quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O termómetro da Singer



No pino do Verão quando se fazia sentir a canícula, o edifício da antiga Singer no Rossio Marquês de Pombal em Estremoz, era ponto de passagem e de paragem obrigatória. É que na frontaria do rés-do-chão existia um termómetro de razoáveis dimensões, que permitia aos transeuntes avaliar a temperatura do ar. Estava ali há muito tempo. Pelo menos desde o Tempo da Outra Senhora.
Era um termómetro “SINGER SEWING MACHINES”, com dupla escala, Celsius e Fahrenheit, o qual apesar de ser um termómetro privado, prestava um serviço público.
Era um termómetro bem-pensante e que falava com as suas escalas, dizendo coisas do tipo:
- “Isto hoje é só a subir. Vão ver que vamos ter um corrupio de gente a olhar para nós!”
- “Aquele está a ler mal a temperatura. Esqueceu-se que está mais baixo e está a cometer um erro de paralaxe.”
- “Aqueles dois fizeram uma aposta. Depois de lerem a temperatura, um teve que dar uma moeda ao outro.”
- “Tomara que venha sombra. De tanto subir a temperatura estou a ficar com tonturas.”
Por vezes, as pessoas mais velhas que por ali paravam lembravam-se de pérolas do nosso adagiário, arrecadadas nas espaçosas gavetas da sua memória: “Cigarra cantou, calor chegou.”, “Ande o calor por onde andar, pelo Santo António, há-de chegar.”, “Ande por onde andar o Verão, há-de de vir no S. João.”, “No tempo quente, refresca o ventre.”, “Nem no Inverno sem capa, nem no Verão sem cabaça.”, “No amor e no calor, não metas o cobertor.”.
Hoje tudo isso acabou. Ali já não se vendem nem máquinas Singer de costura ou de tricotar, nem tão-pouco as meninas vão aprender a bordar ou a tricotar, que as virtudes que é suposto devam ter, já não são estas.
Do termómetro apenas resta o sítio onde foi útil aos transeuntes desde o Tempo da Outra Senhora.
Com o desaparecimento do termómetro da Singer, a cidade ficou mais pobre. Daí que me atreva a fazer uma sugestão. Fico à espera que na mesma zona apareça uma entidade privada com disponibilidade para comprar um termómetro de parede, de preferência Singer e o aplique na sua frontaria. Seria uma atitude louvável e que lhe traria prestígio, visto com isso prestar um serviço público. A população agradece e fica à espera.


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