quarta-feira, 16 de abril de 2014

O povo unido (2)


Transcreve-se com muito orgulho e com a devida vénia, a coluna CIDADANIA da autoria da Drª Maria do Céu Pires, publicada no nº 832, de 17 de Abril de 2014, do quinzenário estremocense  "Brados do Alentejo". (1)

Dizia no número anterior que, para além das alterações políticas, sociais e económicas e da incidência na vida quotidiana das pessoas, um dos aspectos fundamentais da revolução de abril de 74 foi o surgir do espaço público enquanto espaço de liberdade, de discussão e de participação. É curioso que, passados 40 anos uma presidente da Assembleia da República proíba os militares de abril de discursar nessa mesma assembleia…é sobretudo vergonhoso e inadmissível! 
Gostaria, hoje, de sublinhar outro aspeto que me parece fundamental e de toda a relevância no momento que vivemos. Refiro-me àquela que é a grande lição de qualquer revolução e que, claro, foi também da revolução dos cravos em Portugal: a demarcação relativamente ao discurso da inevitabilidade e do fatalismo. Quando a população saiu para a rua e se juntou aos militares mostrou a sua vontade de liberdade e o seu inconformismo com uma ditadura opressora. Ditadura contra a qual já muitos homens e muitas mulheres tinham, na sua luta, enfrentado a prisão e a tortura e mesmo a morte.
O que o 25 de abril de 74 mostrou é que, por muito degradante que seja a situação de um país, é possível mudar! Nenhuma comunidade humana está destinada à opressão e à humilhação. Estas podem e devem ser banidas. Hoje, quando um povo inteiro baixa os braços e aceita governantes incapazes, é tempo de lembrar esta verdade. A transformação é possível! Não estamos condenados a esta ausência de vida que nos querem impor!
Mas, o que também ficou mostrado em 74 é que a mudança acontece fruto da ação conjunta das pessoas, ela não é decretada nem cai como a chuva…. Precisa de ser construída, precisa de mãos e de cérebros, de vontades e de sonhos! 
Por tudo isto, celebrar abril não pode ser um ato mecânico e repetitivo de palavras ocas e sem sentido, não pode ser discurso de circunstância. Celebrar abril é voltar a ser “povo unido”, é sermos capazes de voltar a ter voz, a voz que nos andam a tirar, é voltar a ter força e dizer o que está mal, é regressar á esperança, não aceitando a “situação”. Construir novas manhãs e encher os corações de cravos vermelhos – isso é preciso! Como disse Amartya Sem, a democracia é ter voto mas é também ter voz! É essa voz que dia 25, em todo o país, tem que ser levantada! Dizendo não aos “vendilhões”! 
Temos que ser, de novo, voz unida!

(1) - A coluna está redigida de acordo com as regras do novo acordo ortográfico, que o blogue DO TEMPO DA OUTRA SENHORA não segue, mas que respeita nas transcrições que faz.

4 comentários:

  1. Que as pessoas não se esqueçam dos feitos heróicos daqueles, cuja grandeza de espírito sacrificaram as suas vidas pela liberdade e justiça.
    25 de Abril SEMPRE.

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    1. Obrigado pelo seu comentário.
      Concordo inteiramente consigo.
      Os meus melhores cumprimentos.

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  2. Bom dia caro Hernâni,
    É com prazer que partilho consigo esta carta de um Capitão de Abril, com a qual certamente muitos portugueses se identificam!
    " MATOS GOMES, UM CAPITÃO DO 25 DE ABRIL:
    "Ir à Assembleia comemorar o quê, 40 anos depois? Ter um fóssil como presidente da República; Uma tonta como presidente ...da Assembleia da República; Um barítono amador como presidente do governo da República; Um lusito da Mocidade Portuguesa como presidente da Comissão Europeia; Uma senhora do Movimento Nacional Feminino como presidente da caridade e das sopas dos pobres; Um soba movido a cachaça como presidente do governo da Madeira; Um homem invisível como presidente do BPN, a maior cloaca financeira da Europa; Um relojoeiro adamado como presidente da comissão de restauração da independência contra a troika; Um cervejeiro como presidente da televisão pública; Um funcionário do BES como presidente da comissão dos negócios do Estado; Um compère de revista de cabaret manhoso como presidente da Cultura?"
    Como foi possível nós os verdadeiros portugueses termos deixado isto chegar a este estado! O nosso futuro não pode ser o presente!
    Abraço

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