasse para a Lista Representativa, Luís Mourinha aponta a “visão” do município, em termos de “patrocínios de várias atividades”; “Seria igualmente priorizada, como “obrigação do município” a construção de um centro “dedicado aos bonecos e ao barro”,  (Luís Mourinha, 21/11/2017, in www.radiocampanario.com). Promessas reiteradas depois dessa mesma classificação: “criação de “um equipamento” lúdico, de estudo e formação, com “permanência de pessoas que possa praticar a arte”, sendo igualmente necessário cativar os jovens para a arte.” (Luís Mourinha, 07/12/2017, in www.radiocampanario.com).
Com tantas e tão ambiciosas garantias, não restam dúvidas: as expectativas são altas, até porque os “bonecos” e os artesãos que os criaram, e criam, assim o merecem. Que o futuro nesta terra, por uma vez, não seja só “para o boneco”…

Francisca de Matos
Professora
(Texto publicado no jornal E nº 194, de 22-02-2018)


Hernâni Matos

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